Últimos minutos de jogo. O placar de 2 a 2 eliminava o Palmeiras e colocava o Flamengo nas semifinais da Copa do Brasil de 1999.
No estádio Palestra Italia, os torcedores cantavam, mas já começavam a aceitar a eliminação. Para evitar a queda em casa, eram necessários dois gols. E, na base do sufoco, o Verdão começou a pressionar e apostar nas jogadas aéreas.
Com ótimos cabeceadores, o time comandado por Luiz Felipe Scolari foi com tudo para o ataque. Mas, o grande herói da virada palmeirense, considerada até hoje como uma das partidas mais emocionantes da história do clube, não foi Oséas, Evair, Agnaldo, Roque Júnior ou qualquer grandalhão do Verdão.
Coube ao atacante Euller marcar duas vezes de cabeça, fazer o estádio explodir em festa e colocar o dia 21 de maio de 1999 na história do futebol.
– Aí é que está o segredo. Eu sempre treinei muito jogadas de cabeça. E a defesa adversária não se preocupa muito com os baixinhos. Quando eles viam eu já estava comemorando (risos) – brinca o ex-atacante.
Depois de perder por 2 a 1 no Rio de Janeiro, o Palmeiras voltou para São Paulo precisando vencer por 1 a 0 para avançar. Mas um gol de Rodrigo Mendes na primeira etapa mudou tudo.
Oséas até empatou no início do segundo tempo, mas novamente Rodrigo Mendes deixou os rubro-negros em grande vantagem. Para avançar, o time alviverde, que enfrentava maratona decisiva no Campeonato Paulista e na Taça Libertadores da América, precisaria de uma vantagem de dois gols.
Júnior empatou no minuto seguinte ao segundo gol rubro-negro, mas a empolgação palmeirense foi diminuindo aos poucos. O Flamengo de Romário dominava o duelo.
Até que os donos da casa resolveram dar um último suspiro. Ou dois. Após cobranças de escanteio da esquerda, Euller aproveitou bate e rebate dentro da grande área para, de cabeça, fazer história no antigo estádio Palestra Italia.
Euller comemoração Palmeiras 1999 Copa do Brasil (Foto: Arquivo / Agência Estado)
CARREIRA DE TÍTULOS
Aposentado, o ex-atacante ainda guarda na memória as lembranças daquela vitória. Em praticamente três anos de clube, entre 1997 e 2000 (ele teve uma rápida passagem pelo futebol japonês no período), ele ainda guarda com carinho alguns dos 115 jogos com a camisa do Palmeiras.
– Os dois jogos contra o Corinthians (na Libertadores) tiveram um gosto especial também, assim como um jogo em que marquei quatro gols contra o Fluminense e a final do Torneio Rio-São Paulo de 2000. Mas essa partida contra o Flamengo está marcada na história do futebol brasileiro. Os outros estão na história do clube também – afirmou.
Pelo Verdão, Euller bateu na trave em 1997, na campanha que deu ao clube o vice-campeonato brasileiro. Com a chegada de Paulo Nunes e outros reforços para o setor ofensivo, o atacante se transferiu para o Verdy Kawasaki, do Japão, em 1998. Mas, um pedido de Felipão o fez retornar ao Palmeiras, em 1999.
– Eu lembro que recebi uma proposta para ir para o Palmeiras. Conversei com o Felipão pelo telefone, ele me disse que o projeto era ganhar a Libertadores e que contava comigo. Acertei e fui para o clube almejando esse título. Acabou dando tudo certo – conta.
– Fui para o Palmeiras sabendo que precisaria buscar o meu espaço. Quando eu cheguei, em 1997, eu era titular, mas depois o clube contratou outros jogadores importantes para esse projeto da Libertadores. Eu sabia da minha condição e como poderia ajudar – completa.
VIRADA MOTIVACIONAL
Cesar Sampaio e Zinho comemoram virada contra o Flamengo, em 99 (Foto: Arquivo / Agência Estado)
Luiz Felipe Scolari sempre foi conhecido por saber motivar os jogadores. Tanto que o grupo palmeirense ficou conhecido como "Família Scolari" durante a campanha da conquista da Taça Libertadores da América de 1999.
Apesar de ser reserva, Euller tinha grande participação na formação principal do Palmeiras. Era sempre ele o escolhido para entrar no segundo tempo e, com sua velocidade, animar o ataque alviverde. Além do importante papel dentro de campo, o atacante contagiou o grupo com os dois gols contra o Flamengo.
– Aquele jogo contra o Flamengo na Copa do Brasil serviu como motivação para o time. A partir daquela partida foi montado um vídeo para a sequência da Libertadores.
Em todos os jogos nós tínhamos uma TV no vestiário mostrando os lances da virada com o hino do Palmeiras de fundo, ressaltando a importância de acreditar e confiar até o fim. Aquilo inflamava todos nós. Mesmo os mais experientes sentiam – recorda.
– Era um time que tinha muito união. O grupo contava com jogadores experientes e consagrados, mas todos tinham o mesmo pensamento e sabiam da responsabilidade. Todos faziam parte de um projeto. As coisas deram certo e continuaram – completa.
Em Belo Horizonte, Euller mantém ligação com o Verdão até os dias de hoje e sempre é reconhecido pelos torcedores nas ruas. O carinho dos palmeirenses com ele é algo que emociona o ex-atacante.
– É motivo de muito orgulho e satisfação esse carinho porque tudo o que o jogador quer é o reconhecimento de ter feito o melhor pelo clube. A satisfação é grande ainda mais por ter feito isso em um clube como o Palmeiras. Por onde eu ando que tenha palmeirense eu sou lembrado – comemora.
Em pé: Marcos, Arce, Rogério, Roque Júnior, César Sampaio e Agnaldo. Agachados: Paulo Nunes, Oséas, Alex, Zinho e Júnior. Euller entrou na segunda etapa no lugar do paraguaio Arce (Foto: Arquivo / Agência Estado)
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