Tudo Menos Futebol: o crítico e emotivo Fernando por trás de Prass

15/1/2016 08:25

Tudo Menos Futebol: o crítico e emotivo Fernando por trás de Prass

Goleiro do Palmeiras abre o jogo sobre diversos assuntos, coloca família acima de tudo e projeta futuro fora do país: "A política do Brasil está contaminada, está podre"

Tudo Menos Futebol: o crítico e emotivo Fernando por trás de Prass

Fernando Prass e sua família: a esposa Leticia, e os filhos Helena e Caio (Foto: Reprodução/Twitter)



A madrugada já avançava pelo dia 3 de dezembro de 2015 quando Heber Roberto Lopes soou o apito e autorizou o camisa 1 do Palmeiras a correr para a bola, caprichosamente posicionada na marca do pênalti de um abarrotado estádio.



Fernando Büttenbender Prass tinha sobre as costas a pressão de 40 mil vozes e as emoções de tantos outros milhões espalhados pelo Brasil. Não sentiu. A frieza do goleiro Prass conteve, por poucos segundos, a explosão de emoções que é Fernando. O marido da Leticia. O pai da Helena e do Caio, garoto a quem não conseguiu negar o pedido de "brincar de futebol" no estacionamento da arena alviverde, ainda que consumido por adrenalina e tensão, minutos após levantar a taça da Copa do Brasil e entrar para uma centenária história.



O goleiro de 37 anos que saiu de Viamão, no Rio Grande do Sul, morou na Europa e passou por diversas cidades brasileiras, não tem um cantinho preferido. Pode ser qualquer um, desde que estejam ao seu lado três pessoas indispensáveis, cujas iniciais estão marcadas a tinta, para sempre, no seu braço direito. Desconcentrar o pegador de pênaltis de 1,91m dentro das quatro linhas é tarefa difícil. Emocionar o homem que tem na família sua maior riqueza é simples.



Fernando Prass é um sujeito descomplicado. Calçando chinelos – e com cabelo ainda por crescer, passado pouco mais de um mês da promessa que o forçou a raspá-lo –, ele recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em Itu, onde o Palmeiras faz sua pré-temporada, após duas horas de treino, e não teve pressa de terminar a entrevista. Gastou o sotaque gaúcho com calma e mostrou um lado (crítico) sobre diversos assuntos. Política, Bom Senso, machismo, comida, música, Brasil... Tudo, menos futebol, em entrevista que você lê abaixo, na íntegra.



Você vive futebol o tempo inteiro. Sobre o que gosta de conversar, além de futebol?

Ah, gosto de conversar sobre tudo. É claro que o futebol sempre vem muito mais à tona porque as pessoas têm curiosidade. Mas acho que, como as pessoas têm curiosidade em relação ao futebol comigo, eu tenho curiosidade em relação às outras coisas. Política nem tanto... Não a política em si, mas a situação do país, a parte econômica, a parte social, de educação, essas coisas. Eu gosto dos mais variados assuntos. Gosto de conversar sobre lugares, sobre viagens, sobre cidades, países. Sinceramente, se fosse escolher, não teria um tema. Gosto de assunto, de conhecimento, de coisa nova, principalmente de coisa que não conheça, que eu não domine.



Você conhece bem Porto Alegre, São Paulo, morou na Europa também, em uma cidade um pouco menor em Portugal... Que cidade você mais gostou de conhecer, em qual você mais gostou de viver?

Minha esposa e minha mãe conheceram mais até. Eu tinha muitos jogos e não conheci muito. Portugal eu conheci muito bem. Conheci do norte ao sul. Lisboa, Faro, Porto, Guimarães, Braga, Coimbra, Fátima, Leiria, Óbidos. Portugal eu realmente conheci bem. O restante... Minha lua-de-mel foi na Europa, na Itália. A gente foi para Veneza, depois pegamos trem para Pádua. De lá para Florença. De Florença para Roma. Foram essas cidades. Conheço Madri, na Espanha. Já fui jogar na Sérvia, Israel... Conheço Paris, Londres. Mas, por enquanto, a cidade que mais me chamou atenção foi Florença. Não é uma cidade tão grande como Paris e Londres, mas espetacular pela história e pela beleza, pelo estilo de cidade.



