Com bom humor, ex-goleiro lembrou que poderia ter ido trabalhar na roça se não tivesse jogado no Verdão.Sergio Barzaghi/Gazeta Press
O Palmeiras não foi o primeiro clube grande paulista a receber Marcos para um teste. Revelado pelo Lençoense, o goleiro passou por um período de avaliação no Corinthians, mas não se adaptou e acabou voltando ao interior, onde seu pai falou em colocá-lo para trabalhar na roça. Pouco tempo depois, o jogador foi aprovado no Verdão e se firmou mesmo na carreira do futebol.
“Eu sabia o que me esperava se eu voltasse para o interior”, brinca. Assim, Marcos chegou ao Palmeiras em 1992, no mesmo ano em que o clube selou a vitoriosa parceria com a Parmalat, mas só virou titular perto do fim do período de investimentos. Por isso, mesmo com o destaque que ganhou pela atuação na conquista da Libertadores de 1999, o ex-goleiro se orgulha por ter confirmado sua idolatria nos anos 2000, que ficaram marcados pela política chamada de “bom e barato”.
O ex-jogador explica que, justamente por ter se acostumado a vencer na época da parceria, acabava desabafando publicamente e até cobrando os colegas nos períodos de crise. Nesta entrevista concedida à Gazeta Esportiva e à TV Gazeta, o ídolo alviverde ainda tratou com naturalidade a falha que cometeu no jogo contra o Manchester United, em 1999, e alega que não adianta mais se lamentar pelo episódio, apesar de admitir ter “chorado como um cachorro” depois da partida.
Gazeta Esportiva: Qual é a primeira lembrança que você tem do Palmeiras?
Marcos: Foi o título que perdeu para a Inter de Limeira, no Paulista de 1986. Ali, eu virei mais palmeirense. Até então, não ligava muito para futebol e não procurava saber. Eu só sabia pela minha mãe e pelo meu irmão, que ficavam em casa comentando, mas a primeira lembrança que tive foi do meu pai me zoando em 1986. Foi quando comecei a acompanhar mais o time, virando um torcedor de escutar o jogo na rádio.
Gazeta Esportiva: Como era a relação tendo a mãe palmeirense e o pai corintiano?
Marcos: O bicho pegava lá em casa, de quebrar rádio, nervoso mesmo (risos). Claro que era meu pai quem mais quebrava rádio na época, porque ele pegou a fase do Corinthians de 23 anos sem ganhar nada. Minha mãe era de família italiana, acompanhava muito futebol, e eu era mais próximo dela. Sempre tinha uma discussão lá em casa por causa da rivalidade dos dois times. Fui um moleque fora de mão e meu irmão mais próximo tem nove anos de diferença. Como ele e minha mãe eram palmeirenses, virei também.
Gazeta Esportiva: Como seu pai viu você virar palmeirense?
Marcos: Era normal, hoje há muitas famílias assim. Eu me lembro de que curtíamos muito futebol, mas era uma época de rivalidade mais sadia, de ficar bravo um com o outro, mas sem chegar à violência. Depois, tive a honra de virar jogador do Palmeiras, e todo mundo virou palmeirense. Outro irmão me cobra até hoje e fala que ele foi corintiano durante o tempo de 23 anos sem ganhar. Depois que comecei a jogar, ele diz que teve de virar palmeirense. Agora, o time não está ganhando, enquanto o Corinthians ganhou tudo. Ele fala que vou ter de pagar uma indenização (risos).
Gazeta Esportiva: Seu pai também virou palmeirense?
Marcos: Ele virou, mas, se o Palmeiras jogasse contra o Corinthians e eu não estivesse no gol, ele era corintiano, dizia que não tinha como mudar. Para fazer um corintiano torcer pelo Palmeiras alguma vez na vida só com alguém muito importante da família jogando mesmo.
Gazeta Esportiva: O que você se lembra da chegada ao Palmeiras?
