Como qualquer jovem que tenta virar atleta profissional, Endrick tem um ídolo em quem se espelha. Dentro e fora de casa. Pela televisão, o craque português Cristiano Ronaldo, hoje no Manchester United, da Inglaterra, é uma inspiração para a carreira profissional que o pai Douglas não conseguiu emplacar.





"Cristiano Ronaldo é um cara que admiro muito, o trabalho dele, o que passou lá atrás. É um cara muito esforçado, eu também sou um garoto muito esforçado. O Cristiano é um cara que vou seguir a trilha. E meu pai também, ele foi jogador, mas não pôde virar profissional. Eu quero trilhar o caminho do Cristiano e realizar o sonho do meu pai, que não foi jogador, e eu posso ser".





Antes de mirar o craque português, porém, Endrick precisou superar dificuldades e dúvidas na cidade de Valparaíso (GO). O incentivo fundamental veio da mãe Cintia.





"Foi bem difícil. Tinha vezes que eu pensava até em desistir, mas com a força da minha família toda, meu pai, minha mãe... Teve uma época que parei de jogar, porque não tinha condições de pagar a escolinha. Tinha parado já, mas voltei com a força deles, fiz um campeonato, a Go Cup e depois vim para cá e só tenho a agradecer a Deus", contou.





"Uma peça essencial foi a minha mãe. Sem ela não daria para eu vir ao Palmeiras. Meu pai tinha que terminar o trabalho dele e ficar mais um tempo, até meio. Eu cheguei em fevereiro e vim antes com a minha mãe. O esforço dos meus pais foi essencial, principalmente da minha mãe. Se ela não quisesse vir para cá não daria. E com o decorrer do tempo meu pai saiu do trabalho e veio para cá. Não tinha trabalho, tinha que sustentar a família, e o Palmeiras abriu as portas. Só temos a agradecer ao clube. Ele me passou tudo, o esforço deles foi bem essencial para a minha vida".





Carreira e surpresas no Palmeiras



Antes monitorado pelo rival São Paulo, Endrick chegou ao Palmeiras em 2017. Ele já tem no currículo os títulos do Paulistão Sub-11 (com direito a golaço de bicicleta na final), Sub-13 e Sub-15 e mais de 100 gols marcados com a camisa alviverde.





No ano passado, porém, a nova realidade imposta pela pandemia do coronavírus o fez retornar para Brasília. Em 2020, houve apenas calendário de treinos e disputas para as categorias sub-17 e sub-20, a partir do segundo semestre.





Foi quando a diretoria do Palmeiras decidiu integrar o jovem, ainda com 14 anos, ao time sub-17. O início de trabalho na nova categoria teve dificuldades iniciais, principalmente na diferença de exigência física.

"Foi uma surpresa para mim. Eu estava em Brasília, era uma sexta-feira e recebi uma mensagem. Do meu pai, na real, de que teria de fazer exames na segunda-feira, teria de voltar já para São Paulo. Fiquei pensando se iria aguentar e no primeiro dia eu senti. Tinha sentido, pensava que não iria aguentar, falava quando chegava em casa para o meu pai que era foda com os garotos. Mas fui aguentando, me adaptando, suportando. Os jogos foram muito importantes para mim, o Brasileiro sub-17 e a Copa do Brasil. Uma experiência muito boa".





O novo degrau na carreira aconteceu nesta temporada. Aos 15 anos e ainda com um contrato de formação – o vínculo profissional só pode ser assinado depois que o atleta completar 16 anos –, Endrick passou a ser utilizado em alguns jogos do sub-20, com destaque. O clube, porém, ainda utiliza o atacante no sub-17 e deve continuar revezando o jovem nas duas categorias.





"Tenho que agradecer muito ao João Paulo (coordenador da base do Palmeiras), aos treinadores e estafe do sub-20. Nunca imaginava estar no sub-20 com esta idade. A primeira vez quando ia treinar pensei se iria suportar os trancos dos caras, aguentar o jogo físico dos caras. Fui me adaptando e não senti. Pensei que seria muito mais, mas não senti nada. Bem diferente jogar no 20 e estar com profissionais, como o Garcia, Vanderlan, Fabinho, Gabriel Silva, um dos que mais me apoiou lá. Sinto diferença, mas a força física que eu tenho hoje em dia tenho que agradecer, porque meu porte físico não é normal para a minha idade. Seguir com os pés no chão, buscando melhorar".





E o profissional?



No clube, a expectativa é de que Endrick possa quebrar recordes. A fase e o talento do atleta não impedem o clube de pular etapas na formação, algo que costuma ser bem trabalhado no Verdão.





O jogador mais jovem a entrar em campo no profissional palmeirense foi Vinicius, que participou do empate com o Rio Branco, em 2010, aos 16 anos, sete meses e 21 dias, e o mais jovem a marcar um gol foi Juliano, na goleada contra o Nacional do Uruguai, em 1998, aos 16 anos, 11 meses e 23 dias. Endrick completa 16 anos em julho de 2021.





Ainda distante da Academia de Futebol, ele já recebeu mensagens do goleiro Jailson e do atacante Willian.

"Não converso com quase ninguém da equipe principal. Mas os jogadores me seguem no Instagram, e o Willian Bigode uma vez mandou para o meu pai, quando trabalhava lá, para passar para mim. O Jailson foi essencial na vida do meu pai e na minha vida. Só tenho a agradecer aos jogadores e ao meu pai", relembrou.





"Não vou mentir, mas eu deito na cama à noite, pensando. Mas aí passa o outro dia e já penso no presente. Tento não pensar no futuro. Fazendo meu presente, o futuro vem mais rápido, vou poder compartilhar o vestiário com os caras. Tenho de pensar sempre no meu presente. As coisas de jogar no principal tenho que deixar de lado, ver os torcedores pedindo minha ida, mesmo sem idade, tenho de deixar de lado, fazer minha história na base e se subir ao profissional, deixar a história na base de lado e fazer uma nova história no profissional".





Além de Cristiano Ronaldo, ele se inspira em craques brasileiros que marcaram época na Seleção e em grandes clubes do país e do exterior.





"Fazer gol é uma coisa sensacional, única no futebol. O Cristiano Ronaldo é meu ídolo e é decisivo. Tenho de seguir a linha dele. Antes dos jogos eu vejo o Imperador, o R9 e o Cristiano. Tento seguir a linha deles. São frios para fazer gols. Quando o jogo está muito pesado, duro de 1 a 1, eu peço para os caras tocarem a bola em mim, porque eu tenho este espírito de querer fazer gols. Sempre vou querer mais. Quando está um jogo apertado, peço a bola em mim. Se for da vontade de Deus eu vou fazer o gol e decidir para o time", disse.





Repercussão com a torcida



Apesar da pouca idade, Endrick já convive com a repercussão da torcida nas redes sociais. Desde os elogios pelos gols marcados e jogos de destaque até algumas cornetadas.





"Uma coisa muito nova, nunca imaginava. São torcedores me xingando, falando que sou mala, isso e aquilo. Outros me apoiam e tenho de agradecer muito a eles, mas também aos que me criticam. Que possa pegar para mim e melhorar. Se sou mala posso melhorar isso, ou desumilde posso ser mais humilde. Opiniões boas e ruins são válidas. Aos torcedores só posso agradecer, muito bom o reconhecimento deles. Se um dia for ao profissional que eu possa agradar aos muitos torcedores que estarão no Allianz", afirmou.





"A torcida fala que vou ser bom, que vou ser ruim, que vou perder a cabeça, que não tenho humildade, ou que tenho humildade... Tento não ligar, tento seguir os conselhos do meu pai de manter os pés no chão. Se for da vontade de Deus, tenho de agradecer pela minha fase e permanecer com pé no chão, seguir na minha fase, ajudando o Palmeiras e ganhar títulos".





Com a possibilidade de virar atleta profissional do Verdão se aproximando, Endrick diz não escolher posição ou preferência sobre jogar aberto mais pelo lado ou centroavante. Mas ele já promete dedicação e respeito ao clube que trabalha para o revelar para o futebol.





"A primeira coisa que ouvi quando cheguei era para honrar a camisa e sempre quando entro em campo penso isso, sem desistir de nenhuma bola e buscar o melhor para o Palmeiras. O Palmeiras quer títulos e vou tentar buscar. Vou falar para a torcida que enquanto estiver com a camisa do Palmeiras no meu corpo vou dar meu sangue, tudo de mim. Só agradeço o carinho que eles têm por mim, nos comentários das fotos já me agradecem por jogar no Palmeiras. Só tenho a agradecer à torcida e ao Palmeiras", declarou.







"Jogando de centroavante ou ponta... estando da camisa 2 a 11 está bom. Estando entre os titulares está bom. Vou dar a vida como lateral, volante... Estando em campo vai ser bom, tranquilo", completou o palmeirense.

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