Descendente se orgulha do papel dos Matarazzo para eternizar Palmeiras

25/8/2014 13:41

Descendente se orgulha do papel dos Matarazzo para eternizar Palmeiras

Descendente se orgulha do papel dos Matarazzo para eternizar Palmeiras

Há 100 anos, Francesco Matarazzo respaldou financeiramente o sonho dos funcionários de suas indústrias na fundação de um clube para imigrantes italianos. Hoje, o sobrinho-bisneto do empresário se orgulha por ver aquele Palestra Itália eternizado, em suas palavras, como Palmeiras.



“Sou palmeirense por nascença e sobrenome”, disse Andrea Matarazzo, vereador da Câmara Municipal de São Paulo. Longe de ser fanático pelo clube que seus ancestrais ajudaram a construir, o político coloca a centenária agremiação como um dos feitos permanentes de sua família, como a Bienal Internacional de Arte de São Paulo.



Andrea Matarazzo recebeu a Gazeta Esportiva em seu gabinete e abriu um sorriso ao ver um modelo da camisa que o Palestra Itália usava em 1938, ano seguinte à morte de Francesco. “É mais bonita do que as que usam hoje”, opinou, garantindo, porém, que nem a situação atual do time é capaz de alterar a grandeza do que seus antepassados impulsionaram no começo do século passado.





Sobrinho-bisneto de Francesco Matarazzo, Andrea se sente palmeirense por nascença e sobrenome.Fernando Dantas/Gazeta Press



Gazeta Esportiva: A família Matarazzo esteve presente já na fundação do Palmeiras.

Andrea Matarazzo: A família Matarazzo está na origem. Minha família sempre participou do clube e o clube sempre esteve muito ligado e próximo da nossa família. Quase todos os descendentes de italianos, se não são corintianos, são palmeirenses e têm o Juventus como segundo time. E o clube é muito ligado à história da industrialização. O Menotti Falchi, que era o presidente quando foi comprado o terreno do clube, era industrial.



Gazeta Esportiva: Fica orgulhoso por essa relação?

Andrea Matarazzo: Claro. É um orgulho como mais uma das coisas que a minha família ajudou a construir no Brasil. Da mesma forma como vejo o Museu de Arte Contemporânea, o parque Trianon, as Bienais, a industrialização de São Paulo. O Palmeiras é uma das coisas que mostram que meus antepassados tinham uma visão muito ampla do que era importante para a sociedade, que cultura, esporte e lazer eram dados muito importantes para eles.



Gazeta Esportiva: Por isso encamparam a ideia de ajudar a fundar e popularizar o clube?

Andrea Matarazzo: As Indústrias Matarazzo foram divididas em várias empresas nos diversos ramos da família e, depois do Palmeiras, todas tinham áreas atléticas e de lazer muito fortes. Os Matarazzo sempre foram da tese de que, estando satisfeito onde trabalha, você veste a camisa da empresa. Por isso, o bem estar dos empregados era sempre muito levado em consideração para que tivessem maior produtividade. Até uns 15 anos atrás, tinha a Associação Atlética Matarazzo na Casa Verde (bairro da zona norte paulistana), um clube lindíssimo com tênis, futebol, piscina olímpica.





Homômino de um dos fundadores beneméritos do Palestra Itália, Andrea Matarazzo prefere camisas antigas.Fernando Dantas/Gazeta Press



Gazeta Esportiva: Um dos fundadores beneméritos do Palestra Itália chama-se Andrea Matarazzo.

Andrea Matarazzo: Certamente, foi um dos primeiros que vieram. A geração seguinte, do meu avô, também participou. Mais perto, teve o meu primo, Ermelino, da terceira geração, que foi goleiro do Palmeiras e do Botafogo. Quando morreu, foi enterrado com a bandeira do Palmeiras, sua grande paixão. E vários outros Matarazzo participaram de diretorias.



Gazeta Esportiva: Em que medida as Indústrias Matarazzo e o próprio Francesco Matarazzo contribuíram para a inserção dos imigrantes italianos no Brasil no começo do século XX?

