“Lutei a minha vida inteira para chegar à Copa do Mundo”. A frase, dita pelo técnico Jorge Luis Pinto logo após a classificação da Costa Rica para o Mundial do Brasil, resume o que representa o feito para este colombiano de 61 anos.
Não à toa, fez questão de acompanhar os detalhes do processo que culminou na escolha de Santos como cidade-base dos “Ticos”. E treinar na Vila Belmiro não foi o único fator levado em conta pelo comandante – que foi decisivo na seleção da “casa”
costarriquenha.
O cuidado com a preparação é tanto que ele fez questão de visitar, um a um, os quartos do hotel onde o time ficará na cidade, o Mendes Plaza, antes bater o martelo.
O GloboEsporte.com ficou dois dias no local onde Jorge Luis e seus comandados passarão, ao menos, as duas próximas semanas – a começar pelo dia 9, quando a delegação do país chega a Santos.
E apesar de o hotel ficar a uma quadra da Praça Independência, no coração do Gonzaga, um dos bairros mais agitados da cidade, o silêncio do apartamento chama atenção.
Buzinas, motores, gritarias, chuva... Sons anulados pelo isolamento acústico. Se uma das prerrogativas era que os jogadores tivessem um ambiente tranquilo para concentração e repouso, o treinador não terá do que reclamar.
Os costarriquenhos são os azarões do “grupo da morte” do Mundial, também formado por Uruguai, Itália e Inglaterra. O que não significa que a seleção esteja no Brasil a passeio.
Pelo contrário. O foco na Copa é total. Tanto que Jorge Luis pediu que os jogadores ficassem todos no mesmo andar que ele (quinto), para ficar de olho nos atletas.
O piso terá acesso restrito e seguranças da Federação Costarriquenha de Futebol (Fedefutbol). Prova de que o técnico está levando bem a sério a vinda dos “Ticos” ao país.
Exigências? Poucas, especialmente se comparadas às de seleções como Portugal ou França.
As camas dos quartos em que dormirão os jogadores foram trocadas por modelos um pouco menores, com 1,30 metro de largura – não que as antecessoras, as “king size” (1,58m de largura), fossem ruins, tanto que serão aproveitadas por comissão técnica e dirigentes.
Além do salão de jogos, a sala “kids”, no mesmo andar (o sétimo), dará lugar a mesas de carteado, pingue-pongue e pebolim – ou seja, sem os tão populares videogames.
Talvez a exigência mais inusitada seja mesmo a troca do aparelho de televisão no quarto de Jorge Luis por um de 50 polegadas. Tudo para que possa acompanhar todos os detalhes dos adversários da seleção.
O que faz sentido. O colombiano é apaixonado por futebol e tem, em seu site oficial, um setor onde faz análises táticas de vários jogos – dentre eles a vitória do Brasil sobre a Costa Rica na Copa de 2002, por 5 a 2.
PRIVACIDADE E “GALLO PINTO”
O presidente da Federação Costarriquenha de Futebol (Fedefutbol), Eduardo Li, será o primeiro chegar a Santos, na quarta-feira, acompanhado do secretário geral, Rafael Vargas, e de parte da comissão técnica.
E o dirigente terá à disposição a suíte presidencial do hotel, no mesmo andar onde estarão o técnico e os jogadores. Li não terá do que reclamar: banheira de hidromassagem, quarto com uma cama bem espaçosa e sala com televisão e sofás. Bom proveito, presidente...
A chegada antecipada dos dirigentes é alinhar os últimos detalhes para recepção dos visitantes, que serão distribuídos em duas torres do complexo.
Dos 240 quartos disponíveis, 210 estarão com a Costa Rica – os outros 30 fazem parte de pacotes empresariais. Na torre Plaza (que dá nome ao hotel), a dos apartamentos de luxo, ficarão atletas e dirigentes. Já na Panorama estarão familiares e convidados (cerca de 260).
Um portão no sétimo andar, separando o “First Bar” (a dos salões para jogos) e a área da piscina (com a sala Diamante, que terá a transmissão dos jogos da seleção local) será o limite entre os espaços.
Transitar de um lado para outro, só estando devidamente autorizado. Tudo em prol da privacidade.
– O acesso tanto ao elevador como às escadarias será monitorado. As áreas de refeição e reunião também terão acesso limitado. A privacidade será total. Queremos deixar os atletas tranquilos para que possam se concentrar nos jogos – explica o coordenador do Mendes Plaza, Aguinaldo Diesel.
As refeições de jogadores e dirigentes também serão feitas separadamente de convidados e familiares, no salão Cristal, no oitavo andar – os demais usarão o restaurante central, o The Garden.
Como é de se esperar, os atletas terão um cardápio específico. Mas, se não terão os “mimos” de Bryan Ruiz, Joel Campbell, Keylor Navas e cia., os demais visitantes poderão aproveitar uma gastronomia bem brasileira – além do “gallo pinto”, combinação de arroz e feijão que é consumida no país latino.
- Vamos elaborar o dia a dia, apresentar a eles a culinária do Brasil, com feijoada, caldeirada, um cardápio caiçara, do litoral, para que não fique repetitivo – garante Diesel.
APÓS OS ASTROS, É A VEZ DOS “TICOS”
A sala “fitness”, com esteiras, sauna e spa também está à disposição, bem como a piscina. Uma estrutura, porém, que deve ser mais aproveitada pelos convidados do que pelos próprios atletas, já que a maior parte dos trabalhos físicos será feito na Vila.
Do hotel até o estádio, sem trânsito, o trajeto dura 15 minutos. Para chegar lá – assim como quando se locomover para o aeroporto, em São Paulo – o ônibus da Costa Rica terá o suporte de batedores da Polícia Militar.
É o momento que a segurança será colocada a prova, já que é quando a seleção estará mais perto de torcedores e curiosos durante a estadia. Diesel, porém, cita experiências recebendo clubes tradicionais do Brasil e não crê em um assédio tão grande.
– A gente sabe que a movimentação de idas e retornos dos treinos e o fato de ser uma Copa vão chamar atenção. Mas estamos acostumados.
Acreditamos até que será mais tranquilo, pois na seleção (da Costa Rica) não há tantos jogadores conhecidos por aqui. Mas esperamos, sim, muitos curiosos – diz.
Dizer que estão “acostumados” não é força de expressão. Ronaldinho Gaúcho, Fred, Clarence Seedorf e Ronaldo estão entre os hospedes ilustres que já levaram multidões à porta do hotel, além de atores como Alexandre Borges e Caco Ciocler e músicos como Naldo, Gilberto Gil e Michel Teló.
Até por isso, os 200 funcionários que estarão em ação na Copa (25% a mais que o habitual) já sabem: fotos e autógrafos, não.
A presença corriqueira de estrelas, porém, não minimiza a visita da Costa Rica. Muito pelo contrário. No hotel, sempre que o assunto conversado com garçons, camareiras e recepcionistas é o Mundial, é difícil segurar a expectativa. Com Diesel, que está no hotel desde 2006, não é diferente.
– Estamos muito felizes de participar desse evento. Nasci nos anos 70, então acredito que é um acontecimento único para a minha geração, ter uma Copa aqui no Brasil. Ficará o legado para o hotel e os funcionários, além do aprendizado de ter recebido uma seleção – conclui.
Jorge Luis Pinto foi decisivo na escolha de Santos como base durante a Copa do Mundo no Brasil (Foto: REUTERS)
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