Velloso; Cafu, Sandro, Cléber e Júnior; Amaral, Flávio Conceição, Rivaldo Djalminha; Müller e Luizão. No banco, Vanderlei Luxemburgo. O time do Palmeiras no primeiro semestre de 1996 escreveu um dos capítulos que mais empolgaram os torcedores alviverdes na centenária história do clube.
O motivo? O futebol avassalador e o enorme poderio ofensivo de uma formação que, apesar de ter atuado pouco tempo junta, deixou grande saudade no Parque Antarctica.
Após 30 partidas no Campeonato Paulista, na época disputado em dois turnos de pontos corridos em que o campeão de cada fase se enfrentaria na decisão, o Palmeiras atropelou todos os seus adversários e evitou um confronto final. Faturou o troféu com 28 pontos de vantagem para o segundo colocado na classificação final.
O retrospecto de 27 vitórias, dois empates e apenas uma derrota chamaria atenção por representar todo o domínio alviverde na competição, mas ele ficou em segundo plano se comparado ao desempenho do ataque: 102 gols! E para relembrar todo esse festival de bolas na rede nada melhor do que conversar com um atacante, certo? Em 99,9% das equipes, sim, mas aquele Palmeiras era tão especial que fez do zagueiro Cléber praticamente um "artilheiro".
Velloso, Júnior, Sandro, Galeano, Cafu e Cleber; Luizão, Amaral, Rivaldo, Djalminha e Müller (Foto: Agência Estado)
Contratado pelo Verdão em setembro de 1993, o defensor chegou ao clube após rápida passagem pelo futebol espanhol e formou dupla histórica ao lado de Antônio Carlos nas conquistas do Brasileirão (1993 e 1994) e no Paulistão de (1994). Mas foi em 1996 que ele viveu seu melhor momento ofensivo ao marcar sete vezes no estadual.
– O time de 1996 era impressionante. Éramos dirigidos pelo Vanderlei Luxemburgo e lembro que fizemos uma pré-temporada muito interessante em Serra Negra. E, quando começamos a jogar, a equipe passou a ganhar de quatro, cinco, sete, oito, e não perdia. A cada jogo fomos conquistando esses resultados meio que inéditos pelas goleadas – recorda.
– Eu estava acostumado a fazer de vez em quando, mas aí fiz dois contra o Novorizontino, fiz dois contra o Santos na Vila Belmiro. Fugiu um pouco do normal do que eu estava acostumado. Mas até o zagueiro fazia gol naquele time, com o pé, de cabeça (risos) – completa.
JOGOS ESPECIAIS
Na trajetória do Palmeiras no Paulistão de 1996, partidas e goleadas inesquecíveis. Além de um 8 a 0 contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, o time de Luxemburgo conseguiu um 7 a 1 contra o Novorizontino e um 6 a 0 contra o Santos, na Vila Belmiro. Mas, para Cléber, dois jogos com poucos gols merecem um destaque especial na carreira do ex-jogador.
No dia 1º de maio, o Verdão entrou em campo no Canindé para enfrentar a Portuguesa. Müller abriu o placar no primeiro tempo, mas Tico deixou tudo igual antes do intervalo. Na segunda etapa, em um típico lance de camisa 10, Cléber marcou um golaço e correu para o abraço dos companheiros. Na comemoração, uma homenagem para a filha Raquel, que nasceria horas depois na capital paulista.
– Eu matei a bola no peito depois de um rebote de um chute do Flávio Conceição e peguei de primeira. Foi contra o Clemer, que era um baita de um goleiro. A equipe estava numa ascensão fantástica e tive a oportunidade de marcar um golaço para homenagear a minha filha. Saí do estádio e fui para o hospital ver a Raquel nascer. Foi uma festa completa – recorda.
Rivaldo comemora um dos seis gols do Palmeiras sobre o Santos na Vila Belmiro, em 1996 (Foto: Agência Estado)
Outra data importante naquela temporada foi o dia 6 de junho. Em pleno Parque Antarctica, contra o Santos, o Verdão chegou ao seu centésimo gol no torneio no primeiro tempo, com Luizão. Na segunda etapa, Cléber mostrou habilidade para dominar dentro da grande área e bater com estilo para fazer 2 a 0 e definir o título palmeirense.
– Não sou de lembrar muito dos gols porque eu sou zagueiro, né? Você está falando com um zagueiro (risos). Mas dos poucos gols que eu fiz, esse contra a Portuguesa e contra o Santos, que eu dominei a bola, cortei para dentro e bati consciente do que estava fazendo, são os mais marcantes – afirma.
