Belluzzo acredita que política é o grande problema do Palmeiras
"A política é a praga do Palmeiras". Essa é a análise de Luiz Gonzaga Belluzzo, economista respeitado internacionalmente, e presidente do Palmeiras entre 2009 e o início de 2011. Ele recebeu a reportagem do ESPN.com.br em sua casa nesta segunda-feira, em Pinheiros, São Paulo, para uma conversa sobre vários temas. Como o centenário do clube, a polêmica com o árbitro Carlos Eugênio Simon, a contratação do meio-campista Valdívia, a negociação com Ronaldinho Gaúcho e até o contrato com a WTorre, parceira do time alviverde na construção do estádio.
Sobre a nova Arena a ser inaugurada em outubro, por exemplo, Belluzzo rebateu a declaração de Nobre à Revista Placar - ele disse que o que foi assinado com a WTorre não foi o combinado com o Conselho. "Isso é mentira! É mentira deslavada. Uma desculpa safada! Ele era vice-presidente quando foi assinado e eu era diretor de planejamento. Ele não pode dizer isso, pois teve todo acesso possível ao contrato. É uma mentira deslavada", declarou o ex-presidente.
O economista apontou a política como o grande mal do Palmeiras nos últimos anos, com chacais - "tem um ditado que diz que depois dos lobos vêm os chacais" -, deslealdade e traição. "É a praga do Palmeiras. A forma como a política é feita lá. Não dá. Sério. É um negócio que nenhuma pessoa sã repetiria outra tentativa de ocupar algum cargo lá. Comecei a assistir episódios de deslealdade, traição, e você começa a ter rejeição por esse tipo de comportamento", apontou.
"São sempre os mesmos. Fulano de tal, ciclano, não largam o osso. Larguem! Deixem o clube ir para a frente, se já fez algo de bom ao clube largue, não fiquem lá reinvidicando e lembrando, acho isso péssimo. Uma falta de espírito coletivo terrível. Não quero me meter na política do Palmeiras por essas razões e não me interessa nem um pouco entrar na política do Palmeiras", continuou.
Luiz Gonzaga Belluzzo também não mostrou nenhum arrependimento de, em entrevista ao Lance feita em 2009, ter detonado o ex-árbitro Carlos Eugênio Simon, depois de polêmica arbitragem contra o Fluminense em duelo pelo Brasileiro 2009. "Não me arrependo nem um pouco, pois foi um ato de desonestidade. Estávamos em plena presidência do inefável Ricardo Teixeira. Eu não tenho nenhuma dúvida. Tenho sinais de coisas que aquilo foi arranjado para impedir que o Fluminense caísse. Não tenho nenhum arrependimento. Acho ele uma figura deplorável", atacou o ex-presidente.
Belluzzo vai apoiar Pescarmona na eleição
Confira, a seguir, entrevista de Belluzzo ao ESPN.com.br
ESPN - Três anos e meio depois de sair da presidência do Palmeiras, tem algum arrependimento?
Belluzzo - Arrependimento nenhum. Tenho avaliação crítica da minha gestão. Deixei de fazer certas coisas, mas por omissão. Na verdade fui um pouco leniente com algumas coisas que acontecem no futebol, pois eu confio nas pessoas. E como confio, deixei que elas decidissem, e talvez tenha cometido um erro, mas não me arrependo de nada. Acho que fiz o que cabia, acho que um presidente de clube tem que ter boas preocupações. Honrar a condição de time grande do Palmeiras, não pode tratar como se fosse um time pequeno. O Palmeiras tem 15 milhões de torcedores. O maior campeão brasileiro. Então você tem que honrar essa condição de time grande. Sei que o futebol brasileiro não está vivendo momento bom, mas ainda assim tem que se empenhar para ter um time competitivo. E a segunda coisa é que você tem que cuidar do patrimônio. E palmeirenses sempre cuidaram. Tanto quando foi construído o primeiro Parque Antárctica, depois teve as instalações razoavelmente modernas, aí teve a reforma de 64 que criou o jardim suspenso até a Arena.
