Emerson Leão
Leão foi o segundo jogador que mais vestiu a camisa do Verdão, atrás apenas de Ademir da Guia.
O Palmeiras é o único time brasileiro que ficou conhecido na história com o apelido de Academia, pelo nível e eficiência do futebol apresentado. Mesmo sem nenhuma outra equipe ter merecido essa classificação, o clube centenário teve uma Segunda Academia, porque o talento não acabou com a saída de alguns atletas que formavam suas fileiras.
Na virada para a década de 1970, iniciou-se no Palestra Italia a passagem de um dos mais emblemáticos profissionais que já vestiram o manto alviverde, conhecido e reconhecido até hoje por palmeirenses e outros torcedores. "Como jogador e treinador, eu passei quase 15 anos dentro do Palmeiras e essa identificação continua”, diz Emerson Leão, goleiro e um dos principais líderes do Verdão nos gramados da época. Idolatria que nem mesmo uma saída foi capaz de arranhar, já que o camisa 1, que defendera o clube entre 1969 a 1978, retornaria para a meta verde e branca entre 1984 e 1986. "Eu me tornei um representante do torcedor, um lider, às vezes como capitão também".
Além da imensa habilidade, Leão também se destacou por ser um dos membros da famosa escola de goleiros do Palmeiras, que àquela altura já havia apresentado ao mundo Valdir Joaquim de Moraes e Oberdan Cattani, mas o maior ícone daquela equipe era Ademir da Guia. Menos, claro, na visão do ex-arqueiro. "Todos ali eram acima do normal. Aquele time venceria a Copa do Mundo de hoje. O Ademir da Guia era o mestre, o Divino, mas tínhamos excelentes jogadores, como Leivinha, Nei, Luis Pereira, Eurico, Zeca, Dudu, César, Alfredo, então as vitórias vinham, não por acaso, mas por excelência do time coletivo", ressalta Leão.
Ao falar de seu papel no clube ao longo da carreira, o ex-goleiro afirmou ter passado por "fases". "Quando cheguei, eu era um aprendiz. Depois, passei a fazer parte de um grupo mais forte, que ajudava a conduzir a equipe. Nós éramos um grupo bem unido e bem agressivo na hora de trabalhar. Eu me tornei referência muito cedo dentro do Palmeiras, isso me ajudou bastante”, lembra. Emerson Leão também não deixou de falar de um dos lugares em que mais esteve durante os 617 jogos em que vestiu a camisa do Alviverde, o estádio Palestra Italia.
"Não era da Babilônia, mas era um Jardim Suspenso maravilhoso. Ele representava tudo aquilo que um atleta queria, que era um lar onde se ensinava e aprendia a jogar futebol, e aprendia a ser homem também. Eu sou agradecido a tudo isso que aconteceu aqui", se declarou, em conversa ocorrida dentro do Allianz Parque, a arena em reforma, na qual o clube mandará seus jogos ainda a partir deste ano. E a magnífica estrutura não arrancou só elogios do ídolo palestrino, mas também provocou um aviso. "Esse estádio vai ser o mais bonito do mundo, e a responsabilidade maior do mundo também. Não adianta ter só um estádio maravilhoso, precisa ter um conteúdo maravilhoso, e esse conteúdo o Palmeiras tem que ter. Tem que ter um time bom, vencedor e tem que voltar a ter não a primeira, não a segunda, não a terceira, mas a quarta academia. Tá na hora de nascer".
Em nenhum momento, Leão deixa de enaltecer colegas da Segunda Academia. "Eu dividia o quarto (nas concentrações) com o Edu, ponta direita, velocíssimo, maravilhoso, continuamos amigos até hoje. Era fantástico, simples, humilde, tive a felicidade de ajudá-lo. Também tinha um ótimo relacionamento com o Eurico, nós viemos de Ribeirão Preto juntos, então sempre tivemos uma relação mais de amigo do que de atleta".