Andrea Matarazzo: Digo, sem modéstia nenhuma, até porque não fui eu que fiz, que a indústria brasileira deve muito à Matarazzo, tanto que foi o maior grupo industrial do País até a década de 1980, são mais de 120 anos. Quando fui embaixador na Itália, vi ainda mais claramente como Francesco Matarazzo simbolizou a saga do imigrante italiano. Já na década de 1920, o primeiro ministro da Itália veio ao Brasil e disse que tinha conhecido o italiano mais rico do mundo, que era ele. Saiu no final do século XIX da Europa, uma civilização desenvolvida, para atravessar 12 mil km em navio à vela rumo a um país que, na época, só era mato, escravos e alguns portugueses. Morou os primeiros anos em Sorocaba e mudou-se para a capital em 1900, quando inaugurou o Moinho Matarazzo, primeira fábrica de grande porte da América Latina. A cidade tinha em torno de 120 mil habitantes, sendo que 70% eram imigrantes, e fez o maior parque industrial da América Latina e um dos cinco maiores do mundo na década de 1930. Ele morreu em 1937, quando tinha 360 fábricas. É um homem que, até hoje, nunca se escreveu uma coisa negativa sobre ele porque construiu tudo com muito trabalho. Minha família tem muito orgulho, obviamente, dessas pessoas que largaram tudo em seu país de origem para fazer história.



Gazeta Esportiva: Considera o Palmeiras um marco deixado por Francesco Matarazzo?

Andrea Matarazzo: A história da Matarazzo ocupa vários pedaços do Brasil, não só de São Paulo. O lema da Matarazzo era que o dinheiro dos ricos deveria se reverter para os pobres, e o Palmeiras é uma das coisas da história que é sempre bom lembrar e que se mantêm vivas, como a cultura. O meu tio dizia sempre que, para você entrar para a história, tem que fazer sempre alguma coisa que esteja acima dos próprios interesses, e, quando se fala no Palmeiras, sempre se fala em Matarazzo. Hoje, poucas pessoas falam da Matarazzo como indústria, mas tanto na arte como esporte é um marco eterno.





Foto cedida à Gazeta Esportiva pela família Paolillo mostra comemoração dos Matarazzo por título de 1959.Arquivo Pessoal/Família Paolillo



Gazeta Esportiva: Sabe se o Francesco Matarazzo gostava de futebol?

Andrea Matarazzo: Acho que não tinha muito tempo para isso. Mas, se não gostasse, não teria feito. E, mesmo sem ser uma pessoa de lazer, sabia como era importante. É interessante ver hoje, onde estavam as fábricas em Ermelino Matarazzo, como as atléticas eram importantíssimas, assim como em São Caetano, Ribeirão Preto, na Paraíba, e em todos os lugares. Os campos de futebol e o esporte eram sempre atividades ligadas à empresa.



Gazeta Esportiva: Sua família ajudou o Palmeiras a comprar o Parque Antarctica.

Andrea Matarazzo: Na década de 1920, a Matarazzo financiou o Palmeiras para comprar todo aquele terreno, que era da companhia Antarctica desde 1904, e fazer o clube. Depois, o Palmeiras teve dificuldades para pagar uma das últimas parcelas e a família Matarazzo acabou comprando um pedaço de volta para ajudar e lá foi feito um shopping center até.



Gazeta Esportiva: O que pensa da atual reforma do estádio?

Andrea Matarazzo: Fizeram um negócio sensacional. Para usar um termo italiano, é um aggiornamento (modernização, em português) do próprio clube, que deixa de ter um meio-estádio para ter uma arena multieventos, inclusive para o futebol. Isso ajuda na arrecadação do clube, em seu desempenho, deve receber mais jogos, enfim... É uma infraestrutura melhor não só para a parte do futebol, mas para o clube como um todo. Foi uma decisão boa e necessária, sem dúvida nenhuma.





Reforma do Palestra Itália não deixará mais que sejam vistas de dentro do estádio as torres da Matarazzo



Gazeta Esportiva: Mas, com as reformas, não será mais possível ver do estádio as antigas torres da Matarazzo...

