Allianz Parque: perdemos o estádio, não a cidade

1/12/2015 10:45

Allianz Parque: perdemos o estádio, não a cidade

Allianz Parque: perdemos o estádio, não a cidade

Postagem da gestora do estádio, dois dias antes da final



O primeiro jogo da história do Campeonato Paulista, em maio de 1902, aconteceu no Parque da Antártica. A área de esportes criado pela cervejaria foi se popularizando entre os clubes de futebol. Nos anos seguintes passou a receber jogos do Germânia, atual Pinheiros, e depois acabou alugado para o América. Mas o clube que homenageava o homônimo carioca foi extinto em 1920, quando o Palestra Itália fez a loucura: comprou o terreno por 500 contos de réis, mesmo sem dinheiro para bancar o montante, mas com o sonho, realizado na inauguração em 1933, de ter a própria casa.



No Estadual daquele ano, o título num campeonato de pontos corridos viria contra o São Paulo, em novembro, vitória de 1 a 0. E assim relata a Gazeta Esportiva do dia seguinte:



“Os portões foram abertos às 10 horas e os primeiros torcedores entraram. Às 11 horas, os bondes e os auto-ônibus começaram a ser tomados de assalto e, em frente ao Parque, foram despejando, cada vez mais, os afeiçoados. Às 12 horas, o campo estava cheio em grande parte. Nas gerais, onde público mais se expõe ao Sol, os torcedores se valeram da oferta de casa comercial que distribuiu sombrinhas-reclame que eram fixadas no chapéu. A organização foi a melhor possível. O público não encontrou dificuldades na aquisição de ingressos nos guichês. Os cambistas apenas negociaram com ingressos para localidades numeradas. A nova grade colocada no limite da pista do gramado, evitou confusões circunstanciais. Com ela, o gramado ficou mais protegido”.



Cerca de 35 mil pessoas viram o gol de Avelino, uma semana depois do 8 a 0 sobre o Corinthians, também em casa. O Palestra Itália, depois Sociedade Esportiva Palmeiras, teve esse mesmo estádio até 2010.



A cidade



A seguradora alemã Allianz passou a dar nome ao estádio onde o Palmeiras tem o direito de jogar, desde que avise com antecedência e aceite que, de vez em quando, vai ter festa no dia do jogo. É mais ou menos assim: a empresa reforma sua casa desde que tenha o direito de te expulsar do sofá quando for conveniente. E de definir, ela, onde suas visitas vão sentar, além da punição que eles terão se mijarem fora do vaso.



Agora, foram além. Em nota na noite de segunda-feira, dois dias antes da final da Copa do Brasil no estádio onde gentilmente ela vai deixar o Palmeiras jogar, a Allianz pediu para que se “evite aglomerações no entorno”, já que o “respeito aos moradores do entorno é tão importante quanto comemorar a vitória do time do coração”. Também nos mandou não colaborar com a prática do comércio ambulante, já que “o apoio da torcida para coibir essa prática é muito importante”. Meter o bedelho no comportamento do torcedor, inclusive fora do estádio, era bola cantada desde que as obras começaram.



Não é novidade o fato de uma empresa privada, cuja atuação em nada se relaciona com a gestão de espaços públicos, colocar a mão num projeto maior de higienização e elitização da cidade. Para ficar em casos mais recentes, vale lembrar a repressão por parte da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana sobre os moradores da região chamada de Cracolândia, no centro de São Paulo, em abril deste ano, ação denunciada por movimentos sociais como de limpeza da área para a inauguração do Teatro Porto Seguro.



A população de rua, aliás, é tão desconsiderada por gestão pública e por esse tipo de ação privada que inexiste diante dos conceitos de “revitalização” ou “retomada do centro”. Outro caso envolve o banco Itaú, tão interessado nessa “transformação” quanto a Porto Seguro, e que solicita, como comprovado em documentos que chegaram à imprensa, a retirada de moradores de rua dos arredores de algumas agências centrais.



“...Este Banco, ora representado por esse signatário, no exercício de seu dever de cidadania e preocupado com o recrudescimento desse tipo de ocorrência, vem à presença de V. Sa. solicitar a interferência desse órgão no sentido de convidar essas pessoas a saírem do local, pois as reclamações dos clientes, funcionários e transeuntes em geral, direcionadas à administração daquele local, vêm se avolumando, segundo relatos que nos chegaram ao conhecimento”.



A final



A Sociedade Esportiva Palmeiras, diante de sua gestão megalomaníaca voltada para o dinheiro e não exclusivamente para o esporte – aliás, sociedade esportiva que acaba com os quadros de futsal e basquete como fecha uma lanchonete que está vendendo pouca coxinha -, optou por se aliar a esse tipo de corporação que faz o jogo da elite, que divide a cidade, que escancara a guerra do dinheiro colocada à prova a cada esquina.



A cidade cuja população rica veta estação de metrô no próprio bairro tem aliados importantes. Interessantes. Eles estão no futebol, claro, o futebol faz parte disso tudo. O futebol, aliás, que sempre foi um ambiente de contenção, de disciplina, de tratamento autoritário em relação ao público massivo. Nenhuma novidade.



A novidade, palmeirense, é que a nossa torcida é o experimento da vez, ou cúmplice, chamemos do que quiser. Desde que a seguradora derrubou nosso Jardim Suspenso para colocar em prática a sequência do grande plano da padronização e da higienização do comportamento de quem frequenta as instalações e o entorno do empreendimento, somos nós, palmeirenses, que acabamos desafiados e encurralados a cada rodada.



Mais que torcer pelo Palmeiras, é hora de problematizá-lo. Mais que torcer pelo título, a vitória na quarta-feira (contra um time que, ironicamente, usa uma vila bem antiga pra chutar as suas bolas) pode vir em várias instâncias, uma delas dependente única e exclusivamente de quem veste verde. Tomar a Turiassu, a Matarazzo, a Caraibas, tomar o quarteirão, a cidade, para gritar é campeão, tomara, mas também por um sopro de liberdade e posição social numa cidade em disputa, tanto quanto a bola que a vale a maior copa do país.



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6552 visitas - Fonte: ESPN

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