Luxa: de “black power” a professor na era mais vitoriosa do Palmeiras

25/8/2014 13:19

Luxa: de “black power” a professor na era mais vitoriosa do Palmeiras

Técnico relembra histórias vividas no clube durante a parceria com a Parmalat: o trabalho com a dupla de ataque, as negociações e a amizade com o rival Telê

Luxa: de “black power” a professor na era mais vitoriosa do Palmeiras

Quando Vanderlei Luxemburgo chegou para se encontrar com José Carlos Brunoro, no início de 1993, seu visual causou espanto. O dirigente se diverte até hoje ao descrevê-lo: camisa bem aberta e um cabelo “black power” que lhe arrancaram um “Nossa senhora!”. Naquele encontro teve início o vitorioso e turbulento casamento do técnico com o Palmeiras.



Brunoro era diretor da Parmalat, e Gilberto Cipullo do clube alviverde. Eles entrevistaram dois candidatos ao cargo na época: Nelsinho Rosa, que era prioridade, mas não pôde assumir, e Luxemburgo, que não gosta do termo “entrevista”. Para ele, foi um encontro para saber o que se passava na cabeça do treinador, em plena ascensão pelas boas campanhas e o título paulista com o Bragantino, em 1990.





Vanderlei Luxemburgo de "black power" no Palmeiras, em 1993 (Foto: Agência Estado)



Visual à parte, Luxa convenceu, assinou contrato e ajudou a transformar o Palmeiras em superpotência, ao mesmo tempo em que se transformou num técnico consagrado, de terno e “professor”. Um roteiro que teve emoção, brigas, idas e vindas, rivalidades e projetos, palavra que virou sua marca, para o bem e o mal.

Num bate-papo sobre o centenário do clube, o técnico, bicampeão brasileiro, tricampeão paulista e vencedor do Torneio Rio-São Paulo, isso só na era Parmalat, contou histórias sobre sua passagem pelo Palestra Itália.



CHEGADA



“Não houve uma entrevista, sempre se quer contratar alguém, há uma conversa. Foi uma sondagem para conhecer minha cabeça, meu pensamento de futebol. Sou profissional do futebol e tenho que saber o que acontece. Eu conhecia o Palmeiras, como conhecia o Corinthians, o Flamengo. Falei que o time jogava assim, tinha jogador tal. O Brunoro se surpreendeu.”



ELENCO



“Era uma mescla de jogadores emergentes, contratados estrategicamente, tratados como mercadoria mesmo. Roberto Carlos, Antônio Carlos, Edmundo, Edilson... E havia os mais experientes, que não dariam tanto retorno financeiro. Colocamos premiação por metas alcançadas. O time de 93 já estava todo contratado quando assumi, e em 94 fizemos algumas apostas olhando para o São Paulo, que tinha a melhor equipe do futebol brasileiro. Eu precisava de um banco compatível com o deles, eles mexiam melhor. Foi um trabalho direcionado para o São Paulo.”



AMIGO DO RIVAL



“A maior rivalidade era entre Palmeiras e São Paulo. Era uma coisa muito complicada, e ao mesmo tempo era engraçado porque eu subia no muro e gritava pro Telê (Santana, técnico do São Paulo na época): ‘Telê, estou vendo seu treino, hein, não adianta tentar me sacanear’. Ele dava risada. Nós nos encontrávamos três ou quatro vezes por semana para comer pastel e tomar chope. Quando eu era criança, vendia sorvete na sorveteria dele, na Vila da Penha, no Rio. Trabalhei pra ele. Nos Emirados, nós moramos quase juntos, as famílias faziam churrascos. Fomos disputar um torneio na Espanha e o árbitro expulsou um jogador do São Paulo. O Telê começou a gritar que era esquema Parmalat. E eu respondia: "Nem tem Parmalat na Espanha, Telê!". Ele ria."





Vanderlei Luxemburgo, técnico do Palmeiras em 1993 e 1994, e depois entre 1995 e 1996 (Foto: Agência Estado)



BRIGAS NO TIME



“Eu levei minha experiência de jogador, de ter vivido porrada no vestiário. O Edmundo brigou com o Antônio Carlos, saíram na porrada. Eu não deixei segurança apartar. Se eles querem brigar, briguem. Depois, cada um se sentou num canto e acabou ali. Aconteceu num intervalo e depois de um jogo. Reuni os dois e falei que estavam escalados pro domingo, tinham que jogar, o Palmeiras pagava salário.”



EDMUNDO



“Afastei o Edmundo uma vez, duas, três... Na terceira vez, os mesmos que sempre vinham me pedir para reintegrá-lo, entraram na minha sala e disseram: ‘Deixa ele fora um pouquinho porque ele arruma muita confusão’ (risos). Falei para o Brunoro que tinha de afastar, senão perderia o comando. E nós ganhamos sem ele. O Edmundo era maluco, mas era coisa de menino, ele tinha 22, 23 anos. Mas aquele grupo não tinha nenhum mau caráter. Já peguei outros que tinham e era muito pior. Ele era garotão.”



