Prestes a marcar Kaká, Renato já enfrentou fome e James Rodríguez

Em alta com Ricardo Gareca, volante conta que atuou em clube não pagava e não tinha cama, mas não revela qual. Em Portugal, ele marcou o hoje craque do Real

Renato tem só 22 anos e terá que vigiar Kaká no Choque-Rei de domingo. Mas o meia do São Paulo, melhor do mundo em 2007, está longe de ser o maior obstáculo enfrentado pelo volante do Palmeiras.



Antes de virar titular, ele conheceu os extremos: acostumou-se a treinar com fome no início da carreira, em clube que prefere não nominar, e marcou craques como James Rodríguez, então no Porto (POR), quando jogou no Moreirense (POR).



- Passei por vários clubes, como Grêmio, Pão de Açúcar, Santo André... Chegou uma hora em que as coisas não davam certo. Cheguei a dormir no chão, não tinha muita comida e treinei com fome muitas vezes. Se aqui eu sou magro, lá eu era quase uma caveira (risos) - contou o camisa 23, em entrevista ao LANCE!Net.

Ele foi resgatado por Marcos Assunção, seu vizinho em Caieiras (SP). Foi o ex-palmeirense, hoje volante da Portuguesa, quem o “levou” até a equipe B do Alviverde.



- O Assunção sempre me acompanhou, é meu ídolo. Falei que queria desistir porque estava passando necessidade. Fiquei um ano e pouco nesse clube e nunca recebi um salário. Ele me arrumou um teste no Palmeiras B. Quando cheguei, vi a estrutura, a comida, o uniforme de treino, falei: "Pronto, daqui não saio mais" - relembrou o garoto.



Emprestado ao Moreirense para a temporada 2012/2013, ele precisou enfrentar outro adversário duro: uma incômoda inflamação nos calcanhares, causada por tensão excessiva nos músculos e curada com massagens de um especialista. Em forma, virou titular absoluto por lá.





James Rodríguez enfrentou Renato nos tempos de Porto (FOTO: AFP)



- Joguei a Primeira Divisão com 19 anos, para 60 mil pessoas. Enfrentei jogadores que só tinha visto nas seleções, até o James Rodríguez. Hoje ele é destaque, está no Real Madrid. Se eu não tivesse ido para lá, minha vida podia ter sido diferente.



De volta ao Palmeiras na metade do ano passado, virou titular pouco antes da saída de Kleina e é constantemente escalado por Gareca. Apesar dos oito jogos sem vencer no Brasileiro, ele tem objetivos ousados.

- Com o Gareca e a união desse grupo, que é maravilhoso, a gente pode brigar por Libertadores.





Confira um bate-bola exclusivo com Renato:



LANCE!Net: Por que você não diz qual foi o clube em que passou dificuldades?



Renato: Não gosto de falar muito, até para não prejudicá-los. Sou até grato, porque foi lá que aprendi a dificuldade da vida. Muitas vezes não tinha comida, não tinha cama, tinha de dormir no chão...



Quais foram as maiores diferenças que você encontrou?



Lá, a comida era às 18h: arroz, feijão e salsicha todos os dias. À noite não tinha suco, só na hora do almoço. Aí não tinha café da noite, e no outro dia você tinha direito só a um pão e metade de uma caneca de leite.



Ou seja, você ficava das 20h até às 8h sem comer, e vinha só um pão. Aqui, encontrei vários tipos de pão, suco, leite... Tudo o que você imaginar tinha aqui, e eu não era acostumado. Achei muito legal, muito divertido.



Você dizia aos outros garotos que tinha passado fome?

Nem falava nada, sabia que eles não tinham passado pelo que passei. Vi muita gente reclamando da estrutura. Pelo menos na base, porque aqui no profissional ninguém reclama.



Mas na base reclamavam da comida, sendo que era excelente! Eu comentava com amigos: “Pô, estão reclamando e não sabem o que é passar vontade de ter um lanche bom antes do jogo, uma comida boa antes do treino”.



Como foi marcar o James?

Ele sempre foi craque. Nesse jogo a gente perdeu por 2 a 0 do Porto, mas a disputa foi boa. Roubei bastante bola dele, ele passou por mim várias vezes. Todo mundo lá sabia que uma hora ou outra iria para um clube muito grande.



Foi o Kleina quem pediu para você ficar após o empréstimo?



É um excelente profissional. Quando voltei, ele me ajudou em relação a contrato, isso e aquilo. Sou muito grato e até queria que ele visse isso. Gostaria de trabalhar com ele de novo.



Empréstimo de Renato foi 'plano de carreira'. Veja outros casos:



Victor Luis - Lateral-esquerdo de 21 anos é da mesma geração de Renato. Foi emprestado ao Porto B e também retornou ano passado.



Victor Luis - Lateral-esquerdo de 21 anos é da mesma geração de Renato. Foi emprestado ao Porto B e também retornou ano passado.



João Denoni - Volante de 20 anos teve boas atuações em 2012, como titular, mas já está emprestado ao Oeste de Itápolis há um ano e meio. Torcida gosta dele.



Bruno Dybal - Aos 20 anos, meia é uma das maiores promessas da base nos últimos anos. Estreou em 2012, foi emprestado ao Oeste e hoje está encostado.



Edilson - Meia de 21 anos jogou com Kleina no início de 2013. Foi emprestado ao Penapolense e agora ao Giresunspor (TUR).

Bruno Oliveira - Lateral-direito de 21 anos é mais um que estreou em 2012. Sofreu com lesões, chegou a jogar neste ano, mas foi cedido ao Guarani.



Vinicius - Precoce, estreou com apenas 16 anos, sete meses e 21 dias, em 2010. É o mais novo da história a jogar no clube. Fez mais de 100 jogos e está no Vitória.