ESPN - Caras próximos a você, como o Savério Orlandi (então diretor de futebol), se mostraram contra o final da gestão Belluzzo. Acha que durante a gestão cometeu erros, talvez ter centralizado decisões, como a volta de Valdívia?
Belluzzo - Pelo contrário, eu nunca fui um cara centralizador. Fui o oposto. Não fui capaz de transformar as condições de governância do Palmeiras. Deleguei bastante. No caso do Valdívia e do Kleber foi decisão minha, pois tem uma hora que precisa romper com certas barreiras, e foi o que eu fiz, pois achava que a torcida do Palmeiras, se você andasse na rua, eles clamavam pela contratação do Kléber e do Valdívia. Mas isso é assim mesmo. Todo mundo é pai do sucesso no futebol e foge dos fracassos. Não acho que a contratação tenha sido um fracasso, mas não foi aquilo que as pessoas esperavam, mas eu não tinha sossego. Todo mundo me amolando que queria o Valdívia, me telefonando, e eu também queria. Acho que ele é um cara que faz diferença.
ESPN - Renovação e permanência de Diego Souza, Pierre e Cleiton Xavier, a contratação de Muricy e a contratação de Vagner Love. As três coisas juntas pareciam dar ao torcedor a certeza de levar o Palmeiras ao título em 2009, mas isso não ocorreu. Se pudesse voltar no tempo, deixaria de tomar uma destas três atitudes?
Belluzzo - Faria tudo de novo. Isso acontece. Disputamos o campeonato até a última rodada. O Palmeiras perdeu com o Botafogo e ficou fora da Libertadores. Mas resultado é uma coisa, outra coisa é o que você faz para alcançar o resultado. A opinião dos torcedores, diretores do Palmeiras era que tínhamos que ter um técnico de ponta, e foi o que fizemos. Acho que é complicado dizer que a culpa é do Muricy. Perdemos Cleiton Xavier, Maurício Ramos, Pierre, perdemos pontos para times que não podíamos. Sport, Santo André. Se ganha do Sport era campeão, mas enfim.
ESPN - Também teve um jogo com o Fluminense...
Belluzzo - Ah, sim. Que eu briguei com o juiz. Não me arrependo nem um pouco, pois foi um ato de desonestidade. Não é possível que vendo o vídeo do jogo, o replay, eu vejo várias vezes e me pergunto como ele pode ter dado falta no Obina no jogador do Fluminense? Aquilo foi inaceitável. Eu costumo ser tolerante, mas diante de um exagero tem que reagir. Eu reagi, fui condenado pela justiça do Rio Grande do Sul e paguei. E disse em uma conferência que fiz na Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, estava cheio de jornalistas esportivos, pois eu fiz o pagamento no dia anterior e estava no Sul, foi uma coincidência. Me perguntaram o que eu tinha feito e disse que achava que a honra do seu... Como é o nome dele?
ESPN - Simon.
Belluzzo - Simon... Disse que a honra dele era muito barata. Então foi isso que eu falei.
ESPN - Em entrevista ao Lance você disse coisas fortes sobre ele.
Belluzzo - Ele (Simon) causou um prejuízo enorme ao Palmeiras, fez aquilo eu acho que de forma intencional para proteger o Fluminense. Estávamos em plena presidência do inefável Ricardo Teixeira. Eu não tenho nenhuma dúvida. Tenho sinais de coisas que aquilo foi arranjado para impedir que o Fluminense caísse. Não tenho nenhum arrependimento. Fui fazer palestra no Rio Grande do Sul na Assembleia Legislativa e me perguntaram se eu me importaria com a presença dele, que era assessor da assembleia, disse que de jeito nenhum, pois não ia dar certo. Acho ele uma figura deplorável.
ESPN - Que sinais são esses que você mencionou?
Belluzzo - Não vou falar, mas também não tenho nenhuma comprovação, não tenho o hábito de falar sem prova, mas muita gente me passou informações que não sei se são verdadeiras ou não.
ESPN - Sobre a situação atual do Palmeiras, como é a sua relação com o Paulo Nobre? Antes você o apoiava, mas hoje é opositor. Por que?