Andrea Matarazzo: Bom, se você sair do clube e atravessar a rua, chega à indústria. Houve uma época em que se viam as fábricas ao lado do campo. Hoje, não se vê mais. A paisagem muda, mas há uma melhora para assegurar a continuidade e o futuro a longo prazo do Palestra Itália e do Palmeiras.



Gazeta Esportiva: A família Matarazzo ainda tem muitos torcedores do Palmeiras?

Andrea Matarazzo: Todos são palmeirenses. Quem sabe na geração novíssima pode ter alguém que não seja palmeirense, mas a grande maioria é, sem dúvida nenhuma.



Gazeta Esportiva: Qual é a sua relação com o Palmeiras?

Andrea Matarazzo: Afetiva. Não frequento estádios e não sou muito ligado a futebol, mas, se tem que torcer, obviamente, torço para o Palmeiras. Gosto da instituição Palmeiras e do Palestra Itália. Sempre me relacionei bem com o Mustafá Contursi (presidente do clube entre 1993 e 2004), que trabalhou na metalúrgica Matarazzo com um tio-avô meu, no mesmo lugar onde trabalhei e fui presidente. Ele ainda era menino e meu tio-avô falou que era inteligentíssimo e iria muito longe, como, de fato, cresceu muito. Também sou muito amigo do (presidente do clube entre 2009 e 2011, Luiz Gonzaga) Belluzzo e o ajudei em sua campanha. E acho que o Paulo Nobre está sendo injustiçado porque está fazendo um trabalho corajoso dentro do Palmeiras.



Gazeta Esportiva: Por que o Paulo Nobre está sendo injustiçado?

Andrea Matarazzo: Porque o atacam toda hora e pedem a sua saída. Nós, que fazemos política, sabemos como é absurdo isso de irem até a casa dele. Ser atacado verbalmente, críticas à gestão, tudo bem, mas ataques pessoais ou te incomodar na sua casa não tem sentido. E é um cara que pegou o clube em situação financeira delicada, tem colocado muito esforço e crédito a serviço do clube.





"Todo palmeirense sabe que a Matarazzo ajudou o Palmeiras a ter seu clube e seu estádio", diz Andrea



Gazeta Esportiva: Considera a política do Palmeiras turbulenta?

Andrea Matarazzo: Em clube que tem time de futebol, é sempre assim. A gestão é sempre muito tumultuada. Por mais que o clube vingue, o que vale e pesa para as pessoas é o resultado do futebol. Mas, com tantos anos, até mudando de nome, o Palmeiras continua um time fortíssimo na cabeça de toda a comunidade paulista, não tenho a menor dúvida.



Gazeta Esportiva: O que acha da situação atual do Palmeiras?

Andrea Matarazzo: Fico muito contente de ver instituições eternas, como o Palmeiras, fazendo 100 anos. Com tantas crises e altos e baixos que um clube sempre tem, continua no coração das pessoas e na cabeça de todos os paulistas. Está lá, está firme. Sobe, desce, ganha campeonato, vai para a segunda divisão, mas são coisas como a Bienal de São Paulo, que alguém faz e permanecem e revertem em benefício à sociedade. Esse é o papel do Palmeiras: beneficiar a cidade de São Paulo. Você não pode olhar o Palmeiras só como o clube de futebol, mas todo o estímulo que faz ao futebol, ao esporte, ao lazer, ao desenvolvimento de talentos e a todas as atividades que tem como clube bastante grande que é.



Gazeta Esportiva: Foi convidado para a festa oficial do centenário?

Andrea Matarazzo: Fui e estarei lá, lógico. Estaremos lá.



Gazeta Esportiva: Está ansioso pelo centenário?

Andrea Matarazzo: Não. Estou feliz por ver alguma coisa que a minha família ajudou a empurrar no momento em que precisou continuar forte e firme depois de 100 anos.



Gazeta Esportiva: Como o Palmeiras ajudou os Matarazzo?

Andrea Matarazzo: Traz o nome da gente até os dias de hoje. Todo palmeirense sabe que a Matarazzo ajudou o Palmeiras a ter seu campo de futebol, seu clube e seu estádio.



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