Wagner Ribeiro é o maior empresário do futebol brasileiro e dono da agência WR Sports Business ( foto: Filipe Redondo/Ag. Istoé)
O mineiro Wagner Ribeiro, atualmente o maior empresário do futebol brasileiro, tentou a sorte como jogador durante sua adolescência, mas foi fora dos gramados que marcou seu maior gol. Desde 1997, quando passou a agenciar a carreira do atacante França, ex-craque do São Paulo, Ribeiro já movimentou mais de R$ 600 milhões em transações entre clubes brasileiros e estrangeiros.
O empresário, hoje com 52 anos, já negociou a transferência de Kaká para o Milan, de Robinho para o Real Madrid e para o Manchester City e de Neymar para o Barcelona – a maior negociação da história de um atleta brasileiro.
Em entrevista à DINHEIRO, o empresário, dono da agência WR Sports Business, conta o que espera da Copa do Mundo e analisa o atual momento do futebol no País. “Enquanto o futebol é tratado no Exterior como um negócio, aqui continua sendo amador”, afirma Ribeiro. Acompanhe, a seguir, sua entrevista:
DINHEIRO – Qual é a atual situação financeira do futebol brasileiro?
WAGNER RIBEIRO – Os clubes brasileiros nunca tiveram tanto dinheiro. As cotas de televisão, pay-per-view e patrocínios nas camisas, por exemplo, aumentaram mais de cinco vezes desde 2010. O problema é que o dinheiro está sendo muito mal gerido e ainda é usado para pagar dívidas de gestões passadas. Por isso, não há um só clube brasileiro que não esteja com problemas econômicos. A maioria paga o salário na data combinada, mas os direitos de imagem (complemento no salário dos jogadores) sempre atrasam.
DINHEIRO – Mas por que, mesmo aumentando tanto a receita, os clubes não conseguem se organizar financeiramente?
RIBEIRO – Além do passivo enorme, atualmente está se pagando muito dinheiro para os padrões brasileiros. Em 2010, por exemplo, era muito difícil o ganho de um grande jogador ultrapassar os R$ 300 mil mensais, incluindo salário e uso de imagem. Hoje, praticamente todas as estrelas dos grandes times do Brasil ganham em torno de R$ 600 mil por mês. As folhas de pagamento mensais saltaram de R$ 3,5 milhões, em média, para o dobro ou o triplo. Isso em apenas quatro anos. A conta não fecha.
DINHEIRO – Contratos por produtividade, que o Palmeiras tenta colocar em prática, podem dar certo?
RIBEIRO – Dependendo de como administrarem, pode sim. Isso já é realidade no Exterior. É uma forma de os clubes se resguardarem, caso o jogador não renda aquilo que eles imaginam. Com os meus representados, só aceito produtividade nos bônus, como prêmios por gols marcados. Mas, para a parte salarial, exijo o pagamento fixo, pois dá uma segurança maior para eles. Só agora os clubes brasileiros estão percebendo isso.
DINHEIRO – Empresários, incluindo o sr., são sempre criticados por dirigentes. Essas críticas têm fundamento?
RIBEIRO – Não vou citar nomes de colegas, mas existe fundamento. Essas críticas não são gratuitas e têm histórico com algumas pessoas. Existem aqueles empresários que buscam leilão de salários, por exemplo. Também existem os contratos de opção, que os agentes usam para negociar melhores salários. Podemos citar o negócio do Alan Kardec, que envolveu Palmeiras e São Paulo nas últimas semanas. Ele estava no time B do Benfica, veio para o Palmeiras e, se não tivesse vivido um bom momento, o São Paulo nunca se interessaria em contratá-lo. Daí, ele resolveu apostar na maior proposta financeira.
DINHEIRO – Mas não há uma ética a ser seguida entre dirigentes e empresários?
RIBEIRO – Ética no futebol é utopia. Cada um está em busca dos próprios interesses. E não é apenas no Brasil que isso acontece, na Europa é muito comum.
DINHEIRO — Agora estamos entrando numa fase de cifras cada vez mais astronômicas no futebol, como é o caso envolvendo o Real Madrid, que pagou € 100 milhões pelo galês Gareth Bale. Chegamos ao limite?
RIBEIRO – Todo mundo pensava que o limite era o próprio Bale, mas hoje está se falando que o Paris Saint Germain , da França, quer pagar € 120 milhões pelo inglês Wayne Rooney, do Manchester United. Quem quiser tirar o Messi e o Neymar do Barcelona terá de pagar uma fortuna por eles. Assim como pelo Cristiano Ronaldo, por exemplo. Para clubes com receitas normais, já passou do limite faz tempo. O problema é que existem sheiks e magnatas com fortunas que não vêm do futebol e são apaixonados pelo esporte.
DINHEIRO – E por que esses biliardários estão investindo tanto no futebol?
RIBEIRO – Eles querem diversificar o próprio patrimônio. O PSG, por exemplo, que foi adquirido pelo empresário Nasser Al-Khelaifi, do Qatar, vai continuar investindo forte até ganhar a Liga dos Campeões da Europa. Mas ele sabe que não vai ter retorno do investimento se pagar € 120 milhões por um jogador.
DINHEIRO – Para eles, a indústria do futebol é um hobby?