FIM DO JEJUM



“Meus dias mais difíceis no Palmeiras foram depois da derrota para o Corinthians, no primeiro jogo da final do Paulista de 93. Foi terrível, tive que fugir pra Atibaia porque tomei muita porrada. O Brunoro topou para tirar a pressão. Foi nosso pior momento, criou-se dúvida sobre a possibilidade da nossa conquista.”



PRELEÇÃO DA FINAL



“Foi fantástica. Fizemos a edição de uma fita mostrando que nós éramos melhores do que o Corinthians, que a vitória deles no primeiro jogo havia sido um acaso, e que os jogadores do Corinthians nos menosprezaram. O Viola imitando porco, outros fazendo sinais... Mostramos tudo que havíamos feito na competição. Foi fantástico. E outra que me lembro, em 2008, dei as faixas para os jogadores antes da final, no vestiário. Falei pra eles: ‘Podem colocar a faixa. Vocês estão com medo de serem campeões no Palestra, contra a Ponte Preta? Coloquem essa p.... que vocês vão ser campeões!’”.





O supertime do Palmeiras na final do Paulistão de 1993 (Foto: Agência Gazeta Press)



EVAIR



“O Evair me encheu a paciência naquela semana. Ele havia sofrido uma lesão no posterior da coxa e queria jogar o primeiro jogo. Eu falei que a decisão seria no segundo: ‘P..., não adianta ficar me pentelhando que não vou te botar pra jogar, fica na sua’. Ele era chato, ranzinza, ficava em cima de mim. Correu ao meu lado e quando o jornalista perguntou se ele iria jogar, ele mandou perguntar para mim. Eu respondi: ‘Não, não vai’ (risos).”



LIBERTADORES



“Empatamos no Pacaembu com o São Paulo, nas oitavas em 1994, e depois fomos jogar na Ásia. Voltamos dois dias antes do jogo e perdemos. Ali, era para o Palmeiras ter tirado o espaço do São Paulo também na América do Sul, porque no Brasil já havíamos conseguido. Eu e o Brunoro fomos vencidos, queríamos o jogo na semana seguinte. No primeiro jogo, passamos por cima do São Paulo, o Zetti pegou tudo. Uma semana depois, ele não conseguiria repetir a atuação. Mas lá na frente, depois da Copa, mudou tudo. Perdemos uma grande oportunidade de desbancar o São Paulo na América do Sul. Era para ter dado uma pancada e isso custou caro ao Palmeiras.”



A SAÍDA EM DEZEMBRO/94



“Eu não queria sair do Palmeiras, mas o Brunoro não quis me dar a valorização que eu esperava. O Flamengo apareceu com uma proposta muito vantajosa, apresentei ao Brunoro, que disse que o Palmeiras não iria aumentar. Então, muito obrigado, fui embora. O Mustafá (Contursi, presidente do Palmeiras na época) ficou até surpreso. Não foi uma saída planejada, mas eu queria ter uma valorização e o Brunoro não pensava assim. Ele não estava errado, era a opinião dele.”



O RETORNO EM NOVEMBRO/95



“Eu estava no Paraná Clube e o (Gianni) Grisendi (presidente da Parmalat) disse que só voltaria a investir se eu voltasse como técnico. No Paraná, eu não tinha nenhum documento assinado, mas falei ao presidente que só sairia se ele permitisse. Ele, então, falou para o Brunoro dar o Gil Baiano (ex-lateral-direito). O Gil foi pro Paraná e eu voltei pro Palmeiras. Mas se ele não tivesse liberado, eu não iria.”





Luxemburgo, com o Palmeiras dos 102 gols no Paulistão de 1996 (Foto: Arquivo / Agência Estado)



O TIME DOS 102 GOLS



“Comecei a montar o time de 96 quando voltei, em novembro de 95. Contratamos o Djalminha, o Luizão, o Muller. Isso é planejamento. Eu falo há anos de planejamento e projeto, aí me chamam de ‘pofexô’, me sacaneiam por isso. Mas em novembro o time estava pronto, entrou na pré-temporada com todas as contratações e foi campeão com mais de 100 gols. Isso é projeto.”



QUE TIME ERA MELHOR?



“O de 93 era mais equilibrado. O de 96 jogou só seis meses. Poderia ter marcado história também, marcou pelos gols e pela qualidade, mas se desfez com seis meses. Foi um grande erro estratégico. Quando fui embora, o Palmeiras teve que remontar a equipe, custou muito mais caro. O time de 93 também jogava bonito, mas era mais seguro, firme. Era um time moderno, não tinha pontas e sim atacantes, uma coisa diferente naquela época.”



TERNO



“Eu usava uma camisa de seda, depois passei para o blazer e o terno. Foi por causa da imprensa que achou o Beckenbauer (técnico campeão do mundo em 1990 com a Alemanha) uma maravilha porque ele ficava de terno, parado feito um poste no banco, mas elegante. E nós éramos escrachados. Se era por aí que a imprensa analisava, botei o terno para dar um upgrade. E aí houve uma hipervalorização do técnico pela aparência. Antes éramos bonachões, passamos a ser professores. Hoje, não uso mais terno porque está consolidada a posição do técnico no Brasil. Houve valorização financeira e profissional.”





Luxemburgo teve sua última passagem pelo Palmeiras entre 2008 e 2009 (Foto: Paulo Liebert / Agência Estado)







11724 visitas - Fonte: Ge

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