Experiente e adaptado à China, Conca revela sonho de ser treinador no futuro

22/12/2015 09:50

Experiente e adaptado à China, Conca revela sonho de ser treinador no futuro

Com os primeiros cabelos brancos e à espera do segundo filho, argentino nega contato com o Palmeiras, não promete retorno ao Fluminense e lembra causos

Experiente e adaptado à China, Conca revela sonho de ser treinador no futuro

Conca brinca com as tesouras no salão de beleza que comanda com a esposa Paula: nada de volta ao Brasil em 2016 (Foto: Pedro Veríssimo)



São 32 anos bem vividos. Mais de cinco deles jogando no futebol brasileiro, onde se firmou, foi campeão nacional, virou ídolo do Fluminense e construiu família ao lado da esposa Paula. Mas a vida de Darío Conca agora passa bem longe do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. Adaptado à China, o apoiador garante que vai cumprir seu contrato até dezembro de 2016 com o Shanghai Dongya e não faz muitos planos para o futuro dentro das quatro linhas. Entre a experiência e a responsabilidade à espera do segundo filho, no entanto, uma revelação surpreende a quem lembra da personalidade tímida do argentino: o sonho de ser treinador.



Os cabelos brancos que começam a aparecer não são problema. Conca e Paula são donos do salão de beleza Dessange Paris Brasil, no Barra Shopping. Foi lá que o craque recebeu a reportagem do GloboEsporte.com para falar sobre temporada 2015 e o futuro. De férias no Rio e bem mais extrovertido do que nos seus primeiros anos nas Laranjeiras (''Mudei muito depois de ser pai'', conta), o argentino disse que pretende fazer um curso de treinador e lembrou que já recebeu uma oferta do Shanghai para encerrar a carreira no clube e virar auxiliar-técnico.

- Falei obrigado, não esperava ouvir aquilo naquele momento. É mais para o futuro mesmo (...) Mas tentar ajudar como auxiliar, como treinador, acho que seria interessante. Vou fazer um curso de treinadores. Independentemente se eu vou usar no futuro ou não, para mim e para a minha vida seria mais um conhecimento - frisou.

À espera do nascimento de Bryan (Benjamin, o filho mais velho, tem três anos), Conca falou por mais de uma hora. Avaliou a temporada na China, revelou que seu clube tentou a contratação de Tevez no meio do ano, garantiu que não volta ao Brasil agora, negou qualquer contato com o Palmeiras e não prometeu um retorno ao Flu (o que fez durante a primeira passagem pelo Oriente), mesmo sempre falando com carinho do Tricolor e lembrando que quase foi para as Laranjeiras em 2006. O argentino ainda contou causos que viveu na China e explicou o desentendimento que teve com o técnico coreano Lee Jang-soo em 2012: segundo o craque, o treinador batia nos jogadores.







Confira a entrevista completa abaixo:



FUTEBOL BRASILEIRO / FLUMINENSE



Você tem mais um ano de contrato. Quais os planos para o futuro? Volta ao Brasil?



Estou feliz na China, minha família também. Estamos tranquilos com tudo o que o clube tem nos dado. Todos nos ajudaram muito nesse ano que passou. Vou cumprir meu contrato. Eles gostaram do que eu consegui fazer na China. Ainda não tenho nada definido para 2017. A partir de junho vai dar para pensar melhor.



Ainda se vê jogando no futebol brasileiro?



Sempre. Acho que o futebol brasileiro agrada a todos. É muito importante para o jogador poder sentir aquela paixão de jogar contra grandes clubes. Tive a sorte de jogar muito tempo no Brasil e sempre fui bem tratado. Um lugar onde me senti muito bem. Tive a sorte de jogar algumas partidas boas, fazer coisas boas. No futebol brasileiro com certeza sempre vou ter as portas abertas porque fiz as coisas certas.



Falou-se de um interesse do Palmeiras. Chegou algo até você?