Marcos: Fui fazer um teste no Corinthians, mas não era acostumado com a cidade grande e voltei embora, achando que tinha jogado a grande oportunidade da minha vida fora. Não fui um cara feito para ser jogador de futebol, até porque, na minha época, era difícil sair de uma cidade pequena para jogar. Depois, o pessoal do Lençoense trouxe um pacote de jogadores para um teste no Palmeiras. Só por ter vindo já seria um privilégio, por ser o time que eu gostava, mas passei e as coisas foram acontecendo. Logo eu estava treinando com os profissionais e, depois, fui convocado para a Seleção de juniores. Não aconteceu nada forçado. Abria uma oportunidade, e as pessoas me colocavam.
Gazeta Esportiva: Você se assustou com São Paulo quando chegou para um período de testes no Corinthians, mas por que não teve esse problema no Palmeiras?
Marcos: Quando fui para o Corinthians, nós ficávamos lá no fundo do Parque São Jorge, onde existia um alojamento. Havia muito pouca coisa para fazer e eu ficava dentro do quarto até esperar o treino do outro dia. Antes, eu tinha uma vida solta no interior, indo para a cachoeira, fazendo isso e aquilo. Quando vim para cá, pensei que não era isso que queria para minha vida. Mas, quando voltei para o interior, meu pai falou que eu teria de ir para a roça com ele. Pensei assim: “Meu Deus do céu, eu me ferrei, que troca injusta”. Mas, depois, tive a oportunidade de vir para o Palmeiras, no pacote com gente que tinha muito mais condições de passar do que eu, mas tive sorte e felicidade, porque o Lençoense me deu toda a base para chegar aqui em condições de fazer um teste de qualidade.
Mesmo depois de ter ido à Seleção, atleta achou normal quando Valdir de Moraes o colocou de novo na reserva
Gazeta Esportiva: Demorou a chance de virar titular. Você desanimou em algum momento?
Marcos: Demorou, mas eu nem ligava.
Gazeta Esportiva: Era boa a época como goleiro reserva também?
Marcos: Era muito melhor do que jogar. Dá para ficar 40 anos na reserva (risos), só não pode jogar. Eu pensava assim: “Estou ganhando dinheiro jogando bola”. Antes, eu jogava todo dia na minha cidade e não ganhava nada, e os caras ainda falavam que era vagabundo, porque só queria jogar futebol. Depois, realizei um sonho, era muito legal. E eu sabia o que me esperava se eu voltasse...
Gazeta Esportiva: A roça?
Marcos: Sim. Por isso, se os caras dissessem que tinha de dar 30 voltas no campo porque estava gordo, eu dava 32, para não ter que voltar e poder ficar aqui. As coisas foram acontecendo, fui me acostumando, fazendo amizades e foi ficando mais fácil.
Gazeta Esportiva: Você chegou a jogar em seus primeiros anos de clube, mas só teve chances melhores em 1996.
Marcos: Quando cheguei aqui, a Parmalat veio em seguida e tinha condições de contratar qualquer goleiro que quisesse. Participei de alguns jogos, que me deram condições de o pessoal pensar que tinha um terceiro goleiro bom. Havia toda aquela história de que o goleiro só ficava bom depois dos 30 e ninguém tinha a pressa de hoje em dia em colocar os caras de 17 anos para jogar. Tive bastante tempo e isso me ajudou muito, porque tive a oportunidade de trabalhar com grandes goleiros, como César, Velloso, Carlos, Gato Fernandez... Eu sempre observava o que os caras faziam para poder repetir. No final de tudo, vejo que demorei para jogar, mas, quando tive a oportunidade, estava preparado, porque tive grandes professores.
Gazeta Esportiva: Quando você teve a chance em 1996, foi até convocado para a Seleção Brasileira. Como foi voltar depois para a reserva?
