Após o empate final com a Juventus no Marcanã, o palmeirense Jair Rosa Pinto (centro) recebeu o troféu de campeão da Copa Rio de 51 das mãos do prefeito da Cidade Marvilhosa, João Carlos Vital (esquerda. Acervo/Gazeta Press
No mês do centenário palmeirense, Joseph Blatter deu a notícia aguardada há 63 anos pelo torcedor: a Fifa reconhece o Verdão, vencedor da Copa Rio de 1951, como o primeiro campeão mundial de clubes. Para convencer a entidade máxima do futebol, no entanto, o time do Palestra Itália precisou elaborar um dossiê sobre a organização da competição, na qual usa a participação de um homem de confiança de Jules Rimet para comprovar o envolvimento da Fifa.
A partir de 2001, ao lado dos jornalistas Arnaldo Branco Filho e Lucas Iazetti Neto, Roberto Frizzo começou a elaborar o documento que convenceria Joseph Blatter com relação ao título mundial alviverde. O ex-presidente do Verdão coordenou uma detalhada pesquisa e chegou a cinco argumentos para comprovar que a Copa Rio de 1951 precisaria ter este reconhecimento.
De acordo com o dossiê, traduzido para as quatro línguas oficiais da Fifa (inglês, alemão, espanhol e francês), a competição realizada no Brasil, com sedes no Rio de Janeiro e em São Paulo, contou com: relevante cobertura internacional, uma fórmula de disputa semelhante ao Mundial de 2000, o apoio incondicional de Jules Rimet, a preocupação da Fifa com o equilíbrio técnico da competição e a participação do representante oficial Ottorino Barassi.
Secretário-geral da entidade máxima do futebol, o engenheiro Ottorino Barassi foi enviado ao Brasil sob a incumbência de representar o então presidente Jules Rimet. Na ocasião, o mandatário acreditava que este seria o dirigente mais experiente para organizar uma competição de alto nível. A presença de Barassi, portanto, comprova o envolvimento direto da Fifa, que autorizou e apoiou a Copa Rio de 51.
A capa de "A Gazeta Esportiva" saudando os campeões (da esquerda para a direita): Salvador, o goleiro Oberdan, Juvenal, o goleiro Fábio, Sarno, Túlio, Luiz Villa, Dema, Waldemar Fiúme, Lima, Liminha, Aquiles, Ponce de Leon, Richard, Cambom, Jair Rosa Pinto, Rodrigues e Canhotinho.
Ottorino Barasssi, italiano que presidia a federação de seu país e mais tarde criaria a Uefa (União das Federações Europeia de Futebol), se tornou um herói para a Fifa durante a II Guerra Mundial.
Na ocasião, como vice-presidente da entidade, o engenheiro escondeu o troféu da Copa do Mundo, que mais tarde levaria o nome de Jules Rimet, em uma caixa de sapatos debaixo de sua cama durante a invasão à Itália, impedindo com que as tropas nazistas levassem o objeto cobiçado por Adolf Hitler.
O dossiê lembra também da preocupação que a Fifa tinha para assegura a qualidade técnica de uma competição internacional. Desta forma, a bola utilizada ao longo da Copa Rio foi a SUPERBALL, que também esteve presente na final entre Brasil e Uruguai, um ano antes, no Maracanã. A escolha do país também não foi em vão: a entidade se preocupava em repetir o sucesso da Copa do Mundo de 1950.
A fórmula de disputa também é destacada por aqueles que defenderam e convenceram a Fifa de que a edição de 1951 foi o primeiro mundial de clubes da história.
Afinal, em 2000, na competição vencida pelo Corinthians, a entidade adotou o mesmo sistema de competição: oito clubes participantes, divididos em dois grupos, com duas sedes (São Paulo e Rio de Janeiro), que disputavam semifinais e final. A única diferença, além dos participantes, é claro, foi a escolha do Morumbi, que tomou o lugar do Pacaembu como sede paulista posteriormente.
Para completar sua defesa, o dossiê palmeirense também fala sobre a repercussão pelo mundo. Ao realizar um levantamento no acervo de importantes jornais internacionais, o clube do Palestra Itália revela que tradicionais veículos, não só de países que tinham representantes na competição, trataram a Copa Rio de 1951, como o primeiro Mundial de clubes.
De acordo com o documento entregue à Fifa, já na organização do torneio no Rio de Janeiro, a imprensa internacional passou a dar sua devida importância. A primeira matéria sobre a organização do Mundial, por exemplo, publicada em O Globo Sportivo, foi assinada por um jornalista francês, Albert Laurence, integrante dos renomados veículos franceses L’Equipe e France Football.
Depois de convencer Joseph Blatter, o Palmeiras deve esperar a festa do centenário na próxima semana para anunciar o reconhecimento oficial da Fifa. Desta forma, o presidente Paulo Nobre recorre ao passado glorioso do clube do Palestra Itália para melhorar a relação com a torcida e amenizar a crise vivida pelo time atual – lanterna do Campeonato Brasileiro.
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