Você dirige em São Paulo?

Dirijo, dirijo.



O que achou da diminuição da velocidade máxima em algumas vias? Complicou ou foi bom?

No começo, muita gente reclamou, porque realmente fica estranho tu andar a 50 por hora. É bem devagar. Apesar de que, nos horários de pico, tu anda mais ou menos nessa velocidade, porque não tem condição de andar mais rápido. Mas vi dados que as mortes e acidentes diminuíram em 30%. Se os dados são verdadeiros, não tem nem o que contestar. Pô, 30% é um número absurdo de vidas. O cara não pode ser egoísta e ignorante a ponto de contestar uma situação dessa. É claro que, de repente, poderia ter outras formas de se diminuir o número de acidentes, mas aí também é muito culpa do governo. Claro, mas da sociedade também. A sociedade brasileira não é educada para cumprir regras. Outro dia, eu estava assistindo a uma reportagem sobre o Japão: o pedestre, mesmo com o sinal fechado para ele, mas não vindo nenhum carro, ele espera para atravessar a rua. São situações, aqui no Brasil, impensáveis. O povo não tem essa educação de respeitar regras. As coisas têm de ser feitas de acordo com a cultura do país. Se, daqui a alguns anos, o brasileiro tiver consciência para limites um pouquinho mais toleráveis, aí tudo bem.



Uma lei de trânsito como essa, por exemplo, influencia diretamente na escolha de um voto seu? Você vota onde?

Eu votava em Porto Alegre, daí transferi meu título para Curitiba. Depois fui para Portugal. Depois transferi meu título para o Rio de Janeiro. Agora, vou ter que transferir para São Paulo. Vou transferir. Mas, hoje em dia, eu ando muito descrente com política. É claro que a gente não pode generalizar, porque comete injustiça, mas a política do Brasil está contaminada, está podre. Se melhorar, vai demorar muito. A gente viu Mensalão, 300 pessoas presas, indiciadas, umas provaram, outras não provaram. Agora, na Lava-Jato, mais um monte de políticos, empreiteiros, gente que, entre aspas, era acima de qualquer suspeita. Não sei como vai terminar, se vão continuar presos ou o que vai acontecer. Mas nunca aconteceu de essas pessoas, os cabeças da pirâmide, irem para a cadeia. Sempre ia o diretor de comércio de não sei onde... Sempre se arranjavam laranjas para assumirem a culpa. Agora, a coisa está mudando, e o número de políticos é cada vez maior. Cada vez que vem um delator, são mais cinco ou seis. É exponencial o negócio. Depois da Lava-Jato, surgiu outro esquema na Eletrobras. Aí tu pega Fifa, CBF... Se pegar as federações, vai ter também. É um país cujo sistema está totalmente viciado. A única maneira de mudar é a longo prazo, muito longo prazo, com educação, mudança de pensamento. Depende do governo investir em educação, mas depende muito mais da educação que se tem em casa. Isto é uma opinião minha: antigamente, a família era patriarcal, o homem a sustentava, a mulher ficava em casa para cuidar dos filhos e da casa; hoje em dia, a sociedade é totalmente diferente, há mulheres tomando as rédeas da família e, muitas vezes, as famílias entregam uma responsabilidade que é delas para a escola. A função da escola é uma lapidação, ela vai te dar alguns conhecimentos, mas a formação do caráter é feita em casa. Acho que as pessoas estão deixando muito na mão da escola. Estamos tendo um problema muito grave com essa nova geração que vem vindo.



A família não é mais patriarcal, como você disse. Mas você acha que o Brasil é um país machista?

Acho que é, sem dúvida nenhuma. Muito. Ainda é muito machista. Apesar de ser um país muito miscigenado, é um país que, de certo modo, é racista também.



Fernando Prass, em partida do Palmeiras na arena (Foto: Marcos Ribolli)



Já presenciou racismo no futebol?

