Fred raspa o bigode e sonha com nova fase com a camisa da Seleção (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
A primeira história tem como enredo um gol em quatro jogos. Pressão de todos os lados. Deixa ou tira o bigode? A outra fala de uma lesão no joelho.
Possibilidade de ficar fora da final de um Mundial. E o corte à la Cascão. Duas trajetórias distintas, em anos diferentes, mas dentro de uma mesma competição: a Copa do Mundo. O objetivo era o mesmo: tirar o foco de uma fase irregular ou da dúvida de estar ou não em campo num momento decisivo da seleção brasileira.
E como esse panorama que as histórias de Ronaldo, na Copa de 2002, e a de Fred, em 2014, se cruzam horas antes do confronto entre Brasil e Colômbia, nesta sexta-feira, às 17h (de Brasília), no Castelão, em Fortaleza, pelas quartas de final da Copa do Mundo.
A mudança de visual dos dois jogadores durante a disputa de um Mundial não aconteceu por acaso. Na Coreia do Sul e no Japão, sob a batuta do mesmo Luiz Felipe Scolari, Ronaldo se transformou em dúvida para a semifinal da Copa diante da Turquia.
Dores no joelho o incomodavam e atraíam os olhares atentos da imprensa. Mas como os holofotes estavam voltados para o jogador, que em 1998 havia sofrido uma convulsão horas antes da final e deixou todos preocupados, o Fenômeno quis mudar, encher o noticiário com outra notícia. E atingiu em cheio o objetivo.
- Foi exatamente isso. Eu estava cortando meu próprio cabelo, como eu sempre faço, e deixei o "cascão". Mostrei para os jogadores, perguntei o que eles achavam e fui muito sacaneado. Eu achei que aquilo realmente pudesse desviar a atenção. Dito e feito. Cheguei no treino no dia seguinte e ninguém falou da lesão - contou o Fenômeno.
Em 2014, a história se repete. Mas não é uma lesão que pode tirar um camisa 9 do time e sim a falta de gols. Fred chegou ao torneio tarimbado por suas atuações na Copa das Confederações de 2013. Fez cinco gols em cinco jogos.
No último amistoso antes da Copa, diante da Sérvia, mais uma bola na rede. Porém, após quatro partidas, ele só deixou sua marca uma vez, no triunfo por 4 a 1 sobre Camarões, no último jogo da fase de grupos (assista ao lance no vídeo acima). Mesmo assim foi questionado.
O que fazer? Deixar o bigode e homenagear o pai, seu Juarez. A má fase saiu de cena. Porém, foi só o atacante passar em branco diante do Chile, no último sábado, e ter atuação apagada para as críticas reaparecerem. Uma nova solução: raspar o bigode. E foi assim que o goleador surgiu na última atividades da Seleção na Granja Comary, em Teresópolis.
- Tenho certa maturidade e tenho que manter a calma, tentar explorar ao máximo minhas características e o que posso fazer. Não adianta eu querer sair muito da área e driblar três porque não vai adiantar.
A gente também lê, ouve o que acontece fora, e fica essa briga: "O Fred não pega na bola". E eu tenho que procurar participar mais. Contra equipes muito fechadas, não tem como eu sair muito. Se eu sair para devolver para o Luiz Gustavo, não vai adiantar. É um jogo psicológico, tenho que entender. E o grupo todo, Felipão, Parreira, eles têm me ajudado muito - analisou o atacante.
Mas as coincidências dos artilheiros da Seleção não param por aí. Se Ronaldo e Fred tiveram a chance de atuar juntos apenas em uma competição, no Mundial de 2006, disputado na Alemanha, a carreira dos dois tem trajetórias bem semelhantes.
Apesar de terem iniciado a carreira em clubes menores (enquanto o Fenômeno iniciou a carreira no São Cristóvão, o goleador do Fluminense deu os primeiros passos no América-MG), ambos despontaram para o futebol após passagens marcantes pelo Cruzeiro.
Ronaldo atuou no clube mineiro em 46 oportunidades e marcou 44 gols (média de 0,95). Na Raposa, Fred não ficou muito atrás.
Foram 71 partidas e 56 gols (média de 0,78). Do Cruzeiro, um saiu para o PSV Eidhoven e o outro para o Lyon. O Fenômeno ganhou três Bolas de Ouro, passou por Barcelona, Real Madrid, Inter de Milão e Milan antes de encerrar a carreira no Corinthians. Por outro lado, da tímida equipe francesa, o atual camisa 9 da Seleção se transferiu para o Fluminense e lá que tem garantido conquistas e bolas na rede.
Para o Fenômeno, o atual camisa 9 da Seleção ainda está devendo na Copa do Mundo.
- Conheço bem a posição dele, é difícil, muitas vezes jogamos isolados. De qualquer maneira, é claro que o Fred tem mais futebol para dar do que tem apresentado até agora. A cobrança sobre ele está muito forte, e não sei o que o Felipão vai fazer - disse.
Mas uma outra curiosidade liga o Fenômeno a Fred. E não está dentro das quatro linhas. Os dois jogadores moram no mesmo prédio no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro. E no que depender da torcida de Ronaldo e dos bons fluidos, o atual camisa 9 da Seleção tem tudo para voltar a marcar na Copa do Mundo.
- Todos esperam uma bela apresentação da Seleção. E também esperamos os gols do Fred. Queremos vê-lo feliz em campo.
Nesta sexta-feira, Fred terá a oportunidade de mostrar ao que veio no Mundial.
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