Desapega, palmeirense: troca pode ser boa

Então é isso. Mais dois saem, mais dois chegam. Outros sairão e chegarão antes da estreia no Campeonato Brasileiro. A transitoriedade é quase esquizofrênica no futebol do Palmeiras, que reformula o elenco de seis em seis meses, hábito que mais e melhor escancara a má leitura e o mau planejamento de quem dirige o clube e tem mais dinheiro do que sabe usar.



Cuca é técnico novo no clube e tem mudanças em mente e em curso. Gareca trouxe os seus, Oswaldo e Marcelo também. Contesto esta filosofia, mas outra hora. Noite de terça-feira, a surpresa: Robinho e Lucas limpam suas prateleiras e se vão.



A vida na rede social tem destas coisas: primeiro a gente opina, depois pensa. Antes faz algum coro, depois confere se concorda. A reação foi muito negativa entre os palmeirenses. No primeiro momento, eu achei boa a troca.



Gostaria que a reação negativa fosse pela filosofia aloprada, não pelos nomes que são, na verdade, dois dos mais criticados há tempos na arquibancada. Meu reflexo positivo se deu por ver um lateral esquerdo enfim chegar, mas logo depois vieram as perguntas.



Ei-las



Robinho assinou contrato novo com o Palmeiras doze dias atrás. "Uma correção em bases já existentes", suspira o eufemismo da bola. Ora, se não era efetivamente uma renovação, por qual razão toda a imprensa noticiou, sem ser corrigida, que foi uma renovação normal, clássica, de contrato?



Posso pensar que esta "correção contratual" tem a ver com uma situação já em andamento de transferência para Minas? A partir desta resposta eu balizo uma de minhas certezas no caso: Robinho não foi chutado nem surpreendido pelo clube, mas acordou, concordou, com uma negociação que julgou boa para si.



Algo parecido vale para Lucas, capitão, inclusive, do Palmeiras em 2015. O treinador novo colocou o volante Jean ao invés de apostar nele na lateral, que até pouco tempo atrás estava cheio de moral. Tem mensagem nisso. Viu seu espaço e seu tempo de jogo diminuirem. Normal que julgue atraente uma chance noutro clube. Em péssima fase aqui, expulso de forma tola na final da Copa do Brasil, sua saída não encontrou, pelo jeito, resistência por parte do clube.



De modo que acho exagerada a reação média do torcedor e da torcedora. Robinho também está jogando pouca bola, e, até por isso, é preciso considerar que os caras talvez queiram mais é tomar um ar noutro lugar, sair daqui antes que comece um campeonato longo pelo qual eles não estão motivados.



Apesar dos aplausos da torcida, o desfecho ridículo, grotesco e constrangedor de nossa jornada na Libertadores certamente causou ressaca em alguns jogadores que passaram meses se alimentando deste sonho. Diante de tão corpulento fracasso, é natural imaginar jogadores saturados, esgotados para continuar no clube. Pode ser o caso. O jogo-chave de Cuca foi disputado em Rosário, e Robinho foi muito mal. Lucas entrou aos 44 do 2º tempo tirando remela dos olhos.



Vale dizer que Cuca, que quis esta negociação e tem argumentos táticos que sustentam o risco técnico para tal, é conhecido pelo diálogo franco com seus atletas. Se lá em cima temos um Marcelo Mattos babando pelas orelhas para negociar, emprestar, inchar, esvaziar, trazer, comprar, eu espero que Cuca tenha cuidado bem da trama do vestiário para dentro. Eram jogadores influentes no cotidiano do clube. Isto me preocupa mais do que a falta que farão em campo.



"Mas Periquitão, uma má fase não é motivo pra dispensar todo mundo". Verdade. Mas e se a gente desapegar da ideia de que aqui é o melhor lugar do mundo e entender que eles provavelmente querem sair e estão felizes com o negócio?



Três observações ligeiras



Fabrício Lelé chega para a lateral esquerda, depois de 4 meses de urgência no setor. Um pouco tarde, não? Tendo Egídio um pouco de virtude, a chegada de Fabrício pode significar, praticamente, o fim da carreira de Zé Roberto.



Fabiano não vai revolucionar o setor direito da defesa palestrina. Talvez nos irrite bastante (a torcida do Cruzeiro, com todo respeito, não é parâmetro), talvez nem consiga ser titular, e eu ponho na mesa o nome de João Pedro. Fez uma boa final de Copa do Brasil, acaba de ganhar espaço. Cuca vai usar?



O camisa 10 do Audax, Juninho, é do Palmeiras e espera uma chance no clube há uns trinta e cinco anos. Robinho é um nome a menos na lista de meias. Será que este pode ser o reforço, ou tem que ser alguém caro em uma transação escalafobética?



E quem chega?



Vou esperar. Acho o Fabrício razoável, quase bom, e do Fabiano vi muito pouco, quase nada.



Já trocamos Edinho por Lenny, Thiago Neves por Adriano Michael Jackson, Luan por Charles, Barcos por cinco fantasmas, não estou tão pessimista assim.



Robinho e Lucas cumpriram o que tinham pra cumprir e a história lhes será generosa.