Não. Acho que muito se fala, possivelmente porque o Palmeiras estava procurando um meia. Apareceu meu nome lá, mas não tive contato com ninguém do Palmeiras. Com certeza é um clube que está se organizando bem, ganhou a Copa do Brasil. Mas hoje não tenho chance de ir para lá. Sequer me procuraram.

Lucas Barrios é seu amigo, joga no Palmeiras e fez vários gols no Fluminense em 2015...



Até falei com ele: ''Para de fazer gol no Fluminense''. Ele me pediu desculpa brincando. Desejo o melhor para ele, pessoa espetacular, fizemos uma amizade muito boa com ele, com sua família. Já fui para casa dele na Argentina. Relação muito boa. Gosto muito dele, profissional, humilde. Como pessoa ele mostrou ser um amigo de verdade. Ainda eliminou o Fluminense na Copa do Brasil. Fiquei triste, porque achava que o Flu tinha condições de chegar à final. Mas o Palmeiras tem grandes jogadores. Sair nos pênaltis faz parte do jogo.



Antes da sua saída do Flu, Flamengo e Corinthians estavam interessados. Chegou a conversar com esses clubes?



Sempre chegam notícias, coisas para o meu advogado. Antes de voltar ao Brasil ele me perguntou o que eu iria fazer. Disse que iria cumprir o contrato. Sempre tem alguém falando, mas se tiver alguma coisa o meu advogado que vai me passar. Falaram muitas coisas, mas o importante foi que tomei a decisão que achava correta, voltar para a China. E não me arrependo disso.



Encerrar a carreira no Fluminense é algo que passa pela sua cabeça?



Para mim sempre vai ser uma honra vestir a camisa do Fluminense. Independentemente da situação. Quando eu saí pela primeira vez, prometi voltar e cumpri. Quando assinei o contrato no fim de 2013, o Fluminense estava perto do rebaixamento. Eu tinha prometido e cumpri minha palavra. Mas na primeira passagem pela China eu já tinha falado e repito novamente: na hora certa, tem que ver se o treinador vai me querer, se a diretoria me quer no projeto, se a torcida quer que eu jogue no Fluminense. Se algum deles disser não, procuro outro lugar sem problema. Independentemente de qualquer situação, sempre vou ser grato ao Fluminense, que me deu muito mais do que eu esperava. Fez muito bem para minha carreira, para mim e para a minha família.



O Fluminense tem alguma prioridade no seu retorno?



É difícil falar em prioridade. Quando saí em 2011, me perguntaram e eu prometi voltar. Dessa vez não houve essa conversa. Tiveram aqueles problemas todos, mas no Fluminense, do primeiro ao último dia, sempre me doei ao máximo. Joguei bem, mal, mais ou menos, mas sempre tentei dar o meu melhor. Fico tranquilo por isso. Queria jogar sempre e consegui. O Fluminense é o clube mais importante da minha vida. O respeito não vem se você veste outra camisa ou não. O respeito é chegar ao clube e sair dele sempre respeitando. Meu contrato acabou em tal dia e até o fim fui lá treinar. Na China me perguntaram se eu comemoraria um gol contra o Guangzhou. Respondi sim. Comemorei todos os gols da minha carreira e não seria diferente agora. Enquanto fui jogador do Fluminense cumpri com minhas obrigações e isso me deixa muito tranquilo.



Tinha espaço para o Conca nesse meio-campo do Flu?



Difícil, né? Os meninos correm muito (risos). Os jovens são assim e os experientes dão os conselhos. Nessa idade você fica muito ansioso. Mas além de correrem muito, têm muita qualidade. Uma característica da base do Fluminense. Eles sabem o que querem. Vão chegar muito longe.



Algum deles te chamou a atenção em 2015?



