Luis Pereira, Leivinha, Ademir da Guia e Leão: timaço dos anos 1970
Na infância, poucas coisas me deixavam eufórico como o momento no qual meu pai dizia: "Vamos ao jogo". Pronto. Era hora de deixar Niterói. Pegávamos um ônibus, atravessávamos a Baía de Guanabara na boa e velha barca da STBG, que depois viraria Conerj; mais um ônibus na Praça XV e chegávamos ao Maracanã.
Houve uma noite na qual eu jogava futebol de botão. Era rodada importante do meu campeonato, que tinha cobertura de um jornal e uma revista que escrevia à mão em folhas de caderno e ilustrava com recortes de "Placar" e do "Jornal dos Sports". A peleja foi interrompida quando ele chegou do trabalho com a frase esperada.
O adversário era o Palmeiras, e o impacto de sempre na chegada ao templo. Imenso, grandioso e naquela ocasião com muita gente lá dentro. Gente que viu Ademir da Guia desfilar em campo com a camisa número 10. Espetáculo! Foi a primeira vez que vi uma derrota no estádio e voltei para casa conformado.
A superioridade do time de verde era tamanha que mal foi possível torcer. Menino ainda, ali aprendi uma lição. Já havia percebido em jogos anteriores que, mesmo mais frágeis, podíamos nos superar e triunfar. Mas naquele jogo entendi que há rivais e momentos nos quais não há esforço, raça e grito de torcida que dê jeito.
Assim conheci o time que hoje faz 100 anos. Moleque, respeitava o Palmeiras, que também detestava. O ódio é a maior deferência de um torcedor por um time que não o dele. Você detesta porque sabe: dificilmente irá vencê-lo. Naqueles anos 1970 era assim que víamos aquela camisa verde. Ela era realmente temida.
O agora centenário Palmeiras será sempre forte na minha memória. Coisas que você vive ainda criança, na arquibancada, e não esquece. E como seria bom voltar à velha barca com meu pai e reencontrar o Maracanã para desafiar aquele Palmeiras. Mesmo sabendo que provavelmente não venceríamos, valeria a pena.
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