Com 76 palavras, distribuídas ao longo de 14 versos, o maestro Antônio Sergi conseguiu emocionar diferentes gerações de torcedores do Palmeiras. O compositor do hino do clube, falecido em 2003, trabalhou na Rádio Gazeta e na Fundação Cásper Líbero, proprietária do portal Gazeta Esportiva.net.
No contexto da Segunda Guerra Mundial, o Palestra Itália, fundado em 1914 por imigrantes do país europeu e seus descendentes, acabou obrigado a mudar de nome. Em 1949, sete anos após a adoção de Sociedade Esportiva Palmeiras, a agremiação ganhou um hino.
Nascido na Itália, Antônio Sergi, conhecido também como maestro Totó, compôs a canção entoada até hoje em todas as partidas do Palmeiras. Falecido em 2003, ele era um dos músicos de maior prestígio da capital paulista e costumava frequentar a alta sociedade.
“O Antônio Sergi tocava em programas ‘ao vivo’ da Rádio Gazeta e nos bailes dos principais clubes sociais e esportivos de São Paulo. Nos anos 1950, era dono de uma das orquestras mais populares”, explicou o jornalista Henrique Nicolini, blogueiro do portal Gazeta Esportiva.net.
Fundada pelo jornalista Cásper Líbero em 1943, a Rádio Gazeta tinha o slogan “a emissora de elite”. Com uma programação cultural de nível elevado, o veículo contava com orquestra sinfônica, coral lírico, conjunto de jazz, pianistas e cantores renomados. Entre as músicas, exibia os boletins “A Gazeta Esportiva no Ar”.
Antônio Sergi, compositor do hino do Palmeiras, trabalhou na Rádio Gazeta e na Fundação Cásper Líbero
O maestro Mário Albanese, um dos criadores do ritmo jequibau, conviveu com Antônio Sergi. No programa que apresentava na TV Gazeta, transmitido em outubro de 1987, ele chegou a entrevistar o compositor do hino do Palmeiras e, como torcedor do clube, não perdeu a chance de pedir a execução da canção ao piano.
“Fizemos uma entrevista muito gostosa. O maestro Totó era uma pessoa boníssima. Eu apresentava o programa com o piano ao lado e tive a oportunidade de ouvi-lo tocar sua obra prima. No contexto do centenário do Palmeiras, é fundamental recordá-lo”, afirmou o maestro de 82 anos.
Oficialmente, o hino do Palmeiras foi assinado por Antônio Sergi (música) e Gennaro Rodrigues (letra). No entanto, o segundo nome não passa de um pseudônimo usado pelo maestro, o que chegou a causar confusão. Sem o hábito de escrever letras, ele teria preferido omitir a própria identidade.
“O Totó era italiano e talvez tivesse um certo receio de cometer algum deslize com o idioma, mas independentemente disso a música tem um poder imenso. É efetivamente a canção que preservou a tradição do Palmeiras ao longo dos anos e fará isso para sempre”, disse Albanese.
Criador do ritmo Jequibau, o maestro palmeirense Mário Albanese conheceu Antonio Sergi, compositor do hino. Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press.
Na edição de 1993 do Jantar dos Veteranos do Palmeiras, a Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp) homenageou Antônio Sergi por seus 80 anos. Então diretor da entidade, Albanese, que também é jornalista e advogado, participou do evento com Júlio Medaglia e Sílvio Mazzuca, outros maestros palestrinos.
Criador do Instituto Brasileiro de Direito Autoral, Albanese defende a valorização dos compositores. “Além do ressarcimento financeiro pelo aproveitamento de suas obras, o autor tem o direito de ser reconhecido. A questão do direito moral é importantíssima. O sujeito que fez a música precisaria ser nomeado sempre”, disse.
Ao longo dos anos, o hino composto por Antônio Sergi ganhou diferentes versões – o punk João Gordo, os roqueiros do Tihuana e o guitarrista Marcos Kleine fizeram algumas das mais conhecidas. Mário Albanese aprova as releituras, mas valoriza a canção original.
“As pessoas podem e talvez até devam fazer versões. O hino do Palmeiras tem mais de 60 anos e é interessante ver uma nova interpretação. Por outro lado, acho que precisamos preservar a canção em seu formato inicial, aquele que, de uma maneira ou de outra, identificou os ideais da agremiação em uma determinada época”, declarou.
Prestigiado, Totó chegou a ser professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Paralelamente ao trabalho como pianista, regente e compositor, atuou como médico e, no final de sua carreira, de acordo com o jornalista Henrique Nicolini, exerceu a função na Fundação Cásper Líbero.
Antônio Sergi, falecido em 2003, pôde ver a consolidação de sua composição nas arquibancadas durante os jogos do Palmeiras. Para comemorar o centenário do clube, a "torcida que canta e vibra", orgulhosa, certamente recorrerá ao hino criado pelo maestro italiano em 1949.
Maestros Mário Albanese e Antonio Sergi juntos
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