Paulo de Almeida Nobre guarda com carinho em sua sala, na Academia de Futebol, recordações dos 13 meses de mandato.
– Tudo que está aqui ganhei neste período na presidência – conta.
Flâmulas de clubes internacionais, fotos, enfeites e os mais diversos objetos em verde e branco remetem a alguma lembrança de Nobre. Meses que começaram com um time rebaixado. Nesta quinta-feira, às 19h30, contra a Portuguesa no Pacaembu, a luta é outra: seguir como um dos melhores do Paulistão.
– Eu brinco que presidir o Palmeiras não é matar um leão por dia, é matar um zoológico por dia. Não é fácil – comentou Nobre, ao receber o LANCE!Net, antes do Carnaval.
Há vários desafios pela frente dentro do “zoológico”: impasse com a WTorre, definição do patrocinador master, busca por novos sócios-torcedores, renovação de Alan Kardec e Wesley e outros assuntos abordados nesta entrevista. Confira:
LANCE!Net: Qual foi o seu maior acerto e o maior erro até agora?
É difícil avaliar qual foi o maior acerto e qual foi o maior erro sendo que estou no olho do furacão. Quem está fora consegue avaliar com muito mais facilidade e clareza. Posso falar que a minha maior satisfação na presidência, o fator mais positivo entre os positivos da gestão, foi o resgate da auto-estima do palmeirense e da auto-confiança do elenco. Isso foi fundamental para tudo o que está acontecendo. As pessoas imaginam que eu fosse falar do caos da parte financeira, da bagunça da parte administrativa, mas não. A auto-estima, auto-confiança e força de um time vêm de dentro para fora. Se os outros te acharem o máximo, mas você não se achar, não vai! O palmeirense voltou a sonhar que ele pode ser campeão, sem se surpreender com o título. Hoje, o Palmeiras é um grupo que acredita que pode ser campeão. O ponto mais negativo: eu não gostaria que um dirigente tivesse ajudado financeiramente o Palmeiras. Acho que o Palmeiras teria de ter andado com as próprias pernas. Infelizmente, foi uma necessidade para a roda não parar de rodar. Mas isso era totalmente contrário às ideias do meu plano de governo. Eu tenho que fazer um mea-culpa, porque é uma coisa que eu não planejava, mas infelizmente aconteceu. Nós vamos chegar lá, e o Palmeiras vai se tornar auto-suficiente.
L!Net: Dá para garantir que você não colocará dinheiro do seu bolso outra vez para ajudar o Palmeiras?
Isso é um pouco de exercício de futurologia. Prefiro não arriscar a te afirmar nem um lado, nem o outro. Quando você faz um orçamento, você planeja algumas fontes de receitas. É planejamento, não é certeza absoluta. Se elas não acontecerem, você vai ter que arrumar dinheiro de algum lado. A ideia não é acontecer mais. O que posso garantir: a roda do Palmeiras não vai parar de rodar.
L!Net: Dos mais de R$ 75 milhões que você emprestou ao clube, você pegou algo de volta?
O assunto financeiro do Palmeiras é muito interno. Entendo perfeitamente que vocês tenham as fontes de vocês, mas eu, como presidente, quero que vocês me entendam que eu tenho de fazer a força contrária por ser um assunto muito interno. Entendo a sua pergunta, mas não discuto esses números na imprensa.
L!Net: Essa foi a decisão mais difícil a ser tomada. Se não, qual foi?
Tudo é complicado (risos). É difícil falar qual foi a mais complicada que tomei. Houve várias decisões muito difíceis, várias decisões difíceis, várias decisões moderadas e várias decisões fáceis. São quatro estações do ano no mesmo dia tranquilamente.
L!Net: A decisão de fazer contratos por produtividade se mostra correta?
No nosso conceito, esse é o futuro do Palmeiras pelo menos. Eu não tenho a menor pretensão de tentar resolver os problemas do futebol brasileiro. Eu presido hoje um dos maiores clubes do mundo, que tem os problemas os quais estamos tentando solucioná-los dentro da nossa realidade. Produtividade ainda é uma semente que precisa ser cuidada e regada para se tornar uma árvore um dia. O passo já foi dado e nós estamos muito seguros desse caminho.
L!Net: Quase um ano sem patrocínio não é muito tempo para o clube?
Dado o custo do futebol, te diria que um mês sem patrocínio master faz diferença, ainda mais um ano. Eu sou sempre um otimista. Nosso marketing trabalha incessantemente não só pelo patrocínio, como para vender outras propriedades da camisa e também para alavancar outras fontes de receitas. O dinheiro pode vir de tudo quanto é lugar, não só pelo patrocínio master. Mais dia ou menos dia nós vamos ter o patrocinador master, mas isso não resolve todos os problemas do clube. Isso é um dos passos da maratona do que seria o equacionamento financeiro.
L!Net: A Caixa está perto de fechar?
Eu sei que tem algumas pessoas interessadas em patrocinar o Palmeiras. Da mesma maneira que eu não falo de jogador, não falo de empresa que estamos conversando.
L!Net: O Palmeiras já conseguiu as CNDs necessárias para um acordo como esse?
Está em vias de (conseguir).
L!Net: O que você pensa de patrocínio de empresa pública no clube?