Marcos: Foi natural, porque o Velloso era meu ídolo e era o momento dele ainda no clube. Só fui para a Seleção e comecei a jogar no Palmeiras porque fui eu que machuquei o Velloso. Em um treino, ele foi chutar uma bola para o gol, acertou minha canela e quebrou o dedo do pé. Ou seja, eu que dei uma atrasada na carreira dele. Com isso, joguei 14 ou 15 jogos no Brasileiro e era o goleiro menos vazado, até porque o time era muito bom, mas, quando o Velloso voltou, o seu Valdir (Joaquim de Moraes, preparador de goleiros) me colocou na reserva e eu achei a coisa mais normal. Eu tinha muito para esperar, estava tranquilo.
Gazeta Esportiva: Você ficou só mais três anos na reserva, até assumir a vaga de vez em 1999.
Marcos: Três anos para quem está treinando todo dia é tempo para caramba, mas o time estava vencendo bastante, e eu ganhava bicho na reserva, comprando uns carros (risos). Foi bem legal ter vivido naquele time do Palmeiras. Em 1998, ganhamos a Copa do Brasil e a Mercosul. Em 1999, a sorte é que deu tudo certo e, em meu campeonato de estreia, conquistamos o título.
Gazeta Esportiva: Foi a Libertadores de 1999 que mudou sua vida?
Marcos: Foi, porque era um campeonato exclusivo. O Palmeiras havia vencido o Brasileiro antes, mas a Libertadores era diferente. Houve uma época em que os brasileiros não davam tanto valor à Libertadores, tanto é que os argentinos venceram um monte. Depois que o São Paulo ganhou a Libertadores e o Mundial, todo mundo passou a querer também. O Palmeiras não tinha tanta tradição nesses campeonatos sul-americanos e ter vencido aquela edição alavancou minha carreira, principalmente por ter sido eleito o melhor da competição.
Gazeta Esportiva: Além do título, você ainda teve atuações de destaque contra o Corinthians, nas quartas de final. Esses jogos foram um marco em sua carreira?
Marcos: Palmeiras e Corinthians não tinham tradição de Libertadores e não era normal que eles se enfrentassem em uma competição diferente de Paulista e Brasileiro. Por isso, a pressão era muito grande para saber quem passaria. Nós tivemos a felicidade e a sorte, com um time bem qualificado, de passar em 1999 e também em 2000, nas duas vezes nos pênaltis, com quatro jogos bem sofridos.
Gazeta Esportiva: O que você se lembra daqueles jogos de 1999?
Marcos: O Corinthians poderia ter goleado, talvez tenha sido os melhores jogos da minha vida, principalmente o primeiro no mata-mata. Acho que o adversário atacou umas 30 vezes, mas terminou com 2 a 0 para o Palmeiras e nem nós acreditávamos, com tanto bombardeio que tomamos. Depois, no segundo jogo, eles também jogaram muito e fizeram 2 a 0, levando para os pênaltis. [O Alviverde se classificou com vitória por 4 a 2 nas cobranças. Marcos defendeu a batida de Vampeta, e Dinei chutou outra para fora]
Gazeta Esportiva: Mas, nos pênaltis, você é mais lembrado pela Libertadores de 2000?
Marcos: Falam deste pênalti do Marcelinho, mas os dois jogos foram extremamente disputados também em 2000. O mais importante do Palmeiras daquela vez foi o Galeano, que fez um gol faltando dois minutos para acabar, levando para os pênaltis. Na verdade, naquele jogo, eu só peguei a cobrança do Marcelinho. Nas partidas em si, tomamos seis gols, mas falam até hoje que virei herói por causa do pênalti, sendo que tivemos muito mais jogadores importantes ao longo dos jogos.
Defesa no pênalti de Marcelinho Carioca, na Libertadores de 2000, é o lance mais lembrado do goleiro
Gazeta Esportiva: Você dá valor aos outros jogadores também, mas o pênalti é sempre lembrado em sua carreira. Você deve até se cansar de escutar sobre a defesa no chute do Marcelinho Carioca.