Já, já. Manifestações racistas de torcida, muitas, muitas. Todo racismo é absurdo, mas há situações mais grotescas ainda. A gente jogou em Recife, contra o Náutico. Um jogador nosso pegava na bola, a torcida imitava macaco. Quando olhei para a arquibancada, sei lá, 70% da torcida do Náutico era de negros ou mulatos. É uma situação de ignorância mesmo da população. Mas, com certeza, tem muito ainda.



Lembra quem era o jogador?

Lembro, mas não vem ao caso falar.



Você tem dois filhos. É complicado criar filho no Brasil?

É complicado criar filho em qualquer lugar do mundo. No Brasil, é um pouco mais perigoso, porque a sociedade brasileira está muito violenta, muito agressiva. Ainda mais com os problemas pelos quais o país está passando agora. São muitas situações que te exigem muito mais controle, fiscalização, de tentar educar e mostrar para o teu filho. Educar o filho na Noruega, no Canadá, na Austrália, países melhores em termos de qualidade de vida, também é difícil, porque depende dos conceitos que vai passar para ele. Mas no Brasil está muito difícil, porque a gente vê coisas acontecendo com pessoas jovens. Coisas cada vez mais frequentes e mais impressionantes. Pelo menos eu não vejo uma resposta da sociedade. A gente começou a aceitar, de certo modo, algumas coisas inaceitáveis. "Pô, é assim, é normal". Não pode ser normal. O brasileiro é muito passivo e aceita. É perigoso quando tu começa a achar normal ter que te trancar num prédio com grade até em cima, ter que andar de carro blindado, contratar segurança. Gente mais humilde não poder voltar para casa a certa hora da noite, não pode sair de casa. Ter que pagar por segurança. Tu conversa com pessoas, e ninguém mais se assusta com isso. Encaram com normalidade.





Fernando Prass comemora título com o filho Caio (Foto: Marcos Ribolli)



Houve uma onda recente de manifestações feministas em redes sociais. Até por ter um casal de filhos na mesma idade, como é educar um menino e uma menina? Ainda existe aquela história de que menino joga bola e menina só brinca de boneca?

É, tem bastante isso ainda. Tem esse lado ainda. Cara, educar filho é complicado. Todo mundo fala, reclama que é difícil quando os filhos são pequenos, dão muito trabalho. Mas as pessoas mais velhas me falam que é a fase mais fácil, porque estão embaixo da tua asa. Tudo o que mandar tu impõe. Eles não têm voz própria, não comandam. E que o problema é quando eles começam a sair de baixo da tua asa. Aí, pega um menino com 17, 18 anos, que já tem seus conceitos, suas ideias, suas diretrizes na vida, e tu não tem mais muito o que fazer. Tem que soltar o cara, a menina para o mundo. Não pode ficar embaixo das asas. Muitas vezes, essas pessoas não tomam o caminho que tu acha que é o certo. Daí para frente, é responsabilidade deles. É muito difícil, na minha opinião, essa aceitação dos pais. Muitas pessoas têm problema com isso. Às vezes, fazem um filme da vida para os filhos, e os filhos vão por outro caminho, e há conflito muito grande. Vejo situações de amigos e na própria família.



Quando encerrar a carreira, pretende sair do Brasil?

Quando encerrar ou antes de encerrar, eu pretendo morar um ou dois anos fora do Brasil. Ou jogando ainda ou para estudar, até para meus filhos estudarem, minha esposa. Aí, dependendo do que eu avaliar, posso escolher melhor. Me perguntam o que vou fazer quando parar. Como vou responder? Jogo futebol há 25 anos, vivi a vida inteira no futebol. Então, não conheço outra coisa para saber se é o futebol que eu quero ou não. Quando eu sair, tiver novas experiências, novos conhecimentos, vou poder mensurar se o futebol é realmente o que eu quero ou não. Daqui a pouco, eu vou para outro país, começo a estudar e aprender sobre economia, por exemplo. Aí falo: "é isso aqui que eu quero, não quero futebol". Ou posso ir e falar: "nada disso, meu mundo é o futebol". Mas meu planejamento de vida é mais ou menos esse.



Tem algum lugar em que você já pensa?

