Fla-Flu, política e intolerância. Uma lição palestrina

21/3/2016 16:18

Fla-Flu, política e intolerância. Uma lição palestrina

Fla-Flu, política e intolerância. Uma lição palestrina

Ontem foi um domingo especial. Foi dia de Fla-Flu, disputado extraordinariamente no charmoso Pacaembu, estádio público da zona oeste da capital paulista. A última vez que os dois times se enfrentaram em São Paulo foi há 74 anos, em 1942, ano em que o Palestra Italia teve que mudar de nome por conta da intolerância dos seus adversários, animada pela Segunda Guerra Mundial.



Fla x Flu é uma expressão popular do vocabulário nacional. Indica não apenas o clássico de dois grandes times cariocas. Indica também a polarização de duas grandes forças, que batem de frente com intensidade. A expressão é usada para apontar que uma discussão perdeu completamente a moderação. Os apaixonados por cada time, cegos para argumentos racionais, querem apenas ganhar o jogo. Qualquer matiz, nuance, sutileza de um debate fla-flu é apagada. Afinal, esta é a dinâmica do futebol. É preciso extrair um vencedor. O melhor, o que leva a Copa pra casa.



Outra expressão popular diz que "gosto não se discute". E que futebol, política e religião, também não. As expressões são imprecisas, contudo. Querem dizer, na verdade, que nenhum posicionamento ou crença pode ser desrespeitado, não que certos assuntos não devem ser discutidos.



Vivendo em sociedade, o futebol nos ensina desde cedo alguns princípios da tolerância. Ainda pequenos, aprendemos a conviver com o amiguinho torcedor do time rival na escola. Crescemos aprendendo a sacanear e ser sacaneado. A interpretar certas coisas como brincadeiras que devem ser respondidas com outras brincadeiras, quando a oportunidade permitir. A ignorar completamente a loucura dos que não sabem conversar e não tem o mínimo de vocabulário no assunto. Cem anos de Derby e outros clássicos históricos do futebol brasileiro nos permitiram amadurecer estes códigos.



A democracia não tem os mesmos 100 anos de Derby. É mais jovem que todos os grandes clubes nacionais e, talvez por isso, a sociedade ainda não tenha amadurecido os conflitos de ideias políticas, nem saiba processá-los pacificamente. Mas foi neste final de semana, diante de manifestações políticas de pessoas com camisas ou faixas de nossos times, que vi gente de todos as cores ideológicas (e times) perderem completamente a razão. Alguns, indo ao limite da incitação à violência contra amigos de clube e de arquibancada.



Voltamos ao ano de 1942, em que o Fla-Flu no Pacaembú terminou 0x0 debaixo de muita chuva. Naquele ano, a escalada de conflitos mundiais e de intolerância matava. Todos conhecem a história do nazismo e do holocausto (ainda que alguns tenham a pachorra de negá-la). O que nem todos sabem é que no meio dessa guerra, no mesmo ano de 1942, um clube brasileiro de origem italiana chamado Palestra Italia teve que abrir mão da sua identidade para continuar a existir. Afetado pela insanidade humana que não admite o outro e que reverberava desde o Velho Continente, o Palestra teve que mudar de nome e suprimir uma cor (o vermelho) de sua bandeira e camisa. Qualquer referência à Itália estava proibida. Essa história é até hoje motivo de orgulho para nossa torcida. E deveria ser também para a imensa colônia italiana que habita São Paulo e outros cantos do Brasil. O Palmeiras nasceu campeão, soube ser brasileiro com diz seu hino, e resistiu. Dolorido, preservou o que foi possível da sua identidade, blindando-se da forma que pôde contra a intolerância e a escalada de ânimos de um período específico da sociedade.



Nossa torcida (e todas as outras) deveria(m) inspirar-se no exemplo palestrino para buscar a moderação, seja para discutir o País, para enriquecer o debate sobre a gestão Paulo Nobre, empobrecido de qualquer nuance entre "predadores" e "nobretes" (nomes pelos quais os radicais de lado a lado se tratam), ou qualquer outra gestão do futebol brasileiro.



Precisamos impedir o patrulhamento de ideias, seja qual forem suas cores. Precisamos abrir e reabrir o diálogo, não incentivar a violência.



Dia 13 de março passado, Antonio Prata escreveu em sua coluna uma carta a uma leitora chamada Beatriz, algo assim: “quem dera” vivêssemos em um Fla-Flu político. Teríamos um time para torcer, em um momento em que é difícil aplaudir os jogadores de qualquer lado. Era um apelo à moderação, ao caminho do meio que enxerga que há razão e erros de todos os lados.



Vou além: quando observamos os líderes das organizadas paulistas abrindo mão de suas diferenças para debater melhorias em conjunto e desacirrar os ânimos, é porque a expressão popular envelheceu rápido demais, de uma só vez. O debate futebolístico entre um corinthiano e um palmeirense parece mais sereno e viável do que uma conversa sobre nosso futuro político com alguém de quem discordamos. Não é possível não ver problema nenhum nesse estado das coisas. Chegou a hora de trocar de ditado. Os debates políticos, sobre futebol ou sobre o Brasil, devem ser levados um pouco mais na esportiva: aceitando as regras do jogo, disputando com lealdade e mostrando respeito ao outro time. Sem isso, ao contrário do futebol, na política não há vencedor.



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4314 visitas - Fonte: ESPN FC

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