Belluzzo - Apoiei na eleição contra o Tirone. Hoje não sou opositor. Não sou nada, não quero me envolver na política do Palmeiras. Essa insistência em ficar lá, sabe... Sou torcedor, sócio e conselheiro do Palmeiras, mas essa insistência em ficar lá, em repetir as coisas. As coisas que tínhamos que fazer, e espero que meu amigo Wlademir Pescarmona faça se for eleito, era promover os jovens profissionais. Os realmente qualificados e que têm interesse no clube. Um dos problemas do Palmeiras é esse 'mais do mesmo'. Sempre as mesmas caras. Não falo da idade, falo da renovação. Da oxigenação que o clube precisa ter com pessoas que ocupam cargos que não podem ocupar, pois é uma coisa ruim isso.
ESPN - Quem são?
Belluzzo - Sempre os mesmos. Fulano de tal, ciclano, não largam o osso. Larguem! Deixem o clube ir para a frente, se já fez algo de bom ao clube largue, não fiquem lá reinvidicando e lembrando, acho isso péssimo. Uma falta de espírito coletivo terrível. Não quero me meter na política do Palmeiras por essas razões e não me interessa nem um pouco entrar na política do Palmeiras. Digo isso e algumas pessoas ficam chateadas. Mas eu já passei por lá. Certo ou errado, fiz o que fiz. Tanto Parmalat quanto estádio. Tudo bem, se acham que podem fazer mais, que façam. O Palmeiras é assim, quando estava lá na época da Parmalat chegou em uma reunião de conselheiros um sujeito chegou para mim, um conselheiro de grande coturno, veio com conversa mole: 'nós temos uma empresa melhor'. Eu disse que ótimo, não sou sócio da Parmalat, se você tem uma empresa melhor então apresenta ao Palmeiras. Era cascata, não tinha nada disso. O Palmeiras é assim. Como disse outro, quando o Palmeiras ganhou a Copa do Brasil, disse que foi a primeira vez que o Palmeiras ganhou sem apoio de ninguém. Mas ganhou a Copa do Brasil e caiu. Então não dá. Francamente, vou ser chato, mas não dá para conviver com essas pessoas.
ESPN - A política é o mal do Palmeiras?
Belluzzo - É a praga do Palmeiras. A forma como a política é feita lá. Não dá, velho. Sério. É um negócio que nenhuma pessoa sã repetiria outra tentativa de ocupar algum cargo lá.
ESPN - Pescarmona seria sair de 'mais do mesmo'?
Belluzzo - Espero que sim, pois conheço ele, ele sabe, conversou bastante comigo quando era diretor e tivemos boa relação. Discutimos muito essa questão. Não adianta substituir uma pessoa por outra, tem que mudar os métodos. Não adianta inventar. O Paulo Nobre foi vítima desse processo de substituição. Teve ao meu juízo bons propósitos de fazer essa transformação, mas não conseguiu, pois esbarrou nessas amarras que o clube fez e fez alianças que são complicadas. E na verdade, coitado, está aí penando com a posição da torcida, descrédito por parte dos torcedores, eu sofri isso. Você fica imobilizado por uma série de barreiras que te impedem. É difícil, não é fácil. É como os presidentes brasileiros que são eleitos com essas coligações partidárias. Você fica imobilizado por certas alianças. Você não tem aliados, você tem chantagistas.
ESPN - O que diria ao Pescarmona para escapar dessas amarras?
Belluzzo - Ele tem que criar um conselho de apoio de gente que não frequenta o clube e tem visão mais arejada de como se deve dirigir qualquer instituição. Deve se esforçar. O Palmeiras não pode depender dos outros, tem que mudar radicalmente a forma como os clubes são organizados. Se não tiver auxílio externo para isso, uma mudança na lei, ele pode fazer isso de maneira informal. Vai encontrar resistência dentro do clube, pois ali ninguém quer perder uma posição, digamos assim. Então é isso, vai ser uma luta difícil.
