Ricardo Gareca desembarcou nesta quarta-feira em São Paulo cercado por imprensa, assessores e com ares de estrela do rock
Foto: Sérgio Barzaghi / Gazeta Press
Ricardo Gareca chegou a São Paulo na última quarta-feira com ares de uma estrela do rock – o treinador inclusive já virou meme em redes sociais pela semelhança com astros. Com óculos escuros, terno preto, camisa branca e guiado por assessores do Palmeiras, clube com o qual iria assinar durante a noite, foi cercado pela imprensa paulista, ávida por descobrir mais sobre o então provável novo comandante alviverde, um dos técnicos mais assediados da atualidade. Engana-se, contudo, quem pensa que toda a vida do argentino foi assim. O começo dela, por sinal, foi bem diferente.
Infância tranquila com paixão por futebol, Vélez e Carlos Bianchi
Nascido em 1958, o novo treinador palmeirense chega aos 58 anos completados no último dia 10 de fevereiro com bastante bagagem no currículo, seja como jogador ou como treinador. A paixão pelo futebol, esporte que lhe daria sustento pelo resto da vida, se manifestou ainda jovem. Criado no pequeno bairro de Tapiales, localizado na grande Buenos Aires, Gareca tinha uma fixação ainda jovem: sair da escola e ir jogar bola.
“Me criei na rua. Chegava do colégio e ia jogar bola”, disse certa vez o comandante argentino, de acordo com a revista digital Cabal. O começo foi inusitado: atuava como goleiro, até que um “velho” que ficava perto das peladas infantis do bairro o convenceu de que teria talento para jogar na linha.
Mal sabia o velho que a mudança seria fundamental. A partir dos 11 anos, já inspirado pelo time de coração Vélez Sarsfield com o atacante Carlos Bianchi como grande expoente – sim, o mesmo que posteriormente viraria um dos mais respeitados treinadores da América do Sul -, passou a ver que teria jeito para o futebol e foi para as categorias de base do Boca Juniors. Do gol, foi para o ataque. Do ataque, foi para o estrelato.
Atacante “rebelde”, “grevista”, “traidor”, “ídolo”, “herói”, “goleador”...
O começo como profissional no Boca Juniors, entre os anos de 1978 e 1980, foi discreto – apenas 16 jogos e três gols. Ofuscado pela equipe de craques com direito a Diego Maradona, foi emprestado para o pequenino Sarmiento. Fez sucesso e gols no novo time, o que lhe rendeu autonomia para voltar respeitado ao clube que o revelou.
A volta ao Boca em 1981 iniciou um período de ouro pela equipe argentina, mas que terminaria em pesadelo. Fez 61 gols em 114 jogos e atraiu interesse externo. Um emissário do Torino passou a assediar o atacante, que, rebelde, refutou todas as tentativas. Nas reuniões com o secretário técnico italiano, chegava a fumar. A admitida rebeldia, diz Gareca, o ajuda na relação com os jogadores comandados por ele.
“Me coloco na pele deles e penso no que eu não gostava que faziam para mim. A vantagem de ter sido jogador é ter vivido o que os garotos vivem agora”, disse o argentino certa vez ao Olé.
O jeito rebelde, contudo, fez o jogador se envolver na maior polêmica da carreira. Em 1984, o Boca vivia grande crise financeira. O eterno rival River Plate fez uma proposta superior e o atacante ficou propenso. Gareca pediu para sair do Boca, mas a diretoria não deixou.
Com salários atrasados, formou uma greve de jogadores e finalmente foi liberado para partir para o time do Monumental de Nuñes, em traição jamais perdoada pelos fãs do Boca – na primeira partida contra o ex-clube, recebeu entrada criminosa de um adversário no primeiro lance, ovacionada pelos boquenses.
Ricardo Gareca foi alvo de brincadeiras de torcedores em redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)
No River, talvez por uma maldição do rival, não teve sucesso – foram apenas quatro gols em 12 jogos. Saiu da equipe argentina para se transferir para o América de Cali, onde virou ídolo e participou de três campanhas que resultaram em vices seguidos da Libertadores. Ainda realizou o sonho de jogar no clube de infância Vélez Sarsfield por três anos e passou pelo Independiente antes de encerrar a carreira em 1994.
Pela seleção argentina, teve um momento heroico: nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986, fez gol salvador no fim do último jogo, contra o Peru, para classificar o selecionado ao Mundial. Posteriormente, a seleção de Diego Maradona se sagraria bicampeã do torneio, mas sem Gareca, que havia ficado de fora da lista final.
Treinador vitorioso e supersticioso
A carreira de treinador teve início fulminante: um anos após se aposentar, já estava à beira do campo para comandar o Talleres. A primeira campanha de destaque viria apenas em 1998-1999, com o próprio Talleres, quando levou a Série B do Campeonato Argentino e a Copa Conmebol.
Após o bom momento, passou a rodar por várias equipes. Voltou a conquistar um título apenas em 2007/2008, com o Universitário – levou o Apertura do Peruano. No ano seguinte, foi para o Vélez, clube no qual fez sucesso absoluto. Clausura de 2009 e 2011, Inicial de 2012 e a Super Final de 2012/13 foram algumas das conquistas do treinador argentino, que ainda levou o time ao terceiro lugar da Libertadores de 2011.
As equipes comandadas por Gareca mostram, normalmente, padrão tático que começa com uma defesa bem armada. Um dos grandes exemplos são os confrontos contra o Santos pela Libertadores de 2012, nos quais o grupo treinado pelo argentino parou a estrela Neymar na partida de ida e volta, mas acabou eliminada nos pênaltis.
Os títulos conquistados por Gareca passam bastante pela superstição. O novo treinador palmeirense carrega consigo vários "tiques" para buscar vitórias. Um deles, contudo, terá que ser urgentemente modificado: o argentino não gosta da cor verde, pois acredita que ela traz má sorte. Em um duelo com o Vélez contra o Peñarol, proibiu cores verdes no ônibus e no hotel dos argentinos. No Palmeiras, será uma dificuldade a ser lidada entre tantas, como a crise financeira do time paulista.
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