Falar hoje é muito fácil. Mas acho que o Gustavo Scarpa é muito profissional. Se continuar aplicado desse jeito.. Ele escuta, vai, volta, tenta ajudar, tenta fazer até mais do que deveria. É um jogador que muita gente dentro do Fluminense vai te falar que torce para ele se dar muito bem. Tem tudo para jogar em um grande time da Europa. É diferenciado.



Você falou sobre alguns problemas na última saída do Flu. Na época, citou falta de liderança e de planejamento do clube. Se arrepende de algo um ano depois?



Era uma decisão difícil, mas eu pensei bem antes de tomá-la. Posso ter tomado a decisão certa ou errada, mas não posso falar em arrependimento porque tive tempo para pensar. Eu achava que era a melhor opção e hoje ainda acho que foi. Tem gente que vai concordar, outros que não, mas eu precisava tomar uma decisão. O que me deixa tranquilo é que até o último dia, mesmo tendo proposta, eu participei do treino e dos jogos nos Estados Unidos. Era importante para a marca Fluminense. Isso que fica. Até o último dia cumpri com as minhas obrigações.



Alguns jogadores importantes deixaram o clube nos primeiros meses de 2015. Você saiu para também não acabar colocando a Unimed na Justiça?



Cada um toma a decisão que acha certa. Tomei a minha, outros tomaram as suas. É normal que alguns saiam, que outros fiquem. Cada um sabe o que faz. Não posso falar pelos outros.



Como foi o reencontro com o Celso Barros outro dia?



Fui passear no shopping, jantar com minha esposa, e encontrei o Celso. Vivemos muitas coisas importantes, algumas não muito boas, outras como ser campeão brasileiro... É sempre bom encontrá-lo. Seu momento no Fluminense foi importante para mim. Ele me disse que está pensando em ser presidente. Desejo sorte e o melhor para o Fluminense



E se o Celso virar presidente e quiser contratar o Conca?



Vamos ter que sentar para conversar. Primeiro tem que ganhar, ver o orçamento que tem para o clube, se vai precisar do Conca. É o que eu sempre falo: ninguém é obrigado a me contratar. O mais importante é que seja o melhor para o Fluminense, independente se é com o Celso ou com o Conca. O Fluminense é maior que qualquer jogador ou dirigente.



No último retorno ao Flu, você voltou mesmo com o risco de jogar a Série B...



Eu já tinha assinado o contrato em novembro para defender o Fluminense em qualquer divisão. Não teria problema jogar a Série B. Mas na última rodada do Campeonato Brasileiro eu estava voando para o Mundial no Marrocos. Quando o avião aterrizou, liguei para o meu irmão para sabe o que tinha acontecido. Fiquei triste com a queda. Quando desembarcamos, até tinha um repórter brasileiro lá e ele me entrevistou sobre o assunto, se eu me arrependi. Disse que que não, a decisão tinha sido minha. Eu tinha prometido voltar. Ai alguns dias depois começaram a bater na porta do meu quarto. Fui abrir e era o Elkeson : ''O Flu não vai cair! A Portuguesa escalou um jogador irregular.'' Não entendi nada, não sabia como era o regulamento. Eu estava preocupado em quanto dias ia ter para descansar entre o Mundial e a reapresentação. Mas o Fluminense ficou e só consegui entender direito quando cheguei ao Brasil.





Conca com o amigo Cleber Pinheiro: cabelereiro do argentino desde 2009, pé-quente e primeiro contratado do salão comandando pelo craque e a esposa Paula (Foto: Pedro Veríssimo)



Acompanhou o Campeonato Brasileiro de 2015? O Flu não foi bem, o Vasco, onde você também jogou, acabou rebaixado para a Série B.



Lá, pelo fuso-horário, é mais complicado. Não dá para ficar acordado até duas, três da manhã. Não tenho essa paciência e não gosto também de ficar acordado até tarde, tenho minhas obrigações. Mas quando cheguei ao Brasil acompanhei o Vasco e o Flu. O Flu não terminou bem o campeonato, mas fez uma grande Copa do Brasil. Para o Vasco foi um ano muito difícil, acabou sendo rebaixado. Mas não deixa de ser um clube grande. Torço para que esse ano passe rápido e volte logo para a Série A.