ESPN - O César Maluco vai ser o vice-presidente do Pescarmona. É bom ter um ex-jogador ídolo do clube na chapa ou seria melhor alguém com mais experiência administrativa?
Belluzzo - Gosto muito dele, tenho boas relações, mas acho que ele pode ser uma figura que ajude muito o clube e nas conversas que tenho com ele vejo que não é nenhuma pessoa desinformada. Tem informação. Agora, vai ter experiência nova na vida dele. Exige disciplina, fidelidade ao projeto que ele vai aderir, então isso precisa de uma constelação de valores que são importantes para que o desempenho dele seja satisfatório. Mas gosto muito dele, ótima pessoa, palmeirense e está lá o tempo inteiro.
ESPN - É verdade que o Nobre tem fama de que não aceita conselhos?
Belluzzo - Eu tive pouco contato com o Paulo Nobre. Tive durante o período que ele foi candidato contra o Tirone, que infelizmente foi muito mal. E da segunda vez que ele concorreu eu pouco participei da eleição, dei apoio ao Décio Perin, mas pouco participei. Comecei a assistir episódios de deslealdade, traição, e você começa a ter rejeição por esse tipo de comportamento. Então estava com o pé atrás. No caso do Décio Perin foi uma coisa patética. O que aconteceu foi inacreditável, gente que estava do lado dele acabou votando no Paulo Nobre. Gente que não ajuda nada o clube a crescer. Ajudam o clube a se desfazer progressivamente, a perder a identidade. Isso não é bom. Os velhos não eram assim. Frequento o Palmeiras desde os 5 anos de idade e sei que eles cuidavam do clube, da reputação do clube, e era gente mais séria. Então fico muito assustado. Não quero generalizar, tem muita gente boa no Palmeiras, mas que não tem espaço. Em todas as correntes políticas converso com pessoas e vejo. Mas os que conduzem o baile montam essas armadilhas. Então eu acho que o Paulo Nobre chegou lá com a intenção de profissionalizar, mas não conseguiu, pois não consegue superar essas alianças.
ESPN - O que mudou dessa época dos "velhos", que você disse, para o pessoal de hoje?
Belluzzo - Eu diria que houve transição nos anos 70, em que algumas figuras começaram a avançar, a se apoderar, e transformaram o clube à sua imagem e semelhança. E isso é uma mudança importante do que era. Antigamente, por exemplo, se o Giuliano ganhasse a eleição do Facchina, por exemplo, certamente o Facchina não iria torpedear a gestão do Giuliano. Ou seja, eles sairíam para jantar juntos. Esse foi o período de mais conflito no Palmeiras. Depois, tem um ditado que diz que depois dos lobos vêm os chacais. Houve uma mudança de comportamento, de atitude, de visão. Nos relacionamentos internos do clube. Não fosse a Parmalat o Palmeiras estaria na fila há 40 anos, pois o clube perdeu a capacidade de se pensar como um clube grande. Não pode administrar o Palmeiras com uma lojinha na 25 de março, é muito grande o Palmeiras.
ESPN - Você citou a palavra "chacais". Qual seria a forma de eliminá-los?
Belluzzo - Por exemplo, os palmeirenses que têm paixão pelo clube, mas nunca se associaram. Ou que se associaram recentemente. Empresários com qualificação profissional que demoraram a virar sócios e disputar eleição para o conselho. Isso retardou uma formação. O Palmeiras tem um elenco de torcedores qualificados que se interessam ao clube, mas despertaram tarde para o Palmeiras, para a situação que o clube atravessou. Isso teria feito diferença, não adianta ficar de fora reclamando. Tem que tentar ir lá e destruir, romper esse círculo infernal de fracasso, que não faz juz à história do clube. Do maior campeão brasileiro e considerado campeão do século 20, com times formidáveis. É preciso que esse palmeirense se mobilize. Eu já acho que fiz o que deveria, bem ou mal lutei pelo clube. Tem que ir lá e disputar a eleição.
ESPN - O Nobre disse, em entrevista à Placar: "o que o Belluzzo já administrou? O que fez de sucesso para pegar um gigante como o Palmeiras? É uma pessoa que tem respeitabilidade na política, etc, no mercado financeiro não muita". Gostaria de dar uma resposta?
