Nelson Ernesto Filpo Núñez chegou à Heliópolis com um baú como único patrimônio, e morreu poucos meses antes de se casar. Quinze anos depois do falecimento do último técnico argentino que passou pelo Palmeiras, Marlene Câmara Salviano permanece na Ação Social Jerusalém, localizada na favela da Zona Sul.
Solteira, ela guarda inúmeras fotos do período vivido ao lado de Filpo entre os anos de 1998 e 1999 – uma das imagens traz mensagem carinhosa escrita pelo treinador argentino. Apesar do pouco tempo de namoro, Marlene sente saudades de seu ex-noivo.
“Infelizmente, o Filpo passou muito rapidamente pelas nossas vidas. Eu ainda lembro dos bons momentos que vivemos juntos.
Muitas coisas ficaram marcadas. Não nos esquecemos, porque foi a melhor época da vida dele”, disse Marlene à Gazeta Esportiva.
Com passagens por 10 países ao longo da carreira, entre eles Espanha e Portugal, Filpo Núñez ganhou dinheiro suficiente para se aposentar com tranquilidade. No entanto, o argentino perdeu tudo na jogatina e passou a viver em condições precárias na casa de um conhecido.
Obrigado a deixar a última morada, o ex-técnico do Palmeiras foi acolhido pela comunidade evangélica de Heliópolis. Tratado como celebridade na favela da Zona Sul, Filpo Núñez, convertido à nova religião, recuperou a autoestima e, aos 78 anos, pediu a jovem em casamento.
“A princípio, quando ele veio falar comigo, fiquei até surpresa. Não esperava. Foi uma coisa que aconteceu tão rápido, que não tem nem como descrever”, recordou Marlene, emocionada. “Se Deus resolveu levá-lo antes (da união), não era para ser...”, completou, resignada.
O matrimônio anterior de Filpo Núñez durou apenas seis meses e acabou desfeito no ano de 1966. Em Heliópolis, o casal esperava apenas pelos papéis do divórcio para oficializar a união – ambos chegaram a iniciar as tratativas com a Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação) em busca de um apartamento.
Nelson Ernesto Filpo Núñez sofreu um ataque cardíaco em um domingo do mês de março. O argentino tinha uma reunião no dia, mas passou a sentir dores no peito e resolveu adiar o encontro. Apesar do desconforto, demorou a concordar com a remoção para o hospital e acabou não resistindo.
Solteira, Marlene Câmara Salviano guarda muitas fotos do ex-noivo Filpo Núñez na comunidade de Heliópolis
“Ninguém estava mais triste e desolada no velório e no enterro do que Marlene Salviano. Namorava o técnico há um ano e tinha planos de casamento para um futuro próximo”, diz a edição do dia 9 de março de 1999 do jornal A Gazeta Esportiva.
Frustrada pela morte inesperada de Filpo, Marlene se conforta ao lembrar que o ex-noivo recuperou a qualidade de vida nos últimos anos. O treinador argentino chegou a dizer que o curto período passado em Heliópolis foi um dos melhores de sua trajetória.
“O Filpo estava esquecido pelos amigos. Aqui, encontrou acolhimento e foi bem recebido por muita gente que o tratou com amor. Deus permitiu que tivesse um pouco de alegria com nosso povo humilde. Chegou de um jeito e sofreu uma profunda transformação”, descreveu Marlene.
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