Divino: palmeirenses elegem Ademir da Guia o craque do centenário

25/8/2014 09:24

Divino: palmeirenses elegem Ademir da Guia o craque do centenário

Eterno camisa 10 da Academia relembra carreira histórica no Palmeiras

Divino: palmeirenses elegem Ademir da Guia o craque do centenário

Desde o início da temporada, a torcida do Palmeiras canta nas arquibancadas uma música que virou lema em um ano tão importante para a história do clube. Para comemorar o centenário, os alviverdes entoam uma canção que tem como um dos principais trechos: “São 100 anos de histórias, de lutas e de glórias. Te amo, meu Verdão”.



E muitas dessas glórias tiveram como protagonista um carioca loiro, calmo, de fala mansa e dono de um futebol dos mais marcantes em todo o futebol nacional: Ademir da Guia.



Todos os ex-jogadores ouvidos pelo GloboEsporte.com para a série especial sobre o centenário do Palmeiras apontam o Divino como o maior craque da história do clube (clique aqui e monte seu Palmeiras de Todos os Tempos).



Nascido em 1942, em uma família de craques e boleiros, o talentoso meio-campista das passadas largas não demorou a despontar no Bangu. Domingos, o pai, foi zagueiro importante da seleção brasileira, do Flamengo, do Vasco, do rival Corinthians e de grandes clubes da América do Sul, como Boca Juniors, da Argentina, e Nacional, do Uruguai, enquanto os tios fizeram carreira no futebol carioca.





Ademir da Guia, o Divino (Foto: Sergio Gandolphi)



Mas foi Ademir quem herdou a carreira expressiva do pai. E praticamente em um clube só. Depois de uma excursão do Bangu para disputar um torneio em Nova York, nos Estados Unidos, o Palmeiras se interessou pelo talento promissor. E assim o jovem carioca assinou, em agosto de 1961, contrato com o Verdão, clube de onde só sairia ao término da carreira, em 1974.



– Estava começando a acreditar que poderia jogar quando o Palmeiras apostou no meu futebol e me deu essa oportunidade. Cheguei em 1961 e peguei aquele time que havia sido campeão em 1959 com Valdir, Djalma Santos, Chinesinho, Zequinha, Geraldo Scotto, Américo, Carabina, Julinho, Vavá, Romero. Cheguei e fiquei um ano e meio esperando uma oportunidade. Quem me colocou no time foi o Geninho. Tive um tempo para me adaptar ao futebol paulista – conta.





Ademir da Guia, com o time do Palmeiras que representou a Seleção, em 1965 (Foto: Divulgação/ Site do Palmeiras)



O tempo de adaptação foi importante para que Ademir, quando assumisse a condição de titular absoluto da equipe, não saísse mais. Vestindo a 10, ele parou de emocionar os torcedores palmeirenses somente após 900 jogos, 153 gols, diversos títulos importantes e um feito que jamais será superado: ter vestido a camisa 10 das duas Academias do Verdão.



– A primeira Academia surgiu no Rio-São Paulo. Nós jogávamos no Maracanã contra as equipes do Rio e eles lá diziam que nós mostrávamos um futebol acadêmico com gols, com bons resultados. Por isso surgiu esse apelido. A segunda Academia jogou mais tempo junto. Em 1972 nós conquistamos os cinco títulos que disputamos.



Essa equipe, Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir; Edu, Leivinha, César e Nei, que tinha ainda o Ronaldo e Fedato que entravam, ficou marcada porque jogou mais tempo junta e conseguiu mais conquistas. A Academia entrava sempre favorita – recorda.



CARNEIRO, DIVINO, MARAVILHOSO

Com um estilo técnico, refinado e decisivo, Ademir comandou as Academias de Filpo Nuñez e Oswaldo Brandão nas décadas de 1960 e 1970. E, além dos torcedores, conquistou seus companheiros dentro de campo.



– O Ademir foi o melhor jogador que eu vi jogar. O Carneiro, o Divino, o Maravilhoso. O apelido dele era Divino entre nós, que éramos bons também – diz Emerson Leão, segundo atleta que mais vezes vestiu a camisa do Palmeiras, atrás apenas de Ademir.





Ademir da Guia bate bola na Academia de Futebol (Foto: Sergio Gandolphi)



Parceiro de Ademir em duas das formações das mais vitoriosas da história do Palmeiras, Dudu relembra os anos de parceria ao lado do craque da camisa 10.