Tem, cara. Não foge muito aos países normais. Estados Unidos, Canadá, que têm condição de vida muito boa. Inglaterra já é um pouco mais difícil. Da Austrália falam maravilhas, dizem que é um país muito bom para se viver, com qualidade de vida muito boa. Acho que não fugiria desses quatro países, não.



Tem alguma cidade, algum lugar na sua casa que você considera o seu canto? Um lugar onde você se sente em paz...

Nossa vida é vida de cigano. Eu até não rodei tanto, mas mesmo assim morei quase 20 anos em Porto Alegre, em Viamão, depois seis meses em Franca, um ano e meio em Goiânia. Depois, comecei a estabilizar mais. Quatro anos em Curitiba, tenho imóvel lá ainda. Depois, quatro anos em Portugal. Quatro anos no Rio de Janeiro, onde tenho imóvel também. Agora, estou indo para o quarto em São Paulo, onde tenho imóvel também. É uma vida meio de cigano. O meu cantinho é onde eu estiver com minha família. Se estiver com meus filhos e minha esposa, para mim está perfeito.



Fazendo o que com eles? O que você gosta de fazer?

Gosto de ler, gosto de ver séries, gosto de reunir a família e os amigos para assar churrasco. Aqui em São Paulo e no Rio também, o que estranhei foi a pressa do pessoal em comer o churrasco. Eu me lembro que fui assar um churrasco, não tinha espeto, então cortei em medalhões a picanha, o bife ancho, o vacio, e os caras falaram "Pô, está muito grosso, vai demorar para assar". Mas o churrasco, pelo menos no Rio Grande do Sul, é uma cerimônia que tu faz. Tu faz com lenha. Com carvão, tu espera fazer brasa e já está pronto. A lenha, tu tem que botar fogo, tem que esperar queimar, esperar virar brasa para botar carne. Tem que botar bem em cima, depois vai descendo. Tu começa primeiro com salsichão, com coraçãozinho, com pão com alho. Depois, tu vai para o apogeu do churrasco, uma costela, que demora muito para ser assada. Aí tu começa ao meio-dia e vai até três, quatro horas da tarde. Tem todo esse ritual, eu gosto desse ritual, de reunir todo o pessoal, conversar e aproveitar bem todo o processo.





Fernando Prass bate pênalti para garantir título ao Palmeiras na Copa do Brasil (Foto: Marcos Ribolli)



De que série você mais gostou? Está vendo alguma?

Uma que viciou muito foi Breaking Bad. Essa, em cinco ou seis concentrações, assisti toda. House of Cards também. Agora, Narcos. São basicamente essas.



Você tem uma segunda paixão além do futebol, algum hobby?

Não. Meu hobby nas horas vagas é fazer o que os meus filhos gostam: andar de bicicleta, jogar bola, brincar de queimada, videogame, piscina. Como fico muito longe, quando estou em casa não tem como. Se não estou em casa, eles brincam com os vizinhos, pelo condomínio. Agora, quando estou em casa, se eles saem com os amigos para brincar, tenho que ir junto de bicicleta também, jogar bola, fazer tudo, brincar de esconder. Eles sentem muita falta, eu fica muito tempo fora.



Então, seus filhos são dessa geração muito eletrônica ou gostam também de brincadeiras antigas?

A referência que eu tenho são os coleguinhas. Minha filha não joga videogame, joga quando meu filho joga, um jogo ou outro. Meu filho gosta de futebol. Se tiver futebol com bola e videogame, ele pega com bola e nem vê o videogame. Agora, se está chovendo ou alguma coisa assim, ele joga videogame. Eu até fui morar em condomínio de casa por causa disso, por causa das crianças, que dificilmente ficam dentro de casa. Elas gostam mesmo de sair. Agora nas férias, elas pediram slackline para ficar brincando. Patins, bicicleta, bola, esconde-esconde. É tudo muito assim. Morei um mês e meio no apartamento de um amigo meu, o Carlos Alberto, que jogou comigo no Vasco. Um apartamento perto do Allianz Parque. Só que ali é vertical total, eles ficavam desesperados. Chegava do treino, eles queriam sair para passear. O que ia fazer? Não dava para andar de bicicleta, não dá para ir a um parque de noite. Ou era shopping ou era sair para andar na rua. Na rua era carro pra caramba buzinando. Ia ao posto comprar bala, picolé. Morei um mês e meio ali e vi que não ia andar. Fui para uma casa, e eles se adaptaram maravilhosamente bem, se desenvolveram muito por causa disso também.