CHINA



Qual o balanço da última temporada na China?



Foi um ano bem positivo, já conhecia cultura e dentro de campo consegui fazer coisas que ajudaram o nosso time. Joguei, me senti bem em campo e acho que mesmo ficando a dois pontos do campeão (o Guangzhou Evergrande, ex-clube de Conca), o clube a torcida ficaram muito felizes. Posso falar que essa segunda passagem está sendo mais tranquila. Por já conhecer o país, conhecer já um pouquinho o treinador, a cultura deles... No começo não é fácil. Agora vivo também a expectativa pelo nascimento do meu segundo filho (Paula, a esposa, está grávida de cinco meses). Mais um menino. Bryan será o nome. Estou feliz. Já temos o Benjamin e meu sonho sempre foi ter muitos filhos. A China está se mostrando um bom lugar para fazer filho (risos).



Como é trabalhar com o técnico sueco Sven-Göran Eriksson?



Um treinador totalmente diferente do Lippi (Marcello, italiano campeão do mundo em 2006 e técnico de Conca no Guangzhou). Era uma pessoa mais parecida em algumas coisas com a gente, fala mais, grita mais. Já o Eriksson é diferente, mais tranquilo. Independentemente do resultado está sempre tranquilo. Mas sabe te dizer as coisas, te passar muito bem o que quer. Dois treinadores muito importantes. Me ajudaram muito. Um técnico diferente, mas que no fundo te ensina muito.



É diferente dos técnicos brasileiros?



Ele fala com todo mundo, mas é bem mais tranquilo. Não sente quando ele está chateado com alguma coisa. Os sul-americanos em geral vibram, gritam e demonstram mais os sentimentos. Ele tem uma personalidade diferente, fala que é típico da Suécia. Assim ele conseguiu tanta coisa e continua assim.



Costuma dar entrevistas na China?



Lá é difícil dar entrevista e difícil para os estrangeiros brincarem com os chineses. Até tentamos, mas é difícil. Dou quase a mesma quantidade de entrevistas que dava aqui. E lá tem que passar pelo tradutor, é mais complicado. Mas a tradutora já me conhece, sabe o que eu penso. Tento brincar com eles, entrar na cultura deles, que é totalmente diferente. Tenho que me acostumar com a forma de viver deles. É importante.



Já aprendeu a falar chinês?



Sei algumas coisas, consigo entender umas palavras básicas e aprendo muito com meu filho (Benjamin, de três anos), que fala bastante em chinês e ainda sabe português, espanhol e inglês. Mas para mim é difícil. É um idioma bem complicado. Só fico com os chineses no treino. E o treinador ainda fala espanhol comigo. Vai ser difícil eu conseguir falar muito em chinês. Falo Xièxiè (obrigado), N? h?o (Oi), H?o ma? (Tudo bem?)... Meu filho fala muito essas palavras e acabo aprendendo com ele.



É impressão ou você está menos tímido?



Pode até ser... Mudei muitas coisas depois que virei pai. Meu filho pede para eu fazer muitas coisas que não faria antigamente. Não tem jeito, tem que se soltar. Tem que enfrentar essa responsabilidade. A timidez me atrapalhou em algumas coisas. Mudei um pouco sim.



O que mudou no futebol chinês nesse retorno?



Mudou bastante. Acho que hoje o pessoal que gosta de futebol e acompanha o futebol na China é bem maior. Estádios lotados, pessoas nas ruas. Nas escolas, pelo presidente chinês gostar muito de futebol, estão incentivando muito os alunos a jogar. Precisa melhorar, mas tem crescido muito.