– Eu precisei mudar minha característica de jogo para poder jogar com o Ademir. O Ademir já era campeão e veterano aqui no Palmeiras. Eu mudei a minha característica de volante versátil para volante mais fixo, procurando me aperfeiçoar em cobertura e marcação. Senão, não ia casar com o Ademir. E foi aí que deu certo. Eu precisei sacrificar o futebol que eu sabia fazer em benefício da equipe – conta Dudu.



Para muitos dos craques que fizeram história com a camisa do Palmeiras nas décadas de 1960 e 1970, o grande diferencial das Academias estava no meio de campo.



– O mais especial daquele time era a dupla de meio de campo: Dudu e Ademir. Eles já tinham jogado juntos em vários momentos do Palmeiras e tinham um respeito muito grande do grupo. Os dois foram muito marcantes. E depois vieram os outros, eu, César, Leivinha, Baldoch, Madurga, Edu, Nei – diz Luis Pereira.



– Dudu e Ademir eram 50% do time, os outros estavam para ajudar – define Edu.



O APELIDO

Ademir da Guia praticamente adotou o “Divino” como complemento do seu nome de batismo. Mas a ligação entre o ídolo e o apelido tem ligações familiares. Filho de Domingos da Guia, o jovem meia herdou parte do apelido do pai, conhecido como “Divino Mestre”.





Ademir da Guia reinou no meio-de-campo do Palmeiras por mais de dez anos (Foto: Agência Estado)



O futebol de excelência apresentado durante as épocas das Academias do Verdão serviu apenas para eternizar ainda mais o nome ao seu clássico estilo de jogo.



– Eu tinha um estilo diferente, mas esse apelido pertencia ao meu pai. Ele foi campeão no Vasco, no Boca e no Nacional. E lá no Uruguai o apelidaram de “Divino Mestre”. Quando eu fui contratado pelo Palmeiras, alguns jornais colocaram na manchete: “Palmeiras contrata o filho do Divino”. Então eu herdei esse apelido – conta.



– Meu pai era um zagueiro muito técnico. Eu consegui herdar essa técnica dele. Como ele era zagueiro, jogava até o meio de campo. Eu já tive essa facilidade de ir e voltar. Era técnico e me preocupava muito em tocar as bolas para os meus pontas. Com o passar do tempo, eu entendi que podia fazer gols também, então cheguei mais e comecei a bater no gol – completa.



MAIOR ÍDOLO DO CENTENÁRIO

Ademir da Guia é praticamente um patrimônio histórico da Sociedade Esportiva Palmeiras. Por onde passa, o senhor de 72 anos sempre demonstra atenção para ouvir uma palavra de carinho, tirar uma foto e ser reverenciado até por quem não o viu vestir a camisa do Verdão nas conquistas do Campeonato Paulista (1963, 1966, 1972, 1974 e 1976), do Campeonato Brasileiro (1972 e 1973), do Torneio Rio-São Paulo (1965), do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967) e da Taça Brasil (1967 e 1969).





Ademir da Guia, com o time campeão paulista em 1976 (Foto: Divulgação/ Site Oficial do Palmeiras),/i>



Além de todo o reconhecimento das arquibancadas, o clube trabalha para manter a imagem do ídolo em alta. Na antiga sede social alviverde, um busto de Ademir - ao lado de Junqueira e Waldemar Fiúme - sempre foi um dos pontos mais visitados pelos torcedores. Agora, os três, acompanhados pelas homenagens aos ex-goleiros Oberdan Cattani e Marcos, farão parte do memorial palmeirense no novo estádio.



No Allianz Parque, aliás, o eterno camisa 10 da Academia terá lugar garantido em todos os jogos do Verdão. Homenageado pela WTorre, o craque entrou para a Academia de Imortais do clube, que presenteou ídolos do passado com cadeiras cativas vitalícias na nova casa dos palmeirenses. Tais manifestações emocionam até hoje o ex-jogador.



– É um orgulho muito grande. Quando você está passando por aquilo não consegue perceber. Mas ter jogado 901 jogos (Nota da Redação: o Palmeiras contabiliza 900 partidas oficiais) e ser o atleta que mais vestiu a camisa do Palmeiras, ter um busto no clube, ter conseguido cinco títulos do Paulista e cinco títulos do Brasileiro, ser campeão do século 20... Tudo isso é uma coisa que me enche de orgulho – finaliza.





Ademir da Guia relembra seus tempos de jogador (Foto: Sergio Gandolphi)







14970 visitas - Fonte: Ge

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