Há um ano, dia 25 de março de 2015, uma bola chutada quase do meio do campo encobriu qualquer temor relacionado aos clássicos. Depois, outras duas bolas balançaram a rede garantindo que, a partir daquele momento, a ansiedade seria pela chegada dos jogos e que o receio viria dos outros lados, não mais do nosso. O motivo? Ficaria difícil ganhar clássico de nós.
O manto pesa. A carga é tanta que sempre temos que diminuir as expectativas em relação a qualquer jogador que nunca sentiu a pressão de pisar no Palestra Italia, de representar o verde e branco como sua armadura e atender aos súditos de uma história gloriosa.
Nessa desconfiança veio um tal de Roger Guedes, que, entre comentários desanimados, parece jogar sem camisa. E leve como se mostrou em campo, parece ter o peso do Palmeiras no coração. Não no pano. Naquela monotonia da espera por toques de bolas precisos, cruzamentos perfeitos e faltas no ângulo, nosso desconfiado atacante pega a bola, dribla, avança, infiltra na defesa sem medo e ri na cara do perigo. Perigo? Do inimigo. E faz isso tão bem que se torna contagiante.
Quando notamos, nosso trio de atacantes passa a brincar de jogar bola, dar chapéus e toques olhando para trás. A torcida, em êxtase, sorri porque nada nos restou além de alegria e sonhos naquela quarta-feira de frio. A camisa ficou leve, o manto que não nos pesa porque carregamos o peso no coração deixou de pesar em campo. Em compensação, para o adversário, a imponência alviverde pesou tanto que as finalizações passaram a ter qualquer destino, mas nenhum deles era o gol. Porque mesmo se fosse, em cima da linha tem um gigante que se deve temer só de chegar na marca do pênalti.
A atmosfera estava criada e, parecendo vir da arquibancada, Gabriel Jesus comemora as roubadas de bola. Roger Guedes levanta os braços quase como quem comemora o gol antes de sair, sem dar azar, e lá está mais uma bola. Dentro do gol de um antigo arqueiro Palmeirense.
Eles se abraçam. Nós nos abraçamos. Da mesma forma como Thiago Martins puxa Vitor Hugo pela camisa, do mesmo jeito que você puxa o seu amigo na arquibancada e diz: EU TE FALEI! EU TE FALEI!
Eu sempre falei. Quando se torce para o verde, a gente sempre sabe que vem. A vitória vem. A garra também.
Então, irmão palestrino, esqueça essa tristeza de não estar nas arquibancadas da casa do adversário por alguns minutos. Fizemos deles torcedores. O que é torcida única quando a própria torcida está com a bola no pé e o manto leve?
É como tirar a camisa do Palmeiras do armário e sair na rua, basta vestir e a mágica acontece, porque todos querem fazer parte dessa historia.
Avanti Palestra, nos traga mais um domingo de festa nas arquibancadas. Ou nos gramados. Pelo menos dessa vez.
Não existe torcida única quando os torcedores estão em campo.
Estaremos com vocês.
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