– Aquele jogo contra o Santos, com 30, 40 mil pessoas no Parque Antarctica, resultou no título. Foi uma partida totalmente diferente para a equipe, que encarou como uma decisão mesmo. Fizemos uma festa grande depois do jogo e entramos para a história. Sou feliz da vida por ter feito aquele último gol e ter participado daquela campanha de 1996. Mas a da Portuguesa foi mais especial por tudo o que envolveu – completa.
DUROU POUCO
Líder do elenco, Cléber lamenta o fato de as equipes de 1994 e de 1996 não terem conseguido conquistar uma edição da Taça Libertadores da América. Para o ex-zagueiro, faltou planejamento ao clube para dar sequência ao time.
Em 1994, após enfrentar e empatar sem gols com o São Paulo na primeira partida das oitavas de final, o Palmeiras embarcou para uma excursão no Japão. No retorno, poucos dias após o desembarque na capital, o time de Vanderlei Luxemburgo não conseguiu parar o rival, e a derrota por 2 a 1 adiou o sonho alviverde
Cleber, ex-zagueiro do Palmeiras (Divulgação)
– Nós jogávamos a Libertadores contra o São Paulo e viajamos para o Japão, voltando faltando praticamente dois dias para o segundo jogo. Lembro que no primeiro jogo o Zetti fala que fez a melhor partida da história dele. O Palmeiras merecia ganhar de cinco, mas ele fechou o gol. Depois fomos para o Japão, voltamos e jogamos com todos os jogadores com sono. Foi mal programado – conta.
Apesar da campanha marcante no primeiro semestre de 1996, o ex-zagueira lamenta o pouco tempo que o time atuou junto. Após a derrota para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, a diretoria negociou peças importantes daquela formação e viu o time cair nas quartas de final do Campeonato Brasileiro, diante do Grêmio.
– Em 1993 e 1994 o Palmeiras tinha praticamente uma seleção. Era uma equipe realmente muito forte, mas que poderia ter conquistado outros títulos mais importantes além do Brasileirão. Não conseguimos por uma questão de programação – afirma.
– Em 1996 parece que foi um time todo programado porque deu tudo certo, mas não foi tanto assim. Foram contratações interessantes e uma grande equipe, mas que não conquistou tanto até porque durou apenas um ano.
CARREIRA VITORIOSA
Cléber Américo da Conceição nasceu em Belo Horizonte em 1969 e atuou por diversos grandes clubes do futebol brasileiro. Mas foi no Palmeiras que ele construiu grande parte da sua carreira, entre os anos de 1993 e 1999, e chegou à seleção brasileira. Com a camisa alviverde, ele disputou 372 jogos, com 212 vitórias, 92 empates, 68 derrotas e 21 gols marcados (um terço só no Campeonato Paulista de 1996).
Peça importante dos times do Verdão que marcaram época na década de 1990, o ex-zagueiro conquistou o Paulistão (1994), o Brasileirão (1993 e 1994), a Copa do Brasil (1998), a Copa Mercosul (1998) e a Libertadores (1999).
– Cada um desses títulos teve sua importância e um sabor especial porque foram com equipes diferentes – diz.
– Eu tenho como grande conquista a equipe de 1999, que começou a ser formada em 1998. Era um time com muita técnica e muita força, já dirigido pelo Scolari. Tenho a Libertadores como uma das maiores conquistas do Palmeiras e também da minha carreira – completa.
Ídolo da torcida palmeirense, Cléber conquistou os torcedores por seu estilo sério dentro de campo e seu currículo invejável. A passagem do ex-zagueiro foi tão marcante que ele recebe o carinho dos torcedores até hoje, 15 anos depois de ter deixado o clube.
Vanderlei Luxemburgo orienta o Palmeiras, em 1996 (Foto: Arquivo / Agência Estado)
– É muito mais profundo do que as pessoas imaginam. Tenho um carinho muito grande pelo Palmeiras. Minhas duas filhas nasceram em São Paulo nessa época. Fiz parte de uma equipe que entrou para história. Se você for analisar em 100 anos de Palmeiras nós conquistamos os títulos mais importantes da história do clube. E como time nós marcamos também. Claro que temos de respeitar a primeira e a segunda Academia, mas fazer parte da história de um clube centenário é motivo de muito orgulho pra mim – diz.
– Quando eu encontro com o palmeirense ele vibra. O carinho continua muito grande e isso ninguém tira. Nós marcamos uma década, uma geração que o torcedor jamais vai esquecer. Quando eu viajo eu encontro palmeirense no mundo inteiro e ele vibra. Quando alguém vem falar você percebe o tom de êxtase por tudo o que nós fizemos. O torcedor do Palmeiras é muito agradecido. Ouço que eu vesti a camisa do clube e que passei e deixei a minha marca no clube. Isso é muito gratificante. Me sinto me orgulhoso – finaliza.
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