O período que ficou conhecido como o grande jejum de títulos do Palmeiras teve muitas nuances. Dudu fora mantido após o título, mas o time já não era o mesmo e a diretoria optou por repetir várias e várias vezes a fórmula da Segunda Academia: contratar revelações do interior e apostar em técnicos experientes ou iniciantes. Mas o raio raramente cai duas vezes no mesmo lugar.
Ademir da Guia já foi vaiado antes de ser “Divino”, Dudu já foi um jovem. Se Jorge Vieira tivesse paciência em 1978, seu 4-3-3 simples que soltava Toninho Vanusa junto a Nei na esquerda e criava muito com Jorge Mendonça mais recuado pudesse ganhar mais além do vice-brasileiro, perdido no nervosismo de Leão e desfalques de Marinho, Toninho e Pires, substituído pelo futuro técnico Ivo Wortmann na finalíssima.
Demitido logo após o vice, Valdir Joaquim de Moraes foi interino e Filpo Nuñes promete uma revolução tática num “ciclone”, mas a solução foi Telê Santana em fevereiro de 1979. O 4-2-3-1 foi formatado com muitos treinos táticos e Mendonça mais avançado, aproveitando o chute. Time rápido, leve e de contragolpe que contrariou a imprensa, que já dava o Flamengo como campeão, e fez 4x1 em pleno Maracanã. Um revival, ainda que breve, do “Recreio dos Bandeirantes”.
Se não fosse a manobra de Vicente Matheus, que jogou a final do estadual para 1980, poderia ser um título. Telê foi para a seleção, Sérgio Clérici desmontou o elenco e Oswaldo Brandão estreou mal: 6x2 para o Fla. Após experimentar César no meio e Carlos Alberto Seixas como ponta-de-lança num malfadado 4-2-4, o técnico saiu vaiado em setembro de 80. Um desrespeito com uma lenda.
Diede Lameiro, visto como técnico estudioso na época, não conseguiu ir para as finais do Paulista. A solução da diretoria para a vexatória Taça de Prata, que já via o emocional pesar, foi resgatar Dudu, que nem 6 meses ficou. Fedato, Jorge Vieira, Paulinho de Almeida e Fedato de novo ficaram menos de 6 meses no cargo, que que foi considerado “o pior Palmeiras de todos os tempos”: Darinta, Vágner Benazzi, Célio e Lúcio foram alguns dos tenebrosos 81 e 82.
Rubens Minelli topou o desafio e o 83 verde foi de altos reforços, como Batista, ex-Inter. Junto com Luís Pereira e Perivaldo, o 4-2-2-2 era organizado e tinha Batista iniciando as jogadas que Jorginho Putinatti terminava encostando em Carlos Alberto Seixas e Barbosa. Na terceira fase, uma derrota para o Santos e a falta do falso ponta, que podia ser Cléo, Eneás e Carlos Henrique, minaram o time.
Após muitos desfalques perderem o Paulista, Minelli deu lugar a Carlos Alberto Silva, que teve o retorno do ídolo Leão. Não fosse a derrota para o Fortaleza num Morumbi lotado em março de 84, o 4-3-3 incisivo com Reinaldo Xavier teria mais futuro. Mário Travaglini, que conhecia bem o Palmeiras, retornou em agosto e a diretoria apostou em ex-jogadores para conter o emocional: Fedato (de novo!), Chinesinho e Vicente Arenari: nenhum completou 1 ano.
Carlos Castilho, de bom trabalho no Santos, montou o time que Carbone conduziu ao vice-paulista em 86. Técnico e habilidoso, porém com grupo totalmente rachado e Denys falhando na finalíssima. Um 4-3-3 com Edu Manga aparecendo no ataque junto a Edmar e Éder veloz na esquerda. Putinatti podia ser ponta direita ou atuar no meio junto a Mendonça. Se fez o “jogo da justiça” nos 3x0 no Corinthians e Éder fez gol olímpico, perdeu sendo favorito pra Inter de Limeira e ficou de fora das finais do nacional em 86.
Valdemar Carabina foi chamado após anos sem ser técnico e até montou time consistente, que perdera a semi do paulista para o São Paulo de Cilinho. Rubens Minelli o substituiu e manteve a base tática e adicionou Tato no início de 88. Um time ofensivo demais que tentava avançar a marcação e marcar com Tato retornando para Manga ficar.
Se Bizu e Ditinho Souza ficaram "famosos", foi uma declaração de Minelli, após sua saída, que se tornou emblemática. De tão atual que parece por explicar um Palmeiras que não muda: “Não é fácil trabalhar aqui. Os dois maiores adversários do Palmeiras são os corneteiros e os baderneiros que se infiltram entre os torcedores. Só aparecem para criticar. E o pior é que passam essa mentalidade de pai pra filho”- Estadão, 04/04/88
Enio Andrade era visto como o experiente que faltava, mas de nada adiantou. Hora de chegar um ídolo: Emerson Leão assumiu o time sob muita pressão em 89. O bom Paulista foi construído num simples 4-3-3, com Neto na ponta esquerda, Edu Manga armando e Mauricinho cruzando. Os 3x0 para o Bragantino acabaram com tudo.
A partir dessa derrota, a diretoria do Palmeiras passou a experimentar técnicos jovens, na esperança de fazerem elencos limitados jogarem futebol disciplinado. Leão era visto como moderno na época e montou um 4-4-2 em duas linhas: após uma excursão na Europa, Leão decidiu copiar o esquema do Milan e colocou Gaúcho e Careca Bianchesi pelo centro, com Ribamar e Miradinha nas pontas. Deu muito errado.
Jair Pereira e Telê Santana passaram sem sucesso. Foi Paulo César Carpeggiani quem ousou mais: usou a base tática do Náutico, seu trabalho anterior, e montou um 4-2-3-1 sem posição fixa no ataque, girando atrás de Careca Bianchesi. Uma derrota para o Bragantino enterrou o time e ele foi embora em 91.
A chegada de Nelsinho Baptista acabou com a paz: ele era visto como herói corintiano pelo título de 90 – e por resgatar Neto. Seu 4-2-2-2 não dava certo e a Mancha o jurou de morte após afastar Evair, Andrey e Jorginho. O Palmeiras era um caso sem solução. A última e única esperança tinha nome: Parmalat.
Amanhã: Os anos de glória da Parmalat
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