Fred e Diego (ou Evair) exibem certidão de nascimento que gerou discórdia na família (Foto: Danilo Sardinha)
Ser pai de um menino, ensiná-lo a jogar futebol e fazê-lo torcer para o time de coração. Sonhos como esses fazem parte do imaginário de muitos torcedores quando planejam a paternidade. Com Carlos Frederico Varella, palmeirense de 42 anos, não foi diferente. Planejou todos ao saber que, em outubro de 2002, teria o primeiro filho. Até aí, tudo normal.
Mas, por tamanha paixão pelo Palmeiras, teve um desejo a mais que gerou uma confusão na família: dar à criança o nome de Evair, ídolo do Verdão.
Quando o ultrassom identificou a presença de um menino na barriga da esposa, Fred, como é mais conhecido, não hesitou: "o garoto se chamará Evair". A homenagem era um sonho antigo do comerciante de Cachoeira Paulista, interior de São Paulo. Porém, para realizá-lo, teria que convencer a mãe do garoto.
- Minha mulher falava que era feio, horroroso... Mas eu dizia que seria Evair. Sempre sonhei em ter um filho Evair. É o grande ídolo. Quando ele nasceu, demoramos para registrar por causa disso. Até que todo mundo começou a nos cobrar. Meu pai, minha mãe... Todos cobravam. Uma hora tive que ceder - contou Fred.
Fred levou filho para conhecer o "homenageado"
(Foto: Arquivo Pessoal)
A demora para registrar a criança não foi pequena. Do nascimento em 31 de outubro de 2002, o registro saiu apenas em 15 de janeiro de 2003. Quase três meses depois. Na certidão de nascimento, o nome ficou Diego. Mesmo assim, Fred encontrou uma forma de homenagear diariamente o ídolo, que vestiu as cores do Palmeiras nos anos 1990.
- Ficou Diego, mas eu chamo de Evair. Ele atende pelos dois nomes. No começo, ele ficava confuso. Não entendia nada. Depois, quando foi crescendo, fui contando a história do Evair. Ele prefere mais Diego, mas não fica ofendido por Evair. Na maioria das vezes, chamo ele assim. Meus amigos também chamam ele de Evair - disse Fred.
Se o sonho de registrar o filho com o nome do ídolo palmeirense não deu certo, pelo menos os outros desejos se tornaram realidade. Diego Varella (ou Evair), de 11 anos, é torcedor do Palmeiras e, estimulado pelo pai, aprendeu a jogar futebol. Tem o sonho, inclusive, de se tornar um jogador profissional quando crescer. Já assistiu aos vídeos de Evair, mas a inspiração para entrar no mundo da bola vem de um atleta de outra posição.
- Admiro o David Luiz. Gosto de jogar na zaga. Meu sonho é estar na seleção brasileira. Quero ser um modelo para as crianças do futuro. Ter bastante repórter falando de mim como um jogador bom. (...) Nas entrevistas, vou preferir que me chamem de Diego, mas não me importo do meu pai me chamar de Evair - afirmou o garoto.
Pai e filho são torcedores fanáticos pelo Palmeiras (Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com)
PAIXÃO À FLOR DA PELE
Querer batizar o filho com o nome de um ídolo do Palmeiras é reflexo do sentimento de Fred pelo Verdão. Desde criança, quando começou a torcer pelo Alviverde, demonstra a paixão pelo clube. Já fez loucuras para assistir aos jogos do time, tem tatuado nos braços os distintivos da equipe, coleciona uniformes e guarda pôsteres de esquadrões que fizeram história. Essa última coleção, aliás, foi o elo que uniu ainda mais Fred e Palmeiras.
De 1999 a 2006, ele teve um restaurante em Cachoeira Paulista. Lá, os pôsteres que colecionava foram emoldurados e colocados no estabelecimento como objetos de decoração. Eram mais de 100 espalhados pelas paredes. Como alguns eram raros, e o próprio Palmeiras não os tinha, vendeu a coleção para o clube junto com uma tela, de dois metros de altura por três metros de largura, com a vista aérea do antigo Palestra Itália.
Fred exibe uma parte da coleção de camisas do Palmeiras. Casa do torcedor tem bastante decoração em verde e muitos objetos com o escudo do time (Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com)
- Eu estava precisando de dinheiro para fechar o restaurante e abrir minha loja. Não tinha também onde guardar todos os pôsteres. Como o Palmeiras não tinha alguns, como o do primeiro time do clube, quiseram comprar. Eles queriam ficar só com os que faltavam, mas acabei vendendo todos. Ganhei R$ 20 mil com a venda. Partiu o coração vendê-los. Depois, participei de uma exposição de torcedores no Palestra Itália – contou o fanático.
Para Fred, os pôsteres são uma forma de relembrar os grandes momentos do Palmeiras. Desde que torce pelo time, elege a vitória por 4 a 0 sobre o Corinthians, em 12 de junho de 1993, como a mais marcante (assista no vídeo ao lado).
O triunfo, válido pela segunda partida da final do Campeonato Paulista, foi decidido na prorrogação. No tempo normal, Zinho, Evair e Edilson marcaram os gols do alviverde que levaram a partida para a prorrogação. No tempo extra, Evair marcou mais para o Verdão e deu o título ao clube. O caneco encerrou o jejum de 17 anos sem ganhar um campeonato.
Fred ainda tem em casa alguns pôsteres, mas não como no passado. Primeiro, porque diz o clube não ganha mais tantos títulos. E outra, porque a esposa não permite que ele transforme a residência no que foi o restaurante. Mesmo com as restrições, ainda conseguiu colocar na casa alguns objetos que remetem ao Palmeiras. No telhado, por exemplo, há um mastro com a bandeira do clube.
Bandeira do Palmeiras fica no telhado da casa de Fred (Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com)
O nascimento da paixão pelo alviverde é algo que Fred não consegue explicar. Sabe, somente, que vai continuar demonstrando este amor no futuro.
- Nasci com sangue verde. Meu pai nem liga para futebol. Para ele, o Pelé joga futebol até hoje. Mas comecei a assistir aos jogos, escutando as partidas no rádio, ganhando camisas... Fugi várias vezes de casa para assistir jogos do Palmeiras. Guardava dinheiro para ver jogo. Fui gostando cada vez mais. (...) Se eu tivesse outro filho, gostaria que chamasse Evair ou Marcos - destacou.
11667 visitas - Fonte: Ge