Gabriel de Jesus, comemora seu gol contra o Botafogo na Copa São Paulo
Quando pisou no gramado do estádio de Limeira (SP), para a estreia da Copa São Paulo, o atacante Gabriel de Jesus tinha dois anos a menos e uma quantidade maior de pressão do que a maioria dos outros jogadores em campo.
Nas arquibancadas, nas mesas de bar, nas rodas de conversa, nos bastidores do clube, seu nome já era pronunciado desde meados do ano passado com um misto de empolgação e esperança: há muito tempo a base do Palmeiras não produzia alguém com um desempenho tão interessante quanto o dele.
Gabriel está desde 2012 no clube, e antes disso jogou por sete anos no Pequeninos do Meio Ambiente, um clube de futebol amador da zona norte de São Paulo. Lá, conheceu José Francisco "Mamede", diretor, treinador e fundador da agremiação.
Mamede conta que dos sete aos 14 anos, Gabriel desfilou seu futebol no campo do presídio militar Romão Gomes, onde o time manda seus jogos das competições de que participa. Trata-se de um campinho de terra batida que fica ao lado do local onde os presos – todos militares – moram. O clube foi pra lá quando perdeu seu antigo campo, no Horto Florestal (daí o nome ecologicamente correto do clube), e desde então tem chamado o presídio Romão Gomes de lar.
"É superseguro, tem a estrutura de que precisamos e, o que é melhor, não tem venda de bebida alcóolica por perto, é um lugar família", disse Mamede, que só guarda boas recordações de seu pupilo mais famoso.
"Eu sempre soube que o Gabriel viraria jogador profissional, sempre se destacou em todos os nossos torneios."
O treinador conta que, como a maioria dos garotos da região, Gabriel era corintiano fanático no período em que passou sob seus cuidados. "Corintiano é que nem quero-quero", compara o técnico. "Dá em todo lugar. O nosso time mesmo era das cores verde e branca, mas como tem muito corintiano aqui, colocamos preto no uniforme para não ter briga."
No meio do ano passado, quando Gabriel, aos 17 anos, já despontava como uma grande promessa das categorias de base do Palmeiras, Mamede o viu na televisão cantando o hino alviverde. Quando se encontraram depois disso, o técnico, palmeirense, provocou seu ex-aluno: "Quem te viu, quem te vê, hein... tão corintiano e agora cantado o hino do Palmeiras."
Gabriel de Jesus com seu time de infância, da zona norte de São Paulo
Gabriel riu e disse que nem se lembrava mais de sua época alvinegra. Ele estava a caminho de virar jogador profissional. Deu de presente uma camiseta do Palmeiras autografada, que o treinador pretende enquadrar e pendurar na parede de seu escritório.
Como Gabriel de Jesus se transformou no futuro do Palmeiras
Ele ainda não fez nenhum jogo pelo time profissional, mas seus números na base impressionam. De seus pés saíram nada menos do que 37 gols em 22 jogos no Campeonato Paulista sub-17, um recorde histórico da competição – para se ter uma ideia, o segundo maior goleador do torneio marcou 28 gols.
De suas mãos saiu, há pouco mais de um mês, a assinatura de seu primeiro contrato profissional, um esforço pessoal do presidente Paulo Nobre. Ele quis se precaver diante do assédio de outros clubes ao talento do atacante.
Gabriel já teve uma chance de treinar junto com os profissionais, mas a fase horrível do time no Campeonato Brasileiro de 2014 proibiu experimentalismos e ele teve que se contentar com um retorno à base.
Quando ficou claro que a situação do Palmeiras estava preta, uma parte pequena mais barulhenta da torcida passou a exigir que Gabriel fosse colocado em campo.
De uma hora para outra, o garoto da zona norte, há não muito tempo um ilustre desconhecido, viu seu nome alçado à condição de "o futuro do Palmeiras".
Trapaça na Copa São Paulo
Mas naquele jogo em Limeira, a estreia da equipe sub-20 na Copa São Paulo, uma espécie de vitrine para os jogadores juvenis do Brasil, Gabriel de Jesus trapaceou.
No segundo tempo da partida contra a Desportiva, ele, que é atacante, estava posicionado como zagueiro e atuou como goleiro, usando as mãos para espalmar para longe uma bola que ia em direção à rede.
Gabriel se desesperou ao ver o cartão vermelho erguido sobre sua cabeça, e as câmeras filmaram sua reação nervosa, intempestiva.
Enquanto ele tentava mentir ao juiz, dizendo com gestos e gritos que não havia feito nada irregular na jogada, a transmissão mostrava a prova de que ele realmente tinha desviado a bola com a mão.
A expulsão e a posterior desclassificação da equipe na semifinal não impediram Gabriel de Jesus de ser um dos grandes destaques do torneio. Autor de cinco gols e uma assistência, ele chorou como o garoto de 17 anos que é quando sua equipe foi desclassificada da competição.
"A sensação que fica é de tristeza, né", disse ele com os olhos cheios de lágrimas "A gente do sub-20 do Palmeiras queria dar felicidade pra torcida que vem, que está comparecendo ao campo, mas erramos, foram dois gols de falha nossa. É assim a vida."
Seu bom desempenho, porém, o fez ser nominalmente citado pelo técnico Oswaldo de Oliveira, do time profissional, como um dos melhores jogadores da equipe de baixo.
Na segunda-feira, ele, e outros três garotos passaram a integrar o elenco profissional. Eles disputam uma das duas ou três vagas que ainda estão em aberto na lista dos 28 que jogarão o Campeonato Paulista.
Estar entre os 28 não significa ter uma vaga entre os 11 titulares, mas para Gabriel de Jesus já será uma vitória importante. Hoje, o Palmeiras tem 45 jogadores no elenco e 32 deles têm condição de jogo. A briga vai ser dura e o tempo é curto: a lista de inscritos tem que estar definida na quinta-feira.
Gabriel tem um trunfo. Sua escalação é defendida pelo presidente Paulo Nobre, que investiu bastante na renovação de seu contrato e acredita que o atacante merece ser testado para valer no Paulista.
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