Zoff e a defesa que mudou a história do futebol brasileiro

A falta na lateral da área, que seria cobrada pelo ponta Éder, era nossa última chance naquele jogo. O cruzamento perfeito caiu na cabeça do zagueiro Oscar, que acertou uma forte cabeçada, à queima-roupa, em direção ao gol.



Muitos já comemoravam, quando o goleiro italiano, Zoff, saltou e fez uma grande defesa, a bola ainda escapou de suas mãos, mas, antes que ela cruzasse a linha fatal, ele a segurou firme.



Não tinha mais jeito, a fantástica seleção montada pelo técnico Telê Santana, com craques como Zico, Falcão, Sócrates, Cerezo e Júnior, estava eliminada da Copa do Mundo de 1982, ao perder por 3 a 2 para os italianos – o empate classificaria o Brasil para as semifinais.



No exato momento em que o capitão italiano se levantou com a bola nas mãos, foi criada um geração de brasileiros que passaram a defender a tese de que jogar bonito é sinônimo de derrota.



A incrível defesa de Zoff ainda faz muitos brasileiros torcerem contra times que jogam ofensivamente, fazendo surgir comentários como “na hora que precisar, esse time vai negar fogo” e não são poucos os que chamam os jogadores habilidosos de pipoqueiros.



Na ânsia de menosprezar que joga bonito, já há aqui uma geração de torcedores que vibram com um bicão de um zagueiro para as arquibancadas e comemoram um carrinho dado como se fosse um golaço.



Do mesmo molde também foi criada a expressão “nó tático”, que é usada quando um técnico retranqueiro – geralmente chamado exageradamente de estrategista –impede algum time que tenta jogar ofensivamente.



A ode ao futebol de resultados também tenta suprimir os talentos. Para muitos, a seleção que conquistou a Copa de 1994 é o melhor exemplo de equipe que não foi brilhante, mas conquistou um Mundial. Porém, todos se esquecem que o time de Parreira só foi campeão graças ao talento de sua dupla de ataque formada por Bebeto e Romário.



O time do penta também só venceu a Copa do Mundo de 2002 porque contava com três grandes jogadores: Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.



Infelizmente, para não dar crédito ao futebol técnico e bonito dos alemães, muitos defensores do “futebol de resultados” preferem dizer que foi apenas um “apagão” e que não temos nada a aprender com que aconteceu no Mineirão em 2014.



34 anos após a derrota, Zoff e o milagre realizado para defender a cabeçada de Oscar não só evitou a conquista da Copa de Espanha. Aquela defesa criou uma geração de profissionais que só fez nosso futebol recuar e perder espaço.



Desde 5 de julho de 1982, o Brasil foi deixando, aos poucos, de ser o protagonista para se transformar em mero coadjuvante no futebol mundial - o que acontece agora.