RIBEIRO – Sim. Esses bilionários investem por diversão e até para ter o patrimônio deles vinculado à Europa. Eles têm muita grana e querem o poder ligado ao futebol. O nome do clube é o maior ativo. A Inter de Milão, da Itália, foi vendida, num momento de baixa, por
€ 300 milhões para um magnata indonésio. Além disso, esses valores não significam nada para esses investidores em termos financeiros.
DINHEIRO – Raramente os clubes conseguem diminuir suas dívidas. Ao contrário, só aumentam. Isso não preocupa?
RIBEIRO – Clubes grandes europeus, como Barcelona, Real Madrid, Manchester United e Bayern de Munique, por exemplo, possuem muito crédito nos bancos. Teve até o caso do Barcelona ue teve de pagar € 13 milhões em impostos . O clube não tinha essa quantia em caixa, mas o dinheiro apareceu no mesmo dia. Os bancos sabiam das movimentações.
DINHEIRO – Mas muitos clubes prometem salários astronômicos e não honram seus compromissos. É normal ver processos de jogadores contra antigos clubes, inclusive europeus.
RIBEIRO – No Exterior, os clubes menores estão passando por dificuldades muito por causa da crise dos últimos anos. No Brasil o problema é geral, mesmo se o País estiver bem economicamente. Aqui, os clubes vendem o jantar para pagar o almoço. Antecipam todas as cotas possíveis e se endividam cada vez mais.
DINHEIRO – A organização dos clubes brasileiros está muito aquém da dos europeus?
RIBEIRO – Não dá nem para comparar. O que aconteceu com a Portuguesa é um absurdo. Nunca um clube na Europa escalaria um jogador suspenso como aconteceu aqui. É muita falta de organização. Enquanto o futebol é tratado no Exterior como um negócio, com profissionalismo, aqui continua sendo amador.
DINHEIRO – A corrupção continua viva no futebol?
RIBEIRO – No Brasil, sim. Lá fora, é fato que muitos bilionários compram clubes de futebol para lavar dinheiro, mas não roubam. Aqui, como já disse, é mais amador. Existem pessoas que não são dirigentes por amor ao clube, mas com interesse de ganhar dinheiro. É algo que a falta de profissionalismo amplia.
DINHEIRO – Como o sr. avalia o Bom Senso F.C., iniciativa de jogadores para organizar o futebol brasileiro?
RIBEIRO – A ideia é ótima, mas esfriou muito com a transferência do Paulo André (ex-zagueiro do Corinthians) para a China. Ele era diferenciado, tinha ótimo relacionamento com os colegas. De qualquer forma, eles pediram mudanças que são necessárias há muito tempo, como maior organização na questão salarial dos jogadores e uma adaptação do calendário dos campeonatos.
DINHEIRO – O que a Copa vai trazer para o Brasil financeiramente e ao futebol?
RIBEIRO – Apesar de sabermos que os estádios foram custeados com o dinheiro do povo, eles ficaram maravilhosos. Será uma Copa bem jogada e vai aumentar o interesse das crianças pelo futebol. Teremos mais meninos querendo virar jogadores. Para o torcedor, será maravilhoso e trará um novo tipo de público para as arenas. Com todo o respeito, será mais difícil ter aquele torcedor que era visto no Maracanã, desdentado e com chinelo de dedo. Iremos para outro patamar. Como na Europa, o futebol será um evento como um teatro. O torcedor vai poder beber seu uísque, comer seu petisco e usar um banheiro decente, coisa impensável na maioria dos nossos estádios até agora.
DINHEIRO – E se o Brasil perder a Copa, o legado será o mesmo?
RIBEIRO – Pode ter uma ressaca forte. Pode diminuir ainda mais o número de espectadores nos estádios e provocar um desinteresse de empresas em investir no futebol. Podemos dizer que não, mas ainda há um trauma da Copa de 1950, quando o Brasil perdeu a final para o Uruguai. O jeito vai ser torcer muito pela Seleção, que é muito melhor do que a daquela época.
DINHEIRO – E sobre os chamados elefantes brancos? Muitos argumentam que não existirão eventos que justifiquem as construções de estádios como os de Manaus, Natal e Cuiabá.
RIBEIRO – E não haverá demanda mesmo. Não existe futebol naquelas áreas. Os campeonatos locais vão ter público que não chegará a 10% da capacidade total dos estádios. Eles terão que fazer shows, eventos políticos e religiosos para justificar as arenas. Agora, nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, isso vai até melhorar o futebol. O Maracanã é um estádio que não perde para nenhum outro no mundo. Isso atrairá ainda mais torcedores.
DINHEIRO – E como serão os seus negócios durante a Copa do Mundo?
RIBEIRO – Receberei vários dirigentes que virão assistir as suas seleções. Vamos falar de novos jogadores, transferências e potenciais negócios. Para o mercado de transação de jogadores será o momento de abrir mais portas, fazer relacionamento, fundamental para a profissão. O Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, que é um grande amigo meu, será um dos que eu chamarei para ir ao meu escritório e também para almoçar num restaurante brasileiro.
DINHEIRO – Será uma chance para descobrir novos craques?
RIBEIRO – O foco será nas reuniões mesmo. Fui às últimas Copas e trabalhei dessa forma. Mas claro que se tiver um jogador africano, por exemplo, que tenha destaque e sem empresário, vou entrar em contato. Esse é o meu trabalho.
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