O ex-jogador Ademir da Guia comemora seu gol com Evair, Alex e Edmundo durante Jogo festivo entre o Palmeiras de 1999 e Amigos do Alex.
Ele beijou a camisa. Não faz isso. Não acredito que ele beijou a camisa.
Essa é sempre a minha reação quando um jogador novo no elenco comemora gol assim. Depois do último jogo, virou: ele vestiu a camisa. Não faz isso. Não acredito que ele vestiu a camisa.
Representantes de campo da Sociedade Esportiva Palmeiras, ajoelhem-se diante do nosso manto e peçam perdão. Desculpem-se por não serem merecedores de vestir a nossa história. A nossa dignidade. As glórias que se transcendem por uma camisa de futebol. Culpem-se por se esconderem atrás de um título antes de entender o tamanho do nosso amor. Mal sabiam vocês que levantar a taça na nossa casa é um parágrafo muito pequeno dentro do nosso livro de histórias. Apenas um suspiro para 18 milhões de corações. Nós já vencemos a guerra. Guerra se vence na raça, pela honra, pelo amor. Características que lhes parece ausente.
Nós já tivemos o diabo que fazia o inferno em campo. Hoje, o inferno é feito pelos outros. Éramos tão malucos que ninguém seria capaz de segurar um jogador que subia no alambrado quando a emoção ultrapassava as quatro linhas. Fomos tão matadores que ninguém poderia ter mais calma e frieza ao caminhar para uma bola. Pensamos que seríamos para sempre os pais da bola. Porque, para olhar nos olhos de uma seleção, é preciso mais do que medo. É preciso respeito. Respeito que se perdeu na loteria, na chuteira colorida, no dinheiro fácil e na ostentação da vida. Felizes éramos nós quando nossos jogadores ostentavam futebol. Aquilo era futebol. Isso é várzea.
Nos desculpe, Animal, por perpetuar o seu canto durante o último ano pra um time que não tem uma representação daquilo que você era. Não temos um time de animais. Animais lutam pela sua caça, são imponentes à frente do inimigo, tornam-se fortes em meio ao perigo. De animal esse time não tem nada. Temos sido a presa garantida.
O que está chato no futebol não é a ausência da cerveja nos estádios, a falta dos mastros das bandeiras ou a fumaça colorida. O que está chato no futebol é a falta de amor à camisa. E com amor, meu amigo, não se brinca.
Esse é o time que todo mundo olha e não sabe o que fazer. Da mesma forma que olhei a página em branco e não sabia o que escrever. Faltam as palavras no mesmo tanto que falta futebol.
Iniciei no Palestra e vesti a camisa do Palmeiras, o que representa muita mais do que amor, disse uma vez um cara de mãos grandes, que tinha muito peito, futebol e alma pra jogar no Palmeiras.
Nos desculpe, Oberdan. Tem que ser merecedor. Eles não são.
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