A empresa tem que ver o que é melhor para o marketing dela. Ela tem isso para fazer, comprar espaço na televisão, fazer todo tipo de marketing que qualquer empresa privada faz. Ela quer crescer e aumentar seus lucros também. O patrocínio de futebol é mais uma maneira de fazer marketing. Vamos dividir. Sobre a ajuda de dinheiro público às instituições de uma maneira geral para pagar impostos: sou a favor, com uma ressalva muito clara - não se pode brincar com o dinheiro público. Porém, no Brasil, o futebol é praticamente uma religião. Ele tem um papel social muito grande. Só que uma vez que o dinheiro público venha ajudar os clubes que estão com problemas com impostos, precisa vir junto com um caderno de encargos e obrigações que o clube tem que seguir. A irresponsabilidade dos dirigentes no Brasil é um absurdo, porque o período de mandato é pequeno, as pessoas querem se eternizar no poder, então fazem loucuras, agem de uma maneira extremamente populista e quem paga a conta são as administrações futuras. Clube tem de perder ponto, ser rebaixado, dirigente tem de responder com seu patrimônio pessoal, pois não pode ficar brincando com dinheiro público.
L!Net: O orçamento de 2014 prevê patrocínio master a partir de março. O prazo será cumprido?
O tempo vai responder.
L!Net: Explique um contrato de produtividade por metas feito neste ano.
O atleta ganha um salário fixo CLT, uma parte fixa de imagem e há uma parte variável que é em relação a quantos jogos ele acaba fazendo no ano. A produtividade é relação aos jogos que ele começa jogando ou entra do banco, já que são situações diferentes. Outras coisas são metas, o que seria quase que um bicho estipulado contratualmente. Vamos devagar. Estamos iniciando esse processo. É um conceito novo no futebol. Nós montamos esse time praticamente de graça, à exceção do Leandro que foi comprado do Grêmio. Quando você começa a conversar com os clubes oferecendo nada para ter os jogadores deles, eles esperam para ver se alguém faz uma proposta melhor. A dúvida do procurador ou do jogador é natural, porque é o salário, o ganha-pão do atleta. Mas não tem nenhum “passa-moleque” num contrato de produtividade. O combinado acaba sendo maior do que se fosse só fixo, mas ele tem que produzir para receber mais. É uma coisa justa para os dois lados.
L!Net: Todos os 11 jogadores contratados em 2014 foram nesses moldes?
É filosofia do clube ter a produtividade nos contratos. Querendo ou não, encostar-se não é o perfil desse elenco. Temos um grupo em que todo mundo quer jogar, que todo mundo quer vencer, um lugar ao sol. Aqueles que já conquistaram muito querem conquistar ainda mais. Quem não conquistou ainda quer. O perfil desse grupo é muito bom, mas a produtividade ajuda ainda mais. Estou muito seguro que é o caminho certo. Estou muito satisfeito.
L!Net: Como você avalia a saída do Henrique, que era o capitão do time?
Eu como presidente e torcedor fico muito agradecido por todo o empenho que ele demonstrou no Palmeiras. É um jogador que já estava chegando perto dos 30 anos, caro. Ao Conselho Deliberativo havia chegado que ele tinha sido contratado de graça, o que na verdade significava uma luva gigantesca que não havia sido paga, uma luva muito maior para o empresário que o trouxe. Foi uma oportunidade muito boa que apareceu para o Palmeiras (vendê-lo). Boa para o jogador e também para o clube. Uma venda interessante para ambas as partes. Não vem mais ao caso ficar comentando coisas que acontecem no futebol. O que importa é que ele está super bem, o Palmeiras também está bem. Tomara que seja convocado e ajude o Brasil.
L!Net: Sobre a briga com a WTorre, a arbitragem não era algo evitável?
Não sei te dizer. Isso é um caso que tem de ser muito mais avaliado pelo departamento jurídico do clube.
L!Net: Como a arbitragem pode atrapalhar na utilização do estádio?
Isso não está definido ainda, não sei dizer. Eu estaria dando um chute se eu te falasse como vai acontecer o processo da arbitragem e o estádio.
L!Net: A WTorre diz que entrega o estádio em junho. Você confia nisso?
Não faço prazo, porque isso foge completamente ao nosso controle. Só digo o seguinte: é muito importante o Palmeiras ter arena, é muito importante o Palmeiras voltar a jogar em casa, mas o Palmeiras é muito maior do que absolutamente tudo. Acho muito importante essa relação se iniciar de uma maneira sadia, porque será uma relação de 30 anos, do que nós ficarmos com pressa para ter a arena no ano do centenário. Ou seja, da mesma maneira que o Palmeiras não vai ser refém do centenário, não vai ser refém da arena mesmo. É a nossa casa, vamos sempre defender os nossos interesses e direitos daquilo que foi combinado. Agora, se não ficar pronta no ano de 2014, não tem problema. O que importa é que o trabalho seja bem executado e que essa relação se inicie de uma maneira sadia. É fundamental para o Palmeiras a receita que nós planejamos com essa arena. Nem acredito e nem desacredito (em prazos dados pela WTorre). Não entendo nada de engenharia e não posso palpitar. Me perguntam se tem operários suficientes, se a obra está em ritmo bom ou não. Não tenho a menor ideia.
L!Net: O palmeirense pode não ter a arena no centenário?
O palmeirense pode não ter a arena no ano do centenário do clube. Seria triste. Eu, que sou o representante do clube por estar presidente, ficaria muito chateado. Mas como dirigente tenho que ter a responsabilidade de saber o que é mais importante para o clube. Esse assunto tem que estar bem discutido do que ter pressa e vaidade de inaugurar a arena na minha gestão. Eu não tenho a menor vaidade. Gostaria muito, sou palmeirense e quero ver o Palmeiras em casa, mas não tenho a vaidade de inaugurar na minha gestão. É totalmente inócua a pressão para termos o estádio no centenário. O que importa é ela ficar bem feita, nós sermos muito felizes quando jogarmos lá, como nós vamos ser.
L!Net: Você já comprou camarote?
Sim, já comprei o meu.
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