O desafio mais importante do ano para o Palmeiras

Zé Roberto pode ser decisivo para um time que precisará de equilíbrio mental para continuar a jornada



Como em todo ciclo de aprendizado e aperfeiçoamento, chega um momento em que passamos a nos sentir confiantes demais e quebramos a cara. Como aquele garoto que, ao montar uma bicicleta, tira as mãos do guidão para se esborrachar na calçada.



O Palmeiras se esborrachou duas vezes. A primeira com um péssimo resultado contra um concorrente direto, em casa: deixamos o Atlético-MG se aproximar do grupo dos quatro e reduzir a distância direta para nós para apenas 6 pontos (agora, após mais uma rodada, são 3). Foi aquele tombo que dói, mas não machuca, porque parece um acidente natural do percurso, ao qual todos estão sujeitos.



Recolhemos os cacos e juntamos as energias, pois logo teríamos a chance de reafirmar que viemos brigar pelo título. Bastava buscar uma vitória fora de casa (como se fosse simples) contra um combalido Botafogo, cuja campanha é, com boa vontade, medíocre. Mas, ao invés da redenção, experimentamos uma queda ainda mais dura e a perda da liderança, libertando todos os traumas do passado e acendendo mil luzes de alerta e desespero na cabeça do torcedor. O fantasma maior, aquele que precisaremos enfrentar de frente para expurgar, aquele vivenciado no inexplicável Brasileirão de 2009.



Ao esborrachar-se no chão, muita gente desanima, começa a buscar culpados ou a apresentar uma visão fatalista do que está se passando. Na sua versão palestrino-futebolística, essas pessoas apontam que o Palmeiras não tem solução, está fadado ao fracasso. Na sua versão política, estão a argumentar que nosso País não presta, nem nunca prestará. Olhe ao seu redor e verá: há milhares deles por aí, destilando seu pessimismo de plantão e uma visão dos fatos que nos leva a crer que é melhor desistir que lutar contra o inevitável.



É neste ponto que, em uma empreitada coletiva como o futebol, um ambiente de grupo se deteriora e inicia-se a busca por culpados. É nesse momento também que os grupos ou indivíduos que possuem humildade e um foco absoluto em continuar melhorando conseguem se destacar da multidão, não raras vezes liderando os demais.



Esse é o momento que o Palmeiras vive. Um momento que não define muita coisa em si, pois todo mundo se esborracha - e perde pontos - de vez em quando. Mas que pode definir muito mais pelo aspecto psicológico: nos deixaremos abater e optaremos por parar de lutar, ou vamos morder com toda a força do mundo aquilo que temos ao nosso alcance na busca de uma condição um pouco melhor?



Quando Cuca chegou, o Palmeiras experimentou um imenso crescimento de produção dentro de campo. Foram-se embora os chutões e ficou nítida a busca por um melhor toque de bola, pela velocidade e profundidade dos atacantes abertos e pelas penetrações de Gabriel Jesus. Todos se encantaram com nossa imensa evolução, dos torcedores à mídia esportiva. Foi assim também ano passado, com a sequência de vitórias sob o comando de Marcelo Oliveira, até que veio a oscilação fatal para as pretensões de quem busca um título brasileiro por pontos corridos.



A oscilação que vivemos agora (e que outros times, como o Galo, também viverão) pode ser o choque de realidade que precisamos para calibrar a equipe, encontrar alternativas para a ausência de Jesus e recuperar o fundamental para vencer: o espírito de luta, o foco e a atenção de quem tem certeza que a vitória só virá com muito suor. Pode ser também a água no chopp que desmotiva e nos relega à mediocridade, o estopim que desencadeia conflitos no grupo e o pessimismo nas bancadas.



Diante da oscilação, é um destes caminhos que o elenco palestrino terá que tomar. Criaremos uma crise interna e aquele jogador que fica no banco começará a reclamar, ou fecharemos questão em torno de brigar com toda humildade do mundo, 3 pontos de cada vez, até o final do ano?



Da mesma maneira, é essa a decisão que os milhões de corações palmeirenses precisarão enfrentar. E esta talvez seja a que mais me preocupa, por contaminar o grupo para o bem ou para o mal. Lotaremos as arquibancadas de aflição ou de incentivo contra o Vitória no próximo domingo?



Espero com muito otimismo que o elenco encontre a força positiva para resgatar as vitórias, tanto dentro quanto fora de campo. Que um líder nato como Zé Roberto saiba espalhar esse sentimento de união e “foco na missão” entre os atletas. Que Cuca saiba canalizar a energia dos jogadores para uma volta por cima. Que todos lutem por Fernando Prass. Temos qualidade suficiente para buscar esse caneco, mesmo com perda de nosso goleiro e a ausência temporária de Jesus.



Nas arquibancadas, que estejamos blindados contra o pessimismo e o fatalismo que muitas vezes nos assola em tantos campos da vida. Eu sei bem de que lado quero estar. Do lado dos que agarram com força o que temos nas mãos - e não é pouco - e lutam com tudo o que tem por algo melhor. É o único jeito de expurgar nossos fantasmas.