Orgulhosa pelo centenário do Palmeiras, Etelvina exibe foto do pai Luigi Cervo (imagem no alto da página)
Dos quase 100 anos da Sociedade Esportiva Palmeiras, Etelvina Luzia Cervo viveu 92. Moradora de um residencial de idosos em São Paulo, a filha de Luigi Cervo, mentor da criação do Palestra Itália, se diz emocionada pela chance de homenagear o pai nos dias que antecedem o centenário do clube.
Fã de futebol, o italiano Luigi Cervo era sócio do extinto Sport Club Internacional-SP e também participava da Sociedade Dramática e Recreativa Bella Estrella, da qual saiu ao lado de alguns companheiros após um incidente disposto a iniciar uma nova instituição.
Funcionário das Indústrias Matarazzo, Cervo disseminou o projeto entre os conhecidos e usou o jornal Fanfulla, voltado à numerosa colônia italiana em São Paulo, para ampliar a divulgação. Vicente Ragognetti, Luigi Marzo e Ezequiel Simone aderiram à ideia de montar um clube para representar os imigrantes.
Por sugestão de Cervo, a agremiação fundada em 26 de agosto de 1914 adotou o nome de Palestra Itália. Ele ainda foi importante para afiliar o clube à Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea), organizadora do Estadual, e para manter a entidade viva durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
“Fico emocionada por ver o centenário. Estou com 92 anos e poderia ter falecido antes, mas tive a chance de chegar bem de saúde para prestar uma homenagem ao clube e ao papai. O Palestra foi o grande ideal do meu pai. Nem sempre a gente consegue realizar os próprios sonhos na vida, mas ele conseguiu”, disse Lilly, como prefere ser chamada.
A herdeira de Luigi Cervo teve três filhos, sete netos e três bisnetos. Atualmente, vive no residencial de idosos mantido por um conceituado hospital paulistano, dividida entre atividades físicas e culturais. Nos finais de semana, visita os familiares. Com lucidez e memória invejáveis, ela fala orgulhosa sobre a trajetória de Luigi.
Dona Lilly, como prefere ser chamada, ao lado da filha Valéria (são-paulina) e da neta Juliana (palmeirista)Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press
“Ele ficou bem chateado e questionou muito essa obrigação, falando que o nome Palestra não tinha nada a ver com a Itália (a palavra é de origem grega).
Até meu irmão, chamado Eduardo Domenico, teve que mudar para Domingos. Imagina, que absurdo. Aconteceram muitas coisas ruins nessa época”, lembra Lilly.
Etelvina era admiradora da pinta de galã de Oberdan Cattani, um dos principais ídolos da história do clube, mas, ironicamente, casou com um corintiano. Nos anos 1950, Luigi Cervo, já no final de sua vida, precisou conceder a mão da filha justamente a um torcedor do arquirrival.
“Quando meu marido me pediu em casamento, o papai respondeu: ‘Você é um ótimo rapaz, mas tem um defeito. Vou te dar a mão da minha filha, desde que você não brigue com ela’. Meu marido aceitou e disse: ‘O único que não posso prometer é mudar de time’”, lembrou, sorrindo.
Em 1993, Lilly comemorou o final da fila palmeirense, mas lamentou o falecimento do marido. “Ele me pedia para ouvir os jogos com o volume do rádio bem baixinho e não gostava que eu comemorasse os gols do Palmeiras. Quando o Corinthians perdeu (a final do Campeonato Paulista), ele disse que não queria mais viver, e acabou morrendo naquele mesmo ano”, contou.
Em 2009, na gestão de Luiz Gonzaga Belluzzo como presidente, a filha do mentor do Palestra Itália visitou o Palmeiras. No próximo dia 26 de agosto, ela deve participar da festa oficial pelo centenário do clube, a ser realizada em uma casa de shows da capital paulista.
“A visita de 2009 foi muito legal. O Belluzzo tinha uma admiração muito grande pelo meu pai e fizeram uma bela homenagem. O Palmeiras é o amor da minha vida. Sou palmeirista roxa!”, disse Lilly, usando o termo pelo qual os torcedores do clube eram chamados antigamente.
A maioria dos descendentes diretos de Luigi Cervo hoje torce pelo São Paulo. Aos 92 anos, a filha do mentor da criação do Palestra Itália conta com uma de suas netas, Juliana, 22 anos, estudante de administração, para manter a tradição alviverde da família.
“Depois de tantos anos, acho que o papai não imaginava que o Palmeiras teria a projeção que tem hoje, embora o clube já estivesse firme quando ele morreu. O time não vive uma boa fase agora, mas se Deus quiser vai melhorar depois que fizer 100 anos”, apostou a filha de Luigi Cervo, otimista.
Filha do fundador posa com mascote do clube.Foto Djalma Vassão/Gazeta Press
17256 visitas - Fonte: Gazeta de Noticias