Mesmo uma equipe com tanta classe e talento talvez não funcionasse tão bem sem um comandandante. Osvaldo Brandão, um dos técnicos com mais títulos na história do clube, com sete conquistas, foi o responsável por estar à frente de uma equipe referência até os dias atuais. "O seu Osvaldo era um homem prático. Simples, mas agressivo na maneira de falar, sabia dominar bem a imprensa, isso é fundamental", disse Leão, aos risos. Para ele, Brandão não era "muito de tática". "Ele trocava duas ou três palavras com o jogador. Eu tinha algumas divergências com ele, mas era até engraçado, porque discutíamos de manhã (no clube) e à noite jantávamos juntos na casa dele, porque eu era amigo do filho dele". Mais sério, o ídolo reforçou a harmonia daquele elenco. "São pessoas que fazem falta ao futebol".
Apesar de se lembrar de sua estreia no Verdão, Leão não se lembra da despedida. "No meu primeiro jogo, eu estava no banco, o titular se machucou e eu entrei, os jornalistas nem sabiam meu nome. Depois não saí mais. Na minha segunda passagem, não me lembro da última partida, porque era tão feliz de jogar no Palmeiras, que jogava por prazer, não para ficar lembrando". Como treinador, Leão passou mais uma vez pela história do clube. Uma, não. "Já treinei o Palmeiras umas três vezes, sempre lutando para por o time no lugar que devia. Passamos muito tempo invictos, em uma passagem. Me lembro de um campeonato em que só perdemos um jogo, mas não fomos campeões", lamenta.
Especialista da posição, Leão não deixou de opinar sobre sucessores no gol palmeirense, ainda que, curiosamente, nenhum tenha se destacado com a sua camisa 1. "O Marcos (dono da única camisa aposentada da história do clube, a 12) foi um magnífico goleiro. Um referencial de boa conduta e simpatia. Até hoje continua assim. Foi excelente, foi o segundo goleiro que mais conseguiu jogar pelo Palmeiras, perdeu para um tal de Leão. Esse tal de Leão viu o Marcos pequeno, então, cresceu aqui dentro, é filho do Palmeiras. Ele representa mais um ídolo do gol. O Prass (atual camisa 25 do time) é um bom goleiro, mas a idolatria só vem com o tempo. Oberdan, Valdir, Marcos e eu jogamos aqui muito tempo cada um. Pela idade, Prass não deve ter esse tempo".
Sobre os 100 anos completos do Verdão, o ídolo fala em "eternidade". "No mínimo, faz 50 anos que eu acompanho o Palmeiras, já que me tornei profissional com 14 e hoje tenho 65. Eu vi o Palmeiras ser maravilhoso, estou triste de ver o Palmeiras cair e voltar, e não estar se conduzindo bem. Com esse gigantismo maravilhoso que é esse novo estádio, essa arena, isso é motivo de orgulho. O torcedor vai ajudar e o diretor e o presidente têm que entender isso e têm que aproximar as pessoas que realmente fazem parte do Palmeiras e não deixar entrarem pessoas que não têm raízes aqui dentro”.
A partir deste 26 de agosto de 2014, o Palmeiras terá, nem mais nem menos, o primeiro dia do resto de sua existência. Como um torcedor palestrino exigente, Leão lamentou o passado recente, mas cobrou uma reação imediata, para ver o Alviverde cada dia mais imponente na história do futebol brasileiro. "A primeira lição que tiraram do rebaixamento não foi exercida, porque caiu de novo. Terceira vez, jamais. Eu acho que o Palmeiras não pode e não deve entrar em um torneio, seja ele qual for, só para disputar. Isso é na Olimpíada, 'importante é participar', Palmeiras não. O Palmeiras participa por competência e ganha por mérito. Então, daqui para frente, tem que formar outra Academia para ter méritos pra ganhar”.
E o bicentenário, Leão? "“Difícil escrever a história do Palmeiras daqui para frente. Se hoje já está difícil escrever pela insegurança que o torcedor tem, pelas problemáticas criadas dentro do campo, com a modificação de time que não se acerta, por esses erros políticos e por essa inimizade, fica difícil escrever uma linha, quanto mais o futuro, cem anos”. Com um vínculo histórico tão importante, a história de Palmeiras e Emerson Leão se funde e se confunde de tal forma, que o ex-goleiro tem dificuldade até para expressar.
"Não posso falar só uma palavra, teria que fazer um livro. Mas a minha relação (com o Palmeiras) é de 'verde'. E esse 'verde' representa muito”, exalta.
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