Você morou em cidades que não são verticais. Franca...

Franca, Viamão. Viamão não era interior, mas eu morava numa área bem afastada. Mais ou menos como nesta área que estamos aqui em Itu.



Gostava?

Eu gostava. Na minha época, um vizinho, vizinho de dois quilômetros, teve um videogame, se não me engano chamava Mega Drive. A gente jogava de vez em quando. Não tinha celular. A gente saía de casa de manhã, de bicicleta, rodava a cidade, ia longe, voltava no fim da tarde, sem preocupação nenhuma. Andava a cavalo. Eu tinha dois cavalos. O pai do meu vizinho era veterinário, também tinha cavalo. A gente reunia uma gurizada para andar a cavalo. Uma época em que a gente andava de caiaque. O pai de um amigo levava a gente para o rio Gravataí. A gente levava lancha e tudo, subia o rio cinco, seis horas de caiaque, depois descia. Foi uma infância que dá saudade.



Chegou a prestar vestibular?

Fiz. Estava no Grêmio. Fiz para o IPA (Centro Universitário Metodista), Educação Física. Cursei quatro semestres, metade do curso. Depois fui emprestado para a Francana, fui para Franca. Eu me arrependo de não ter feito alguma coisa em Portugal, porque lá o ritmo de treinos e jogos era muito menor. Tu jogava no domingo ou no sábado e sempre tinha dois dias, dois dias e meio de folga, treino praticamente só pela manhã. Poderia ter feito alguma coisa lá, mas não consegui fazer nada.



E na juventude pensou em outra profissão sem ser jogador de futebol?

Não. Porque comecei muito cedo, por brincadeira, depois começou a virar sério. Naquele momento de definição, com 15 ou 16 anos, para decidir o que vai fazer, é uma época de funil no futebol. Você está passando do juvenil para o júnior, as coisas começam a ficar mais sérias. Nem tive muito tempo de dizer que não seria jogador. Claro, continuei estudando. Fui para Educação Física porque alguns jogadores um pouco mais velhos do Grêmio, o Fabiano, o Scheidt faziam. Hoje, com a cabeça de 37 anos, se eu fosse estudar alguma coisa, escolheria algo totalmente diferente da Educação Física.





Tatuagem do goleiro Fernando Prass (Foto: Diego Rodrigues / GLOBOESPORTE.COM)



tem alguma ideia do que escolheria?

Gosto muito de Direito. Minha esposa é advogada, me dá maior força, diz que me ajuda. Mas vi o que ela passou para se formar, é complicado. Mas é uma profissão que me fascina, porque é uma profissão muito ampla, te dá noções de contabilidade, de administração, uma série de coisas que outra profissão não te dá. Mas acho que dificilmente vou cursar Direito.



O mundo do futebol é fútil? De pessoas que ligam para carrões...

Discuto muito com as pessoas em relação a isso. Falam que jogador de futebol é deslumbrado, que quando ganha dinheiro muito novo vai para a noite, que quer saber de mulher e de carro, quer ostentar. O jogador de futebol é mulherengo, tem problema com bebida, com jogo, com drogas. O jogador de futebol vive num mundo fútil... Mas, cara, conheço inúmeros jornalistas que tiveram problemas com drogas, com álcool, perderam um pouco o foco pela notoriedade, pela visibilidade que têm, acabaram sem nada. Conheço advogados. Meu pai é advogado, minha esposa é advogada. Conheço juízes que tiveram a mesma situação, médicos... Não é só jogador de futebol. É que jogador de futebol tem visibilidade muito maior, é muito mais midiático. Tudo que acontece com jogador de futebol você fica sabendo. Com médico, engenheiro, com fisioterapeuta, tu não fica sabendo. E tem outra coisa: o futebol no Brasil é uma coisa mágica. A gente tem que entender nossa responsabilidade. Jogador de futebol é considerado super-herói, não pode ter problema com droga, não pode ter caso extraconjugal, porque é recriminado de uma maneira absurda. Não pode ter problema com dinheiro, com noite. Enquanto outros profissionais, que também teoricamente não poderiam ter esse problema... Médicos que operam bêbados, advogados que fazem seu trabalho sob efeito de drogas... Só que jogador de futebol é tido como super-herói e tem que ser perfeito. E não vai ser. Mas é claro que a gente tem papel de passar imagem para a sociedade, de ser exemplo, principalmente para os jovens.