Marcos: Nossa Senhora, pelo amor de Deus, só se lembram disso (risos). Mas é legal, o importante é ter um lance sendo lembrado. Encontro sempre corintianos também, que dizem o quanto choraram e sofreram naquele dia. Até brinco que só seguramos por dez anos, porque depois os caras ganharam. Hoje em dia, quando recordamos aqueles jogos, sabemos a pressão que era. O jogador entrava em campo apavorado, porque eram jogos de muita pressão.
Gazeta Esportiva: Em 1999, depois da vitória sobre o Corinthians nas quartas de final, o Palmeiras ainda derrotou o River Plate na semifinal, até chegar à decisão contra o Deportivo Cali. A final foi mais difícil do que vocês imaginavam?
Marcos: Sim, porque foi para os pênaltis. Para piorar, saímos errando uma cobrança (com Zinho), e os caras tiveram de perder duas vezes para que pudéssemos ganhar. Foi um jogo difícil.
Gazeta Esportiva: O que você se lembra de mais marcante naquele jogo?
Marcos: Da final, eu me lembro muito do pênalti para fora (cobrado por Zapata), porque caí de um lado e fiquei olhando para a bola, esperando ela bater na rede, já que eu tinha errado o lado, mas ela passou reto e acertou a placa. Saí correndo desesperado, na direção da torcida do Palmeiras. Eu tinha a intenção de pular no meio do pessoal, mas eu tive a felicidade de me lembrar de que existia um fosso e não conseguiria chegar. Parei e fiquei comemorando na frente do torcedor.
Gazeta Esportiva: O que ficou na sua memória daquela comemoração?
Marcos: Quando ganhamos o título, o Sampaio pegou a taça e a levantou, e eu ganhei um carro. Na hora em que recebi a chave, achei o máximo e fui comemorar mostrando para todo mundo. Como é que ganhava um carro de uma hora para outra? Tenho uma recordação muito boa desse título.
Gazeta Esportiva: Foram esses jogos contra o Corinthians que fizeram você virar santo para a torcida do Palmeiras?
Marcos: Não virei santo para a torcida do Palmeiras, inclusive é a única que sabe que não sou santo em nada, até porque acompanhou toda a minha carreira tanto dentro quanto fora de campo. Mas foi um apelido carinhoso que casava com meu nome, assim como o Evair era o Matador, o Edmundo era o Animal...
Gazeta Esportiva: Você tem muitas defesas marcantes, mas passou também pela falha no jogo contra o Manchester United, em 1999. Como você analisa aquele momento da carreira?
Marcos: Foi um erro que custou o Mundial de Clubes para o Palmeiras, mas quem constrói uma carreira sem errar? É muito difícil achar alguém. Depois que para, fica muita lenda para trás, mas não acredito que o Pelé nunca tenha errado um pênalti, que o Oberdan pegava todo chute com uma mão só e nunca tomou um franguinho... Acho que todo mundo fala do lance contra o Manchester porque eu trato muito bem o assunto e consigo falar, sem ficar remoendo. Até dou risada hoje em dia, mas vemos grandes ídolos que erraram em momentos importantes. Tem muito torcedor do Palmeiras que me corneta, falando que devo um Mundial, mas falo que, pelo menos, eu os levei para lá. É fácil voltar para lá, basta ganhar uma Libertadores. Estamos esperando alguém fazer alguma coisa.
Gazeta Esportiva: Você lida bem com o assunto hoje, mas como foi depois do jogo.
Marcos: Chorei como um cachorro. Pensei que iam me matar voltando para cá e que seria linchado chegando ao aeroporto, porque sabia de goleiros que erraram e foram cobrados a vida inteira. Mas foi o contrário. Quando cheguei, a torcida do Palmeiras estava me apoiando, até porque eu era novo e estava em meu primeiro ano (como titular). Esperei minha vida inteira para poder voltar para lá com o Palmeiras, para poder mudar a história, mas não teria mudado nada também. Se tivesse voltado para lá e ganhado um, ainda teria gente falando que o clube não tem dois por minha causa. Voltei depois com a Seleção e fiz o que não tinha conseguido pelo Palmeiras.
Marcos correu para a torcida na conquista da Libertadores, em seu primeiro torneio como dono da vaga
Gazeta Esportiva: Mas o Manchester tinha um grande time também.
Marcos: Era o time mais rico do mundo. Eu entrei apavorado. Quando vi os caras deles, pensei que tomaríamos uns oito. Mas, na hora em vimos que dava para ganhar, já tínhamos perdido. O Palmeiras foi muito melhor, mas ficar contando história é coisa de derrotado, de chorão. Não tem que chorar por isso, aconteceu. Depois, só tive a oportunidade de voltar para lá com a Seleção Brasileira, para enfrentar a Inglaterra. O Brasil eliminou a Inglaterra, que tinha muitos caras do Manchester, passando tristes e chorando. Isso me deu uma sensação de que tinha descontado bem.
Gazeta Esportiva: De volta ao Palmeiras, ainda em 2002, o clube foi rebaixado. Você acha que ter recusado a proposta do Arsenal para jogar a Série B contribuiu para virar ídolo?
Marcos: Tem muito torcedor do Palmeiras que acha que fui para o Arsenal e não fiquei porque reprovei no exame médico. Mas fiz a opção de jogar a Série B e fui um dos que mais jogaram em 2003, sem ter problema físico algum. Fiz uma aposta que deu certo, porque jogar a Série B foi muito difícil também. Não foi só isso, fui eleito o melhor jogador da competição, com o Vagner Love sendo o artilheiro. Não construí meu nome na primeira Academia, na segunda Academia ou na Parmalat, mas sim no bom e barato. Naquele ano em que tomamos sete do Vitória, houve mais três ou quatro oportunidades de tomar sete, mas joguei muito bem. Muito torcedor tem o reconhecimento por eu ter ficado na época ruim também, inclusive fiquei muito mais na ruim, porque peguei o fim da Parmalat (como titular) e o começo do bom e barato, com reformulação de time todo ano. Acho que fui o grande pilar disso, porque tudo sobrava para mim, já que era campeão do mundo e a responsabilidade em derrotas era minha. Aliviava muita barra de jogador que passava por aqui, não rendia e ia embora. Acho que o torcedor que acompanhava viu como era meu sofrimento no dia a dia, jogando em alguns times que não tinham a qualidade de vestir a camisa do Palmeiras.
Gazeta Esportiva: É por isso que em muitas vezes você explodia?
Marcos: Muito.
Gazeta Esportiva: Você se arrepende?
Marcos: Às vezes, mas nada que falei em uma entrevista eu já não tinha falado dentro do vestiário. O Palmeiras teve uma reformulação muito boa de 2006 para frente, em parte de academia de musculação, de CT de primeiro mundo... Tive momentos difíceis, mas construí meu nome dessa forma e foi o time que me deu tudo, não tenho nada a reclamar do passado. Aprendi muita coisa nos momentos ruins também, o Palmeiras me ensinou coisas na vida que ensino hoje fora de campo.
Gazeta Esportiva: Neste ano do centenário, como você se sente sendo um dos ídolos do clube?
Marcos: É uma coisa fantástica, de um cara que jamais sonhou em ter todo esse reconhecimento do torcedor. Jamais saí da minha cidade sabendo que um dia teria um busto no estádio do clube. Sonhei sim em jogar pelo Palmeiras, mas nunca pensei em ser ídolo. Todos os presidentes que passaram também me respeitaram muito. Desfruto desse reconhecimento todos os dias, por todos os lugares em que passo, e isso é legal, porque é o que fica e o que tenho para mostrar aos filhos.
Gazeta Esportiva: Você se acha o maior ídolo da história do Palmeiras?
Marcos: Claro que não. Em um time de 100 anos, não é possível.
Gazeta Esportiva: É o maior goleiro?
Marcos: Acho que peguei uma época de imprensa muito boa, com muito mais TVs, rádios, blogs... Ninguém viu o Oberdan jogar, e os que votam em enquetes são os torcedores recentes, que mexem em computador e me viram jogar. Podem falar que estou fingindo humildade, mas, se me perguntarem, o melhor foi o Velloso, porque foi o que vi jogar. O Leão, por exemplo, é o ídolo da minha mãe. Ela o adorava como goleiro do Palmeiras. Nunca me considerei o maior goleiro do Palmeiras. E o principal ídolo é o Ademir da Guia, sempre vai ser. Ninguém se coloca na frente de Ademir, Oberdan, seu Valdir de Moraes... Eu sou de época de Evair, Djalminha, Edmundo... Desses recentes, posso me colocar como igual, apesar de terem ganhado muito mais título do que eu.
Gazeta Esportiva: Você acabou sendo campeão mais vezes no banco do que jogando.
Marcos: Tive muito mais títulos na reserva. Acho que só ganhamos título porque eu estava na reserva (risos). Comigo jogando, foi uma Libertadores, um Rio-São Paulo, uma Série B, um Paulista... Foi muito pouco que ganhei como titular.
Gazeta Esportiva: Fica um sentimento por não ter conseguido mais?
Marcos: Não fica, porque eu fazia minha parte muito bem. Mas, quando ganha, é porque todos fizeram a parte bem. Às vezes, tem seis caras que jogaram muito, mas quatro, não. Daí, o time fica pelo meio do caminho. Fiz bons jogos e, se dependesse de mim, o Palmeiras poderia ter ganhado muito mais coisa, mas passamos por um difícil momento financeiro, com dificuldade depois que a Parmalat saiu. Eu também soube entender isso.
O ex-goleiro nega ser maior ídolo do clube, mas se orgulha por ajuda mesmo no bom e barato
Gazeta Esportiva: Como você sentiu a mudança de clima do clube entre o fim da parceria com a Parmalat e o período mais complicado na sequência?
Marcos: Talvez por isso que eu tenha dado as declarações polêmicas, porque, na época da Parmalat, ninguém foi acostumado a perder aqui, eu também não. Depois, começamos a tomar quatro, sete gols... Por isso que o torcedor sente falta daquela época, e eu também sentia, porque jamais que aquele time da Parmalat tomaria sete em casa. Não fui educado e preparado para aquilo, cresci aqui sendo campeão de um monte de coisa. Eu ficava mais na expectativa de que, por se tratar de um time grande, uma hora mudaria e voltaria a ganhar. Passei anos penando, mas entendi o momento. Às vezes, chegava um jogador que não rendia muito, e acabei sendo chato, porque você acaba comparando com os outros que passaram. Você quer que o cara seja igual, mas, infelizmente, não tinha condições de ser igual, e não era culpa dos caras.
Gazeta Esportiva: Você está agora na fase de torcedor?
Marcos: Quando um time ganha alguma coisa, o torcedor fala que é campeão. Não tive a felicidade de ser campeão brasileiro e do mundo pelo Palmeiras, mas torço para que o clube seja, para que eu comemore como torcedor.
Gazeta Esportiva: Qual mensagem você passaria para o torcedor neste centenário?
Marcos: Eu só teria a agradecer, por todo o carinho que tem por mim. Peço um pouco de paciência, lembrando que não torcemos só por um time, mas por um clube, que tem muita história. Infelizmente, estamos um pouco estacionados, mas acompanhamos todo mundo fazendo o possível para que as coisas melhorem. Torcemos para que o jogador possa representar nosso manto em campo, para levar o Palmeiras de novo às grandes conquistas. É um clube com história linda e maravilhosa. Todo time passa por dificuldade, mas não podemos nos esquecer da grande história. Talvez o time não dê certo, mas o clube sempre vai ser grande e não vai se apequenar.
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