Análise: entre novo esquema e velhos erros, Palmeiras desperdiça chance

Verdão fica duas vezes à frente contra o River Plate, mas deixa Uruguai com um ponto. Próximos confrontos fora de casa pela Libertadores serão mais complicados

Marcelo Oliveira orienta o time no Uruguai na noite de terça (Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação)



Marcelo Oliveira passou a semana sendo cobrado por mudanças no Palmeiras. Torcedores insatisfeitos, questionamentos em relação ao esquema tático, instabilidade no Campeonato Paulista... A estreia na Taça Libertadores trouxe as esperadas alterações. O técnico sacou Robinho e Gabriel Jesus, escalou o Verdão com três volantes, mas viu a equipe esbarrar em velhos erros. Falta de criatividade no meio-campo e falhas defensivas que permitiram à equipe deixar o Uruguai com apenas um (amargo) ponto após empate por 2 a 2 com o River Plate.



Em Maldonado, o Palmeiras perdeu uma ótima oportunidade. Estádio sem pressão da torcida adversária, diante de uma equipe que não passa de regular, estreante em Libertadores... Conquistar os três pontos em situações assim pode ser, e geralmente é, o diferencial na primeira fase. O esvaziado Domingo Burgueño Miguel não passou perto do que o Verdão terá pela frente no Gigante de Arroyito e no Parque Central, diante dos tradicionais Rosario Central e Nacional, respectivamente.



Em um gramado alto, que não favorecia a troca de passes, o Palmeiras encontrou na intermediária ofensiva seu primeiro obstáculo. A equipe controlava bem a posse de bola, não dava espaços ao adversário, mas esbarrava em jogadas previsíveis de Dudu e Erik – este, na vaga de Gabriel Jesus, limitava-se a apostar na velocidade pelo lado esquerdo e cortes para o meio, facilmente desarmados pela defesa uruguaia.



Palmeiras começou o jogo com mudança tática promovida por Marcelo Oliveira: Erik e Thiago Santos foram escalados



O River Plate deixou evidente a própria estratégia desde o primeiro minuto: lançamentos longos, partindo do setor defensivo e buscando a velocidade do jovem Nicolás Schiappacasse, de apenas 17 anos pela esquerda e do colombiano César Taján pela direita. Bem protegida por Thiago Santos, a defesa palmeirense não encontrou dificuldades para neutralizar ambos nas antecipações. Michael Santos, principal aposta uruguaia, mal pegava na bola.



Com tempo para trabalhar a bola, o Verdão chegou ao gol aplicando justamente o que Marcelo Oliveira havia proposto com o esquema tático composto por três volantes e Dudu na armação. Thiago Santos, dedicado fundamentalmente à marcação, roubou a bola no meio-campo. Dudu, como armador, a carregou até dar passe preciso para Jean. Infiltrado na defesa, o volante teve apenas o trabalho de tocar na saída do goleiro.



Primeiro gol do Palmeiras surgiu das mudanças táticas: da roubada de bola à infiltração



Ciente de que o Palmeiras não jogava bem apesar da vantagem, Marcelo Oliveira voltou para o segundo tempo com Gabriel Jesus na vaga de Erik, buscando maior aproximação entre os setores. Tão trabalhada na pré-temporada e nos primeiros treinos do ano, a compactação não funcionava, e a equipe não tinha criatividade para trabalhar a bola.



Se os tão temidos apagões defensivos não haviam aparecido na etapa inicial, bastaram cinco minutos da metade final da partida para novamente aterrorizarem o Palmeiras. Em tabela rápida, Schiappacasse aproveitou o espaço que Lucas e Roger Carvalho deram no setor direito da defesa e acabou derrubado por Fernando Prass. Cobrança convertida por Michael Santos: no primeiro vacilo da zaga, gol do River Plate.



Deve-se admitir que o poder de reação alviverde, tão notado na Copa do Brasil do ano passado, teve a assinatura de Marcelo Oliveira. Em mais um contra-ataque desconstruído por Thiago Santos, Zé Roberto cruzou para Alecsandro empurrar, de primeira, com o peito, para Gabriel Jesus desempatar. O experiente atacante, bicampeão da Libertadores, entrara dois minutos antes, na vaga de um pouco procurado Lucas Barrios.



Palmeiras após as alterações: Alecsandro entrou bem na vaga de Barrios, e Gabriel Jesus aumentou criatividade



Na contramão das reações rápidas estava o nervosismo da equipe alviverde. Dos cinco jogadores de defesa do Palmeiras, o único que não recebeu o cartão amarelo foi Vitor Hugo. Fernando Prass, Lucas, Roger Carvalho e Zé Roberto foram advertidos. Como o próprio Marcelo Oliveira avaliou após o jogo, as jogadas do River Plate se resumiam a passes longos e à bola parada – tipo de jogada que assombra o Verdão desde o ano passado.



Gol de Jesus teve assistência de Alecsandro, que havia acabado de entrar (Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação)



O escanteio concluído por Montelongo, que sequer precisou sair do chão para cabecear à queima-roupa e dar números finais à partida, mais pareceu um replay para o torcedor palmeirense. Lance que os adversários estão se acostumando a aproveitar como principal ponto fraco alviverde. A única diferença em relação ao gol sofrido diante do São Bento, há exatamente duas semanas, é que Éder concluiu no segundo pau, enquanto o jogador do River Plate apareceu na primeira trave ). Entre olhares paralisados de Jean e Alecsandro.



O clássico contra o Santos, no próximo sábado, às 17h (horário de Brasília), é uma faca de dois gumes para Marcelo Oliveira. Voltar a vencer e convencer dará fôlego para a sequência do Campeonato Paulista e um alento para o próximo (e muito mais complicado) compromisso pela Libertadores – dia 2 de março, contra o Rosario Central, em casa. Perder e chegar a cinco partidas sem vencer, diante de uma torcida já indisposta com o técnico... A semana será longa e repleta de ansiedade, da arquibancada à diretoria.