A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) realiza, nesta quinta-feira (27), um amplo encontro com clubes, confederações e autoridades para discutir os casos de racismo em competições sul-americanas. O caso envolvendo o brasileiro Luighi , do Palmeiras , em jogo contra o Cerro Porteño -PAR, foi um dos estopins para isso. Na ocasião, a entidade máxima do futebol no continente multou o clube do Paraguai em US$ 50 mil (cerca de R$ 290 mil ) pelo ocorrido em jogo da Libertadores sub-20, algo que revoltou o Verdão e também outras equipes do Brasil, que se uniram para cobrar a Conferedação por posturas mais duras.
Em entrevista exclusiva à ESPN, contudo, o presidente do Nacional-URU, Alejandro Balbi, ofereceu uma outra visão para o valor cobrado dos paraguaios. Embora o valor pareça pequeno para a maioria dos times do Brasil, segundo ele, a realidade do restante do continente é diferente. "A penalidade da Conmebol é muito forte. Eu sei que o futebol brasileiro tem muito mais dinheiro que o uruguaio, e de repente o Inter, o Botafogo, o Flamengo podem pagar uma multa de centenas de milhares de dólares. Mas nós, uruguaios, somos pobres. A multa é muito dinheiro para nós", afirmou. "Para vocês, sim, porque aí o direito da televisão, o patrocínio dos times grandes gera muito dinheiro. O Uruguai é muito pequeno, somos três milhões de habitantes, dois times grandes somente, Nacional e Peñarol. É muito, muito dinheiro para nós. Temos poucos torcedores de futebol fora do Nacional e do Peñarol. Os outros times são muito pequenos. É muito, muito dinheiro para nós", argumentou. Sobre os casos de racismo, Balbi também é favorável a punições duras, mas deixou claro ser contra a uma sugestão que foi feita pelo São Paulo , por exemplo, incluindo perda de pontos em competições. "O racismo, sim, é um problema muito forte no Brasil. Eu tenho família e amigos brasileiros e sei como é grave. Mas, às vezes, vejo que certos dirigentes ou juízes exageram e generalizam casos isolados", observou. "Se alguém comete um ato racista, que seja punido. Mas não podemos generalizar e culpar um clube inteiro por uma ação de um único torcedor. Racismo e xenofobia são problemas muito graves, e estamos juntos nessa luta", acrescentou, antes de comentar especificamente sobre a possível perda de pontos. "Acho muito exagerado. Você não pode responsabilizar toda uma instituição pelo ato de uma única pessoa. O torcedor que cometer racismo deve ser punido severamente, mas tirar pontos de um time não me parece justo", avaliou. Além dos casos de racismo, os presidentes de outros clubes sul-americanos querem colocar em pauta no encontro da Conmebol também casos de violência policial sofridos por torcedores no Brasil. "Isso nos preocupa muito, assim como preocupa os argentinos. Eu conversei com o presidente do River (Plate), do Racing e também com dirigentes de clubes chilenos e paraguaios. A polícia brasileira, muitas vezes, é muito repressiva", reclamou. "Eu não estou defendendo quem comete delitos nos estádios. Se uma pessoa comete um crime, deve ser levada ao juiz ou promotor. O problema é que, muitas vezes, a polícia não separa a família da torcida organizada", continuou. "Quando a torcida do Nacional vai ao Brasil, muitos torcedores viajam com suas esposas e filhos. E quando a polícia reprime, arrasta todos juntos. Muitas vezes, mulheres e crianças acabam feridas. Isso nos preocupa muito", relatou. Balbi citou inclusive um caso ocorrido na Libertadores do ano passado para ilustrar seu ponto. "Vou dar um exemplo: no ano passado, jogamos no Morumbi e houve o caso lamentável do atleta Juan Izquierdo, que infelizmente faleceu. Mas, ao mesmo tempo, a cônsul uruguaia em São Paulo me ligava porque havia muitos torcedores do Nacional detidos e precisando pagar fiança", lembrou. "Nem todos eram torcedores violentos. Muitos eram apenas torcedores comuns que estavam no meio da confusão. Isso acontece frequentemente no Brasil, e nos preocupa", finalizou.