Juvenal Juvêncio, em banco em treino do São Paulo, quando ainda era presidente
O que era para ser um almoço de confraternização e homenagens entre dirigentes dos quatro grandes clubes de São Paulo acabou virando uma reunião de lavagem de roupa suja, na semana passada. Para quem esperava que a polêmica transferência de Alan Kardec para o Palmeiras fosse o ponto mais tenso da conversa, se enganou.
A principal discussão do encontro do G-4 Paulista teve Luis Paulo Rosenberg, vice do Corinthians, e Juvenal Juvêncio, ex-presidente do São Paulo, como protagonistas. O cartola tricolor, o principal homenageado da tarde, tomou um pito do dirigente alvinegro.
Tudo começou quando José Carlos Peres, diretor desse grupo que reúne os grandes paulistas, iniciou a apresentação de uma proposta de formação de uma associação parecida com essa, mas na América do Sul. Juvenal logo se indignou com a sugestão. Interrompeu o discurso do colega, questionando a ideia de levar para fora o que não existe nem mesmo dentro do Brasil, que é a união entre os clubes.
Foi a brecha que faltava para Rosenberg começar a lavagem de roupa suja, retomando um assunto um pouco velho, mas que provocou chateações e irritações tão profundas quanto a da compra e venda de Alan Kardec.
"Você é um traíra, Juvenal", disparou o ainda vice do Corinthians. E, como em um desabafo, ele emendou um discurso, recordando cada capítulo da história que resultou na decisão da cúpula alvinegra de nunca mais mandar jogos no Morumbi.
Segundo pessoas que estavam no encontro, Rosenberg lembrou que Juvenal sempre fez questão de dizer que a casa estava aberta ao rival, que o estádio era do Corinthians quando ele quisesse, mas que foi "traíra" quando diminuiu o espaço para torcedores do time do Parque São Jorge no ultimo clássico lá disputado antes da ruptura, quando apenas 10% das arquibancadas foram separadas aos corintianos, no Campeonato Paulista de 2009.
Juvenal ainda se defendeu. Disse que só mudou a porcentagem, que antes era de 50%, porque havia uma nova lei que assim determinava, mas nem isso o livrou de ouvir o pito. Rosenberg, que na época era ainda do Marketing, falou ao ex-presidente que ele poderia ter feito tudo, menos isso, e que se fosse por uma questão de lei, era o Corinthians quem tinha de avisar seus torcedores.
"Vem você querer falar de união, Juvenal? Vocês do São Paulo são todos assim. Seu novo presidente chega com o episódio do Kardec. Que união você está falando, Juvenal?", falou Rosenberg, segundo informações obtidas pela reportagem.
Mario Gobbi, atual presidente do Parque São Jorge que também estava presente no encontro, ficou nervoso durante a discussão. Deu continuidade à bronca de Rosenberg e também fez seu desabafo - ele era diretor de futebol quando tudo isso aconteceu. Andrés Sanchez, que era presidente naquele momento, também estava no almoço, mas se envolveu menos na discussão, segundo as pessoas que ali estavam.
"É verdade que isso aconteceu, foi realmente uma discussão dura", confirmou José Carlos Peres, para o ESPN.com.br, ao ser perguntado sobre as versões escutadas pela reportagem.
"Acabou que esse tema, que é mais velho do que o do Kardec, teve uma proporção maior. Mas acabou tudo bem. A nossa avaliação é que justamente por causa dessa lavagem de roupa suja esse foi o melhor encontro que fizemos até hoje. Antes, a gente se encontrava, todo mundo fingia que se amava. Dessa vez não foi assim. Falaram tudo", completou.
De acordo com a apuração da reportagem, os ânimos só se acalmaram quando o presidente do Santos, Odílio Rodrigues, fez um apelo para que se esquecesse o passado e para que aquele momento fosse um começo de um futuro de união.
"O encontro terminou bem de verdade. Para se ter uma ideia, Andrés Sanchez entregou a placa de homenagem para Juvenal. Tem algo mais simbólico do que isso?", finalizou Peres.
Depois da discussão, os clubes definiram que vão escrever um código de ética para ser seguido por todos os dirigentes, evitando problemas. O grupo será formado nos próximos dias. Estavam na reunião, além dos nomes já citados, Adalberto Baptista e Carlos Miguel Aidar, do São Paulo, e Américo Calandriello Júnior, representando o Palmeiras. Paulo Nobre não esteve presente.
O ESPN.com.br tentou ouvir Juvenal Juvêncio e Luis Paulo Rosenberg, mas eles não atenderam às ligações e não retornaram até o momento da publicação desta reportagem.
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