Você foi um dos cabeças do Bom Senso, suas entrevistas são sempre muito boas. Foi adquirindo isso com o passar do tempo ou sempre foi muito incisivo, de opiniões fortes? Isso vem de berço?

Eu adquiri isso com o tempo. Eu sempre fui um cara de falar pouco e observar muito. Fui observando muitas coisas. Algumas pessoas acham que às vezes fico em cima do muro, mas é que não gosto de falar o que não sei. A pior coisa é tu falar de uma situação que não sabe. Uma das coisas que me instigam a conversar e estudar é isso: poder, quando questionado, falar alguma coisa que não seja muita besteira. Claro que, não sendo da área, pode acabar falando alguma coisa que um especialista vai achar que é uma colocação infeliz. Acho importante ter opinião. Às vezes, por ter opinião, vai ter desgaste maior, é óbvio. A pessoa não pode ter medo de se posicionar. Não sei como é o ditado certinho, mas, em momentos de crise, ficar indiferente ou inerte é maior covardia que tem. Tem que se posicionar de um lado ou de outro. Se ficar em cima do muro, acaba podendo ser vinculado a um lado que não é o seu. Acontece muito isso. As pessoas vão às passeatas, um milhão de pessoas, cobrando dos corruptos, só que se esquecem de praticar no dia a dia. Noventa e poucos por cento dessas pessoas, se for preciso dar uma aceleradinha num alvará, vão lá e trocam um favor. É parado numa blitz, dá dinheiro para o agente de trânsito, para o policial. Só que acha que é diferente. Ué? O cara que rouba um real é ladrão igual ao cara que rouba um milhão. Minha opinião. O crime e o grau do criminoso não estão no valor que ele rouba, estão na atitude dele.



Tem um vídeo do Palmeiras, depois do título da Copa do Brasil, êm que você raspa o cabelo, e seu filho comenta que ficou horroroso.

"Ficou uma merda", ele fala... (risos)




Você é vaidoso?

Ah, eu sou vaidoso. Mas se fosse muito não teria raspado, teria feito outra promessa. Minha mulher ficou indignada, perguntou "Por que tu não prometeu outra coisa?". Se eu prometer uma coisa que não seja difícil de fazer, não vale de nada. Quis fazer uma promessa que fosse realmente complicada para cumprir.





Fernando Prass raspou a cabeça ao conquistar a Copa do Brasil (Foto: Rodrigo Faber)



Mas não só com o cabelo. É vaidoso também no modo de se vestir?

Não sou largado, mas não sou vaidoso como o Cristiano Ronaldo, por exemplo. O Cristiano Ronaldo é um cara muito vaidoso. Eu não sou nem perto disso.



Na premiação da Bola de Ouro, você teria se vestido como o Neymar?

Não (risos), mais parecido com o Messi. Mais tranquilo.



Qual o dia mais feliz e o dia mais triste da sua vida?

O dia mais feliz foi quando meus filhos nasceram, sem dúvida nenhuma. Foi em 28 de outubro de 2007. É... O dia mais triste? Ah, cara, sei lá. (pausa) É difícil falar. Eu nem vou querer falar nisso porque também vai trazer a lembrança das pessoas, são pessoas de quem eu gosto, e eu não gostaria que sofressem.



Tem algum filme que te marcou?

Vários, mas sou ruim para nome de filme. "A Culpa é das Estrelas", que a menina tem câncer. Tem um chamado "Já Estou Com Saudades"... "Tempo de Recomeçar" foi o que mais me marcou. O cara é separado da esposa, o filho passa as férias escolares com ele. O filho é revoltado, eles não se dão nada bem, o relacionamento é muito conturbado, e no final eles entendem o porquê daquelas situações todas. Sempre por motivos de saúde. As pessoas perdem alguém de quem gostam, param, pensam, veem que poderiam ter feito muita coisa diferente e se arrependem, mas é tarde demais, não tem como voltar atrás. Uma coisa que mexe muito comigo é isso. Procuro sempre fazer as coisas para não me arrepender depois, quando as coisas não têm mais volta, não têm mais conserto. Depois que tem filho, a gente fica um pouco mais emotivo, mais ligado nessas coisas.



Você é emotivo?

Sou, sou. Acho que sou. Para o meu conceito, sou bem emotivo.

Música: você pega para ouvir sozinho?

Sim, principalmente em concentração. Gosto de muita coisa, sou muito eclético. Não gosto de poucas coisas: funk, rap, música eletrônica.

Músicas do Rafael Marques no vestiário...

É que o Rafa bota aquelas que ele gosta, mas também tem que ir de acordo com o gosto do cliente, toca de tudo também.



Tem alguma banda preferida?

Gosto de muitas bandas. Gosto de bandas nacionais, como Legião Urbana, Paralamas, Barão Vermelho. Bandas do Rio Grande do Sul também, como Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós, Cidadão Quem. Mas não vi três shows que gostaria de ver: Rolling Stones, Oasis e U2.



Os Stones vão tocar no Morumbi...

É. Se fosse no Allianz, dava para ir tranquilo (risos).



Você disse que jogador de futebol é super-herói no Brasil. Você tem um?

Não.



Voltando aos temas machismo e feminismo, numa pergunta que talvez você não tenha entendido bem. É muito diferente educar um menino e uma menina?

Acho que não. Não pode ser diferente até por isso mesmo. Antigamente, se educava muito diferente, por isso é que ficou esse machismo. Minha mãe e meu pai são de uma geração em que tinha, mas começou a mudar isso. Minha mãe trabalhava desde cedo. Antes, era impensável isso para uma mulher. Com 15, 16 anos ela já trabalhava. Para um homem, era normal. Acho que meninos e meninas têm que ser criados igualmente para que não tenha essa distinção. É claro que algumas coisas não têm como. São diferentes para homem e mulher, vão ser tratadas de forma diferente. Mas a essência, os valores, têm de ser os mesmos.





Fernando Prass com o filho Caio à época de Vasco (Foto: Marcio Iannacca / Globoesporte.com)



Por falar em valores, em ano de eleição qual o principal valor que um político deve ter?

Não é só o político, é a pessoa. Ser inteligente ou ser burra, ser bonita ou ser feia é secundário. O que importa é o caráter. Hoje em dia, é o mais difícil de se avaliar. Eu conheço, tenho relacionamento com políticos. E vou falar: vejo em muitos, não em sua totalidade, um personagem. A maior falsidade, a maior besteira que existe, para mim, é aquela propaganda eleitoral gratuita. É um circo. Aquilo é absurdo. Se confrontar os candidatos que ganharam – vereador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito, presidente – e as promessas que eles fizeram durante o governo, é absurdo. Ridículo. Tinha que ter alguma situação em que pudesse punir ou afastar as pessoas que não seguissem, porque as pessoas, depois de eleitas, se prostituem de uma maneira que chega a ser vergonhosa. O povo brasileiro é tão pacífico e tranquilo, que as coisas passam batidas. Parece que ninguém nota nada.



Você tem parentes políticos?

Parentes, não. Tenho pessoas próximas da minha família que trabalharam ou trabalham no meio da política. Minha mãe foi funcionária da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul por muitos anos. Eu vivi de pequeno lá dentro também, porque minha escola era do lado, ia para lá, esperava ela terminar. Às vezes, ela trabalhava até às 10h da noite, e eu ficava lá. Tenho vários conhecidos que trabalham nesse meio.



Você se vê em algum cargo político ou no futuro?

Muito difícil. Não sei se conseguiria viver nesse meio. Vai um pouco contra o que eu falo. Se falo que temos que ter políticos honestos, eu deveria dar o primeiro passo e tentar participar dessa mudança. Mas dificilmente me vejo indo numa direção dessa.









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