Leivinha, em sua residência, com camisa retrô de sua época (Foto: Reginaldo Castro)
João Leiva Campos Filho, o Leivinha, jogou entre 1971 e 1975 no Palmeiras e colecionou momentos importantes. Membro da segunda Academia, participou da vencedora temporada de 1972, em que o time ganhou cinco títulos e saiu de campo derrotado apenas cinco vezes em 80 jogos. Nada, porém, se compara à conquista do Campeonato Paulista de 1974, sobre o seu arquirrival, Corinthians.
– Foi a vitória mais importante. Contra o Corinthians, que não vencia um título há 20 anos, com o estádio cheio de corintianos, com a imprensa esperando um título deles... Só que esqueceram que do outro lado tinha um time melhor – disse o Leivinha.
A história do ex-meia, hoje aos 64 anos, com o maior rival do Verdão é curiosa. Seu pai é corintiano, e fez o filho seguir seus passos na infância. A relação começou a mudar quando, aos 15 anos, ele iniciou a carreira profissional, e depois tornou-se problemática no Palmeiras, clube que passou a torcer quando se aposentou.
Às vésperas do decisivo Dérbi de 1974, no qual fez o passe para Ronaldo marcar o gol que deu o título ao Verdão, foram feitas ameaças, que atrapalharam até a sua comemoração.
– Eu tive um assalto, levaram o meu carro. Logo depois, recuperei, mas depois recebi uma carta, duas semanas antes da final, muito mal redigida, dizendo que sabia onde eu morava e que se eu fizesse um gol contra o Corinthians eu teria um problema seríssimo. Levei a conhecimento da diretoria, falaram que foi ele que me assaltou. Tinha dois seguranças comigo na semana toda – contou o ex-jogador.
– Quando terminou o jogo, a gente foi pegar o carro que estava no Parque Antártica e não me deixaram festejar. Me levaram para a rodovia Castelo Branco e fui para Lins (SP) na casa dos meu pais para não ficar aqui – acrescentou.
(Leivinha em ação pelo Palmeiras contra o corintiano Rivelino - Foto: Acervo GazetaPress)
A pressão em cima do arquirrival era muito grande. O time não vencia títulos desde 1954 e seguiu assim até 1977. Naquela partida, o Morumbi recebeu mais de 120 mil pessoas, e a grande maioria era de corintianos. A frustração pós-jogo foi tão grande, que acabou fazendo o próprio Leivinha de vítima, ainda no estádio.
– Depois que terminou o jogo, eu estava dando entrevistas e veio uma garota na minha direção. Pensei que ela fosse pedir autografos. Só que não, ela me deu um chute na canela. Sempre brinco, enfrentei zagueiros fortissimos na minha carreira, mas essa não esperava. Como dei o passe para o gol, ela me xingou, mas juro que se fosse um homem eu ia para a reação. Como era uma mulher, só chamei a polícia – falou.
Por sua passagem no Verdão, chegou a jogar a Copa do Mundo de 1974, e depois foi com o Luis Pereira atuar no Atlético de Madri (ESP). Depois de atuar também como comentarista, o ex-atleta hoje se diz apenas um torcedor "crítico".
- Eu sou meio critico. Gosto de ver o jogo sozinho, sem a galera. Tenho as minhas opiniões, mas procuro guardar para mim - admitiu o ídolo e hoje mais um palmeirense, que fez 263 jogos pelo clube e marcou 105 gols.
BATE-BOLA: LEIVINHA
‘Fico satisfeito por ter vestido o manto sagrado’
O que representa o centenário?
É algo importante. Eu me sinto muito satisfeito de ter vestido esse manto sagrado, ter me tornado palmeirense após deixar o clube e hoje sou torcedor como outro qualquer.
A segunda Academia é o melhor time pelo qual você jogou?
Sem dúvida, o maior da minha carreira. Jamais vou me esquecer de 1972. Tem torcedores de outros times até que diz não esquecer daquela equipe. Eu me lembro perfeitamente do ataque do Santos: Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Mas a verdade é que deles só falam do ataque fabuloso. Do Palmeiras dessa época, lembram da equipe toda.
Quanto incomoda o gol anulado na final de 71, contra o São Paulo?
Foi um gol de cabeça, legítimo, que empataria o jogo. O resultado ainda era deles, mas poderia mudar a história. O Armando Marques (árbitro) era bom, mas queria ser a atração. Ele errou naquele lance. Não gostaria de perder daquela forma.
SENTIMENTO EM VERDE E BRANCO, por Leivinha:
A minha maior alegria pelo Palmeiras foi...
"Foram várias... Mas ser convocado para a Copa do Mundo (de 1974), jogando no Palmeiras. Era algo que eu queria."
A torcida do Palmeiras para mim é...
"Pessoas que sempre me apoiaram, com quem nunca tive problemas maiores."
A minha maior tristeza pelo Palmeiras foi...
"O jogo contra o São Paulo (final do Paulista de 1971). Foi triste ver meu gol, legítimo, que poderia mudar o jogo, ser anulado."
Meu jogo inesquecível no Palmeiras foi...
"Sem dúvidas foi a vitória sobre o Corinthians, na final do Campeonato Paulista de 1974. Foi o grande triunfo que a gente teve."
PALMEIRAS 1x0 CORINTHIANS
PALMEIRAS: Leão; Jair Gonçalves, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, Ronaldo e Nei. T: Oswaldo Brandão
CORINTHIANS: Buttice; Zé Maria, Brito, Ademir e Wladimir; Tião e Rivelino; Vaguinho, Lance, Zé Roberto (Ivan) e Adãozinho (Pita) T: Sylvio Pirillo
ÁRBITRO: Dulcídio Wanderley Boschilla (SP)
GOL: 24’ 2ºT Ronaldo (1-0)
DATA: 22/12/1974
COMPETIÇÃO: Campeonato Paulista / Final
LOCAL: Morumbi, em São Paulo (SP)
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