Belluzzo - Ele não sabe que eu criei a Unicamp, fui fundador da Unicamp, tenho uma revista, que é a Carta Capital, que inclusive sou sócio? Criei a Facamp, que é uma faculdade que hoje tem faturamento só um pouco inferior ao do Palmeiras e exige conhecimento? Ele não sabe nada. Não tem noção. Eu não sou rico, nem herdei, ele é rico por herança, tudo que eu tenho é do meu trabalho, e nunca botei nada do meu bolso que não fosse fruto do trabalho. Então se ele disse um negócio desses, ele está equivocado. Fora que fui secretário do estado duas vezes, secretário de política econômica, secretário de tecnologia, fui do conselho de várias empresas. Hoje eu sou conselheiro ainda de várias empresas, do conselho de administração, conselho da BMF (Bolsa de Mercadorias e Futuros)... A única coisa que eu não fiz foi andar de rally.
ESPN - O que achou do lance do Kardec não ter fechado por R$ 5 mil e os R$ 100 milhões emprestados ao Palmeiras pelo Nobre?
Belluzzo - Isso é típico de quem nunca administrou nada (o lance do Kardec). Não vou tocar no assunto administração dele no Palmeiras, pois nem é preciso. Deixo aos outros. No entanto, para ser justo, não acho certo colocar dinheiro no clube, mas a forma como ele administrou isso é boa para o Palmeiras, com o pagamento em 10 anos. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Não dá para dizer que está se aproveitando do Palmeiras. Isso eu não vou falar, pois não misturo esse tipo de coisa.
ESPN - O que achou dos reforços e do Gareca?
Belluzzo - Acho que ele está tentando montar um time com consistência e torço para que dê certo. Que o Palmeiras saia dessa situação e volte à zona da Libertadores. Não quero que o Nobre fracasse, não torço para que ele fracasse. Sou incapaz de fazer isso. Mesmo que quisesse, não conseguiria, torço para que ele seja bem-sucedido, independente de WTorre ou outras coisas. Acho que Cristaldo, Allione, Tobio, são bons jogadores, o Mouche nem tanto, vendo como torcedor. O Palmeiras precisa de laterais. O Vitor Luis é bom jogador, mas jovem. Na lateral direita temos uma pessoa de bom caráter, que é o Wendel, mas precisa de alguém mais da posição, pois ele é volante. Acho que nesse time aí é possível que se tenha um desempenho melhor. Não acho que seja um time para ficar nessa posição.
ESPN - As obras da Arena começaram na sua gestão. Cinco anos depois, como palmeirense, conselheiro e ex-presidente, qual a sua análise?
Belluzzo - Acho que os parceiros que a WTorre conseguiu são bons, tanto a AEG quanto a Allianz. O Palmeiras poderia, não fosse a briga com a WTorre, poderia usufruir disso de forma melhor. Eu concebi o estádio para ser um centro de receitas ao clube e ele foi construído para isso. O Walter Torre tem obsessão pela qualidade e ele se apaixonou pelo projeto. Claro que quer que seja rentável, aliás o Paulo Nobre tentou ser sócio, mas desistiu pois achou o processo ruim.
ESPN - Mas o Paulo Nobre afirmou, também em entrevista à Placar, que o contrato que foi assinado não traz exatamente o que havia sido combinado com o Conselho Administrativo.
Belluzzo - Isso é mentira! É mentira deslavada. Uma desculpa safada! Ele era vice-presidente quando foi assinado e eu era diretor de planejamento. Mas não fui eu sozinho. Foram muitas pessoas. O Mansur, o Marcelo Fonseca, o Vicente Crício, Rogério Dezembro, todos que se empenharam. Foi uma batalha dura e ele era vice-presidente. Ele não pode dizer isso, pois teve todo acesso possível ao contrato. É uma mentira deslavada.
ESPN - Por que chegou a esse imbróglio?
Belluzzo - Por que eles não percebem a natureza do contrato de uso de superfície. Quer dizer, como disse hoje um amigo meu de um banco que sou conselheiro. Aliás, sou conselheiro de banco, no entanto 'do mercado financeiro não sei nada'. É um idiota. Mas, enfim, é como esse meu amigo disse, acham que a WTorre tem que construir o estádio com seu dinheiro e deixar tudo para o Palmeiras. Por isso não me meto mais em política no clube, pois as pessoas não tem noção de nada. Eles que mandam lá não tem noção de nada. É brincadeira isso. O que havia no contrato era o seguinte: faz um investimento, ela tem espécie de concessão de administração do estádio e o Palmeiras tem direito às receitas líquidas. Não é lucro, é receita. E além disso não tem carência entre o momento que começa a operar o estádio e o recebimento das receitas pelo Palmeiras. Então o que deu confusão é que é isso. Ele resolveu se indispor com os parceiros pela discussão ridícula das cadeiras. Não tenho dúvida de que a arbitragem vai mostrar que os termos do contrato são os que estão na escritura e foram discutidos no Conselho. Não tem diferença nenhuma.
ESPN - Você pode esclarecer, afinal, o que houve no episódio Ronaldinho? Ele fechou com o Palmeiras e foi para o Flamengo? O que aconteceu, afinal?
Belluzzo - Fez isso com Grêmio, Palmeiras e Flamengo. O Palmeiras não chegou a fechar, estava tudo combinado. Escrevi uma carta aos palmeirenses na época. O que aconteceu foi que ele não cumpriu o que estava prometido, e foi o que expliquei na carta. Aí fechou com o Flamengo. Fez isso com o Grêmio. Fechou caixas de som e tudo o Grêmio. E ele foi para o Flamengo.
ESPN - Atualmente ele também foi oferecido ao Palmeiras.
Belluzzo - Se ele jogasse o que jogou no Atlético-MG na fase da Libertadores eu gostaria, desde que cumprisse direitinho o contrato. Acho que no Atlético-MG ele foi correto. Não desprezaria o Ronaldinho nessa altura do campeonato.
ESPN - O que pensa do jeito que o Assis conduziu as negociações? Se fosse presidente ainda hoje aceitaria negociar novamente com ele?
Belluzzo - O que ele fez não é nada diferente do que acontece usualmente. Não é uma coisa séria, profissional. Não vou fazer julgamentos morais, pois não cabe. Não posso colocar a minha figura à frente dos interesses do clube, pois não é minha propriedade, não é um brinquedo da qual posso dispor meu talante. Tenho que buscar o interesse do clube, isso não significa necessariamente que eu vá acertar. Não são as suas idiossincrasias que vão governar o clube. As suas manias, os seus caprichos. Um dos problemas do Palmeiras é esse, que as pessoas se acham donas. É o ego. Alguns têm o ego maior do que o seu próprio tamanho. Não acho que o clube pode ser um brinquedinho nas mãos de alguém. Infelizmente o Palmeiras foi submetido a esse processo faz tempo e parece que não vai se livrar dele tão cedo.
ESPN - Para finalizar, o que o palmeirense pode esperar do próximo centenário que está por vir?
Belluzzo - O Palmeiras tem um ativo, que se souber usar as potencialidades, pois o Palmeiras tem patrimônio maior do que tinha. A exploração é da WTorre, mas o patrimônio é do Palmeiras, e se usar bem tem um potencial enorme, independentemente de outras receitas. Não concordo um pouco com a posição que o Palmeiras ocupa nos direitos de transmissão. Não tem cabimento por diferenças mínimas. Se lutou por uma maior igualdade, não concordo, o Palmeiras tem potencial mercadológico maior que de outros clubes. A torcida do Palmeiras em geral tem nível de renda maior. Não concordo nem um pouco. O Palmeiras é grande consumidor do Pay Per View. O fato de não passar mais jogos na TV aberta decorre da condição precária do time. Eu por exemplo não perco jogo do Palmeiras, mas tem gente que não vê mais. Hoje conversei com um amigo que disse que não vê mais, por exemplo. E assim vai...
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