Conca e o filho Benjamin, de três anos, com a camisa do Shangai: argentino será pai pela segunda vez em 2016 (Foto: Reprodução)



Seu clube é novo. O que esperar para o próximo ano? Títulos, grandes contratações?



O dono comprou o clube há apenas um ano. E em 2015 já brigamos com o Guangzhou Evergrande pelo título. Ficamos a apenas dois pontos no Nacional, classificamos para a Liga dos Campeões. No ano que vem vai dar para brigar por títulos. É um bom clube, uma cidade espetacular. Precisa melhorar? Precisa. Mas estão tentando. Queriam contratar o Tevez quando ele saiu do Juventus. Tentaram pelo menos e isso é importante para o futebol chinês. Tentar um jogador dessa qualidade... Se conseguirem contratar alguém dessa categoria, vai dar para ganhar o Chinês e a Liga dos Campeões.



FUTURO



Até quando pretende jogar futebol?



Tenho que me sentir bem. Se em algum momento não me sentir, começar a me machucar, a sentir que não tenho força, que não consigo ser aquele que quero... Mas hoje vendo o Zé Roberto jogador dá vontade de jogar muito tempo. Ele e o Ricardo Oliveira são exemplos. Quando dão entrevistas, procuro sempre ver. Eles se cuidam e são muito profissionais. Todo jogador que passa dos 30 tem que prestar atenção nessas pessoas para saber o que eles fazer para jogar em alto nível até essa idade.



Já pensou no que fazer depois da aposentadoria?



Quero fazer outras coisas no futebol. Talvez na China, estão me propondo algumas coisas. Escolinha, talvez. Quero deixar alguma coisa minha na China para devolver para eles um pouco de tudo o que consegui no país. Tentar ajudar no crescimento do país.



Ser técnico ou dirigente passa pela sua cabeça?



Quero ter algumas coisas fora do futebol. Não quero viver só do futebol, mas quero fazer coisas por ele. Devolver e ajudar nesse crescimento. Futebol não passa um dos melhores momentos, tudo que acontece na Fifa, quero fazer parte para ajudar os mais novos, ajuda na China, no Brasil. Empresário eu nem tenho hoje. Só meu advogado, que me ajuda. O resto sou eu que faço Como empresário acho que não tenho esse perfil, essa vontade de viajar tanto. Gosto de estar com minha família. Mas dentro de um clube, tentar ajudar como auxiliar, como treinador, acho que seria interessante. Na China me perguntam sobre isso. O início, se na China ou no Brasil, vai depender de algumas coisas. Ainda não estou pensando nisso. Mas tive a sorte de trabalhar com grandes treinadores. já me ajudaram muito e sempre fui de ficar vendo o que eles fazem, a diferença entre eles. Como auxiliar eu gostaria. Vou fazer um curso de treinadores. Independente se eu vou usar no futuro ou não, para mim e para a minha vida seria mais um conhecimento. Quero fazer na Fifa. Nesse ano vou ver isso. Quero fazer algo para a minha vida pessoal. Tem pessoas que arrumam um time para treinar, outros não. Se eu não conseguir, ficarei feliz mesmo assim só por ter feito o curso.



Já conversou com alguém sobre isso?



A diretoria do Xangai falou comigo, perguntou se eu estava gostando do clube.... Ai falaram: ''Então faz um novo contrato, encerra a carreira aqui e depois vira treinador''. Mas foi uma conversa rápida. É difícil, não quero prometer algo que eu talvez não vá cumprir. Falei obrigado, não esperava ouvir isso. É mais pro futuro. Amo o que eu faço. Não me vejo hoje fazendo outra coisa que não seja jogar futebol. Lutei muito para chegar ao profissional e curto cada momento no futebol.



CAUSOS



Passou por alguma situação engraçada na China nesse último ano?



Os mais velhos são muito respeitados na China. Os mais novos aceitam e fazem tudo por eles. Os meninos do time carregam as coisas, pegam água para os mais velhos. É uma questão cultural. Quando fiz meu primeiro jogo pelo Xangai, um amistoso, o capitão machucou com 15 minutos. Ai ele me deu a braçadeira e eu usei no primeiro tempo. No intervalo, entreguei para o treinador e disse: ''Você que manda''. Ele disse tudo bem e deu para outro. Só que depois me disseram que quando um chinês faz isso, te passa uma responsabilidade, é porque tem confiança em você. E você tem de aceitar para não parecer que fugiu da mesma. Não fiz com essa intenção, mas depois disso nunca mais fui capitão.



Você viveu momentos conturbados na China na primeira passagem. Brigou com o treinador, pintou o cabelo, pediu para sair do clube... O que aconteceu?



Fui punido duas vezes. Uma porque eu briguei com o treinador. Ele me tirou de um jogo e falou que eu estava doente, com problema de saúde. Era mentira. Já tinha me recuperado disso há dois meses. O outro problema foi porque ele batia em alguns jogadores, dava um tapa nos mais novos, apertava no ombro. Quando cheguei no Guangzhou mais ou menos já sabia disso. Na primeira vez que ele veio apertar meu ombro, tirei a mão dele e falei: ''Comigo não''. Tinha que me respeitar e ele não gostou. Outro dia ele jogou uma garrafa em um jogador. Ele sabia que eu não ia aceitar isso. Com o clube confiava muito nele e eu não queria gerar um problema maior, decidi voltar. Ele acabou saindo pouco depois, chegou o Marcello Lippi e eu continuei. Foi em 2012. Cumpri o contrato até o fim. Mas quando o Lippi chegou eu estava com alguns problemas com a diretoria porque tinha pedido para sair. Mesmo com o técnico saindo, o clube não se sentiu cômodo com a minha decisão. Eles tinham me contratado e achavam que eu pedi para sai apenas porque queria deixar a China. Foi uma situação incômoda, nunca tinha passado por isso. Ele mentiu na imprensa ao dizer que eu passei mal. O que eu respondi na própria imprensa foi que nem teria entrado em campo se estivesse passando mal. Ele gritava, batia. Não era forte, mas dava uns tapas. Foi difícil, nunca tinha vivido nada igual.



Agora que é dono de um salão de belezas dá para descolorir o cabelo de novo...



Aqui não... (Risos). O pessoal vai rir muito. Aquilo foi um momento de loucura. Era uma coisa que eu tinha dentro de mim, um dia pintar o cabelo. Falei com a minha esposa Paula, estava com uns problemas na China de adaptação. Falei que ia pintar e passa tudo. E passou.



É verdade que você quase acertou com o Fluminense em 2006?



Sim. Acabou meu contrato com a Católica e fui para a pré-temporada com o River. No primeiro jogo amistoso quem joga são os reservas. Ali eu acertei com o Fluminense por um ano. O River jogava à noite e no outro dia de manhã eu viajava para o Brasil. Depois daquele jogo, voltamos para o hotel, eram duas horas da manhã, e o técnico (Reinaldo Merlo) pediu demissão. Eu precisava acordar às 7h para embarcar rumo ao Brasil. Acordei cedo, estava com a mala pronta, e a diretoria disse: ''Você não pode ir''. Eu falei que tinha um contrato acertado, o treinador tinha me liberado. Era um empréstimo por um ano. Mas aí disseram que eu tinha que esperar o novo treinador. Avisei ao meu empresário na época (Hugo de Benedetti), aí ele explicou para o Flu. Mas o Flu não quis esperar. O Passarella chegou, não me quis e acabei voltando para a Católica. Fiquei seis meses lá, fui para o Rosário. Mais seis meses lá e no fim de 2006 fui para o Vasco. Naquela época o Flu não me procurou mais.





Conca e Paula, em pés, à direita, junto com a equipe do salão Dessange Paris Brasil, na Barra (Foto: Pedro Veríssimo)



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