Barbosa sofreu por uma vida inteira por suposta falha na final da Copa de 1950. Zico é lembrado quando se fala em pênaltis perdidos. Dunga virou nome de uma 'era' que primava pelo insucesso até ganhar o título em 1994. Roberto Carlos levou todas as pancadas possíveis por um momento de distração ao arrumar o meião enquanto Henry fazia o gol que eliminava os brasileiros em 2006. Julio Cesar foi na mesma toada ao errar um soco e ter que buscar a bola no fundo da rede em 2010. Todos, absolutamente todos, estavam lá quando mais precisamos, deram a cara a tapa, foram soldados numa guerra totalmente imprevisível. Sim, o futebol cria heróis e vilões com uma rapidez ímpar. Mas dar nome às derrotas é de uma injustiça atroz. Isso é o mais brasileiro e egoísta dos defeitos.
Na Copa do Mundo do Brasil, neste 2014, lembrou-se muito de Maracanazo, de pressão, de emoção. Mas esqueceu-se uma coisa: não nos preparamos para a derrota. Pois ela está posta à mesa da sua forma mais amarga e azeda. Sim, caímos mal, muito mal na semifinal diante de uma Alemanha fria, talentosa e senhora de si. A Seleção foi até onde pôde. Por isso não devemos buscar vilões. É hora de entender o contexto e agradecer esse grupo por tudo que proporcionou, mesmo que o grand finale tenha sido o pior possível. Se era pra perder, que fosse agora. Imaginem um novo Maracanazo. Seria muito pior.
Reforço, reitero e destaco: dizer que este ou aquele jogador não servia para vestir a camisa da Seleção é de um oportunismo incrível: quando a convocação saiu, a aprovação foi quase unânime. Mas futebol é uma guerra imprevisível. Falhar é do jogo. O que não podemos admitir é que uma Seleção sinta tanto um gol e veja tudo desmoronar como um castelo de areia. O jogo brasileiro virou pó em minutos, com a mesma velocidade que as lágrimas jorraram de torcedores incrédulos e estupefatos.
Que esta derrota seja acima de tudo uma lição. Qual é o projeto do futebol brasileiro? Existe? Formamos jogadores de forma correta? Onde fica a parte psicológica? Por que cavamos tantas faltas? Por que só ganhamos quando temos foras-de-série? Por que a Seleção desfalca os times brasileiros no meio das competições com suas convocações? Por que gastamos tanto tempo com Estaduais quando nossos jogadores poderiam ter uma preparação mais adequada e jogos de melhor nível? Por que o Campeonato Brasileiro, nosso principal produto, é tão mal tratado? Por que nossos clubes não conseguem pagar salários em dia? Por que os clubes brasileiros suam sangue para melhorar a estrutura ao passo que os alemães constroem um centro de treinamento no país da Copa para uma competição de um mês? Por que tantos jogadores brasileiros preferem sair para o exterior antes de completar a maioridade?
"Nunca vi isso", escreveu meu pai numa mensagem que chegou ao meu celular como um banho de realidade. Nem eu. Uma dor 'hexagerada'. Não merecíamos isso. Mas já que a humilhação foi posta à mesa, nos resta a digestão em busca de dias melhores. Foi SETE a um. O maior vexame da história da Seleção. Mas os vilões do futebol brasileiro, acredite